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Mais magro e com tornozeleira eletrônica, Pessoa retoma a vida

Ricardo Pessoa, 63 anos: quinze quilos mais magro e adeus ao vício do cigarro. | Zanone Fraissat/Folhapress
Ricardo Pessoa, 63 anos: quinze quilos mais magro e adeus ao vício do cigarro. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

Único dono de empreiteira denunciado na Lava Jato que foi autorizado pela Justiça a voltar a trabalhar, e na própria empresa, a UTC, o empresário Ricardo Pessoa deseja ser esquecido. Acusado de coordenar a ação de participantes do cartel da Petrobras e autor de delação premiada cujo teor integral ainda está sob sigilo, ele carrega na perna direita uma tornozeleira eletrônica que apita se sair da área onde está autorizado a circular, em São Paulo, entre o apartamento em edifício nos Jardins, e a sede da companhia, na Zona Sul da capital. Quando a bateria descarrega, o equipamento também vibra.

Se à primeira vista a condição do empresário parece um martírio, na prática Pessoa dribla inconveniências para tentar voltar à vida normal. É uma rotina de “sorte”, na comparação com a dos outros executivos presos na Lava Jato – parte ainda vive atrás das grades, e outra parte está proibida de pensar no antigo ofício, em regime de prisão domiciliar. Já foi autorizado a visitar o pai de 91 anos, em Salvador, e também a frequentar filiais da sua construtora pelo país.

Voltar a trabalhar na empresa que criou foi uma das cláusulas negociadas em sua delação premiada, negociada com o Supremo Tribunal Federal (STF) quando já estava em liberdade.

Há pouco mais de um mês, passou a ocupar o cargo de vice-presidente do Conselho de Administração da firma, que comprou da Construtora OAS nos anos 90 e transformaria, nos anos seguintes, em uma importante fornecedora da Petrobras, chegando a ter mais de 26 mil funcionários.

Hoje a empresa tem menos da metade – 12 mil pessoas– em função da conjunção da crise econômica, com a proibição de contratar ou celebrar aditivos com a Petrobras, e a inclusão dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na ficha corrida do dono da firma.

No período em que esteve fora, deixou a gestão da empresa a cargo dos dois sócios. Agora, cuida diretamente da reestruturação da dívida de R$ 1,2 bilhão da UTC com bancos e da implantação do programa de compliance (conformidade de conduta) na empresa. Contratou a mesma consultoria que cuidou da dívida das empresas do grupo EBX, de Eike Batista.

Pessoa foi o primeiro grande empresário a contar detalhes do esquema de corrupção que envolveu concorrentes e parceiros de negócios na maior empresa do país, por isso obteve benefícios e promessa de menor pena em todas as ações em que for processado. O valor acertado por ele de devolução aos cofres públicos ainda é um segredo.

Ao ser preso, em novembro do ano passado, durante a sétima fase da Lava Jato (a operação já contabiliza 18 fases), Pessoa era fumante compulsivo. O chiclete de nicotina levado por advogados e pela família virou item de primeira necessidade no cárcere e também agora, em liberdade – pessoas próximas garantem que não voltou a fumar. Estaria, também, buscado uma vida mais saudável: aos 63 anos, já contabiliza quinze quilos a menos.

Quem convive com ele conta que Pessoa ainda carrega marcas do longo período na cadeia, que incluíram Natal, virada de ano e carnaval longe da família.

Hoje valoriza a convivência com as netas, mas não mudou a rotina de trabalho que inclui noites na empresa e também fins de semana. Advogados, amigos e família fecharam pacto para preservá-lo.

“Quanto menos meu cliente aparecer na imprensa, melhor para ele”, resume a advogada dele nos processos da Lava Jato, Ana Lúcia Penón. “Nada posso dizer sobre meu pai”, encerra uma das duas filhas, advogada especializada em direito regulatório.

Em sua delação, Pessoa detalhou ao Ministério Público uma lista de políticos que teriam recebido doações de campanha com dinheiro ilícito, tanto por meio de caixa dois quanto por meio de doações legais e contabilizadas.

Segundo funcionários, a exposição não resultou em ameaças capazes de tirar o sono do empresário, e sua segurança não precisou ser reforçada.

Ainda assim, o juiz responsável pelo acompanhamento do uso da tornozeleira eletrônica na Lava Jato, Sergio Moro, determinou que o procedimento relacionado a Pessoa ficasse à parte e sobre ele fosse decretado sigilo.

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