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Protestos

Manifestações deste domingo põem à prova a aliança para “salvar” Dilma

Presidente costurou um acordo político com Renan Calheiros para lhe garantir estabilidade. Mas o pacto pode se “esfarelar” se os protestos de rua forem expressivos

Dilma distribuiu afagos a na semana que passou. A estratégia, ao menos por ora, deu certo: ela ganhou tempo para explicar as pedaladas, que podem levar ao impeachment. | Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma distribuiu afagos a na semana que passou. A estratégia, ao menos por ora, deu certo: ela ganhou tempo para explicar as pedaladas, que podem levar ao impeachment. (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

O princípio de estabilidade alcançado pelo governo Dilma Rousseff após uma rara semana de sucesso nas articulações políticas será testado neste domingo (16) nas manifestações de rua que pedem a saída da presidente do cargo. Às vésperas dos protestos, convocados por militantes contra o PT em todo país, Dilma conseguiu escapar do paredão peemedebista no Congresso Nacional ao formar uma aliança com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Também ganhou tempo para se defender no Tribunal de Contas da União (TCU) no julgamento sobre as “pedaladas fiscais” de 2014, cujo resultado pode servir de embrião para um processo de impeachment.

Veja mapa das cidades em que os protestos estão confirmados

No xadrez da Praça dos Três Poderes, a petista agiu para isolar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que impõe derrotas constantes contra o governo desde fevereiro. Além de conseguir o socorro de Renan, escalou Lula para encabeçar uma série de reuniões para estancar o esvaziamento da base de apoio parlamentar. O tamanho dos protestos será decisivo para a consolidação da contraofensiva.

“Estamos diante da velha máxima: povo na rua mete medo nos políticos. A dúvida é saber qual será o tamanho das manifestações”, diz o líder da oposição no Senado, Alvaro Dias (PSDB). Na avaliação do paranaense, se os protestos conseguirem reunir a mesma quantidade de pessoas dos realizados em 15 de março, de nada vão adiantar os acordos de gabinete. Segundo estimativas da época, cerca de 2 milhões de pessoas foram às ruas em 212 cidades. O número, no entanto, caiu para cerca de 700 mil nas manifestações do dia 12 de abril, realizadas em pouco mais de 100 municípios.

Curitiba é um termômetro dessa evolução: 80 mil pessoas participaram do protesto de março na capital paranaense (o quarto maior do país, atrás de São Paulo, Vitória e Porto Alegre). Em abril, foram 40 mil.

Dos principais movimentos que organizam as manifestações de hoje, o Brasil Livre estima eventos em 144 cidades e o Vem Pra Rua, em 257. O primeiro captou a movimentação do governo na semana e, de última hora, trocou o lema dos atos para “Fora Dilma, e leve o Renan com você”. Para líderes de ambos movimentos, o presidente da Câmara, investigado pela Lava Jato, não é alvo.

Aliado de Cunha na Câmara e recém-nomeado relator da CPI dos Fundos de Pensão, o deputado paranaense Sérgio Souza (PMDB) concorda que a maré favorável a Dilma só para com uma presença muito expressiva nas ruas. “Aquele clima de impeachment já não existe mais.”

A avaliação é de que o jogo mudou após a decisão do TCU de conceder, na última quarta-feira (12), mais 15 dias de prazo para o governo explicar irregularidades na execução das contas de 2014. A rejeição das contas é considerado o caminho mais curto para o início de um processo de impeachment. Outro caminho defendido pela oposição para depor Dilma é o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode cassar a chapa da petista por abuso de poder nas eleições do ano passado.

Vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) avalia que a presidente criou um “colchão de estabilidade”, principalmente ao mostrar disposição de ouvir aliados. Renan, por exemplo, recebeu elogios da presidente e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo conjunto de 27 propostas (que depois se desdobraram em 43) para superar a crise econômica. “Mas é bom alertar que isso foi só um aceno. O governo não conseguiu provar para todos os aliados que está disposto a formar uma verdadeira coalizão”, cita Barros. Isso dependeria, segundo ele, de dar mais poder para a gestão dos ministérios.

Em reunião com o vice-presidente Michel Temer e senadores na quarta-feira (12), Lula admitiu que a base governista permanece esfacelada. Pelas contas, teriam sobrado 130 parlamentares fiéis a Dilma na Câmara e pouco mais de 40 no Senado. Para ele, Lula saiu da “mesmice” do ajuste fiscal ao abraçar as propostas de Renan, mas não achou uma solução definitiva para a crise com a base.

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