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Lula boxeador: "olha aqui Dilma o que se faz com os tucanos". | Ricardo Stuckert/Presidência
Lula boxeador: "olha aqui Dilma o que se faz com os tucanos".| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

Opinião

Papel da imprensa é fiscalizar

Rosana Félix, repórter de Vida Pública.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ressentido pelo fato de a mídia não ter embarcado no clima de comício da inauguração de um hospital na Baixa Fluminense, no domingo, na qual a protagonista foi a pré-candidata Dilma Rousseff. Ele diz que a imprensa prefere noticiar a desgraça. Isso não é verdade.

Os meios de comunicação sérios não têm preferências. Têm é a obrigação de informar a sociedade e de fiscalizar o poder público. E é isso o que foi feito. A imprensa noticiou um ato político – organizado pelo Palácio do Planalto e pela base aliada de Lula no Rio de Janeiro – e fez as contextualizações necessárias, como o fato de o governo federal não ter investido nada na construção do hospital, que custou R$ 40 milhões. A pura divulgação da inauguração da obra deve ser feita por meio de publicidade, e não pela imprensa.

Em momento oportuno, é de se esperar que a mídia faça reportagem específica sobre a estrutura inaugurada, como disse o presidente. Mas isso só será possível após o hospital começar a funcionar. Porque, apesar do grande evento realizado no domingo, a população só começará a ser atendida no dia 22. A inauguração, portanto, poderia ocorrer nas duas próximas semanas. Mas talvez a agenda pré-eleitoral não permitisse.

Rio de Janeiro - O presidente Lula reclamou on­­­tem da imprensa, apenas quatro dias depois de a executiva nacional do PT ter redigido um documento com críticas à mídia. Durante a inauguração de um complexo esportivo na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Lula criticou as reportagens, publicadas ontem em vários jornais do país, sobre a participação da ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Pre­­­sidência, Dilma Rousseff, na inauguração de um hospital da Baixada Fluminense que não teve investimentos do governo federal – o que teria dado a conotação de um evento eleitoral.

"A imprensa brasileira, por hábito ou desvio de comportamento, não fala de obra inaugurada. O que é bom, não presta. Só serve desgraça", afirmou Lula. "Estou perplexo de ter visto em um jornal que deram (sic) mais destaque à visita da dona Dilma a uma obra que não é do governo federal do que à importância do Hospital da Mulher", criticou. "Quando a pessoa, em vez de dar a informação, se preocupa em politizar de forma desinformada, e eu diria até de certo baixo nível, realmente o povo fica sem saber o que está acon­­tecendo."

Lula ressaltou ainda que foram as parcerias entre a União e estado do Rio de Janeiro que permitiram a construção do Hospital da Mu­­­lher Heloneida Studart – o motivo da reclamação presidencial.

Dilma, que estava com Lula, disse que a União participará da manutenção do hospital. "Tem sim (participação do governo federal). Até porque nós sabemos que o que é muito caro de fazer é manter o hospital funcionado. É pagar os médicos, garantir todo o atendimento, garantir os exames do laboratório, o que a gente chama de custeio", afirmou a ministra.

Em nota, o Ministério da Saúde e a Casa Civil informaram que a União vai arcar com R$ 50 milhões do custeio do hospital, em parceria com o governo do Rio. Apesar disso, o governo federal reconheceu que foi o estado do Rio quem bancou sozinho a construção do hospital, por R$ 40 milhões.

As críticas de Lula à imprensa ocorreram apenas alguns dias após a direção nacional do PT ter redigido, na última quinta-feira, uma nota condenando o que chama de "aliança da oposição neoliberal com setores da mídia de direita conservadora". A nota foi interpretada como uma reação às denúncias de que o ex-ministro José Dirceu teria feito lobby para favorecer uma empresa privada no futuro Plano Nacional de Banda Larga. Outra notícia que desagradou ao PT foi a da suposta participação do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, no escândalo do mensalão do PT. Pi­­mentel será o coordenador da campanha de Dilma.

No fim de semana, outra de­­­­nún­­­cia foi publicada pela imprensa: a de que o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, desviou recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo para financiar a campanha de Lula à Presidência, em 2002 (leia mais sobre esse caso na reportagem da página ao lado).

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