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Presidente  Michel Temer diz que ainda ficará um tempo na residência reservada ao vice-presidente, o Palácio do Jaburu. “Tem mais jeito de casa” | Beto Barata/PR
Presidente Michel Temer diz que ainda ficará um tempo na residência reservada ao vice-presidente, o Palácio do Jaburu. “Tem mais jeito de casa”| Foto: Beto Barata/PR

Aparentando pisar em ovos no posto de presidente da República efetivo, Michel Temer pensa em abolir o uso do retrato oficial do presidente em todas as salas e gabinetes do governo federal. Para Temer, ver sua foto pendurada provoca nele o sentimento de que já morreu. Além disso, explica, é “um exagero”, um “culto à personalidade”.

O presidente também afirmou que só pretende usar a faixa presidencial em uma ocasião: quando for entregá-la a seu sucessor. Para ele, o uso é dispensável, sinal de “soberba”. Outro símbolo da Presidência, a residência oficial, não será ocupada tão rapidamente por Temer e sua família. A ex-presidente Dilma Rousseff a desocupou na terça-feira passada, mas o presidente diz que ainda ficará um tempo na residência reservada ao vice-presidente, o Palácio do Jaburu. “Tem mais jeito de casa”, justifica.

Embora diga que “nunca conseguiu detectar” se é supersticioso, ele se recusa a sentar-se à mesa de trabalho do gabinete presidencial no Palácio do Planalto, usada diariamente por Dilma nos mais de cinco anos como presidente. Temer não mudou nada na sala usada por Dilma, mas cogita trocar os móveis em couro preto por um tom mais claro, “talvez gelo”.

A entrevista já tinha mais de uma hora e meia e o presidente ainda não tinha mencionado sequer uma vez o nome de Dilma. Só o fez quando perguntado por que evitava citar nominalmente a petista. Todas as vezes em que se referiu à antecessora, alternava dizendo o “ex-governo” ou o “governo anterior”. Em uma das poucas referências elogiosas que fez, quando afirmou que o reajuste para os servidores foi uma boa negociação porque adotou um índice abaixo da inflação, ressaltou que foi feita pelo “Estado brasileiro”.

A única pergunta que se recusou a responder foi sobre o fatiamento do processo de impeachment, que permitiu à ex-presidente manter os direitos políticos apesar da cassação do mandato.

O presidente Michel Temer recebeu os jornalistas do Globo, na manhã de sexta-feira, no Palácio do Planalto. Ele começou falando da polêmica da alta de representatividade feminina no governo. Leia a entrevista na íntegra:

Quando fui presidente da Câmara pela última vez, criei a procuradoria da mulher, por causa das deputadas, e, mais ainda, coloquei uma deputada no colégio de líderes para ter voz e voto. Depois, com esse episódio de não ter mulher no ministério, o que também não é verdadeiro, porque olha aqui: um dos fundamentos da economia brasileira é o BNDES, está lá a Maria Sílvia, a secretária do Tesouro é uma mulher. A Ana Paula é muito competente. Vejo que o Meirelles ouve muito ela, a minha chefe de gabinete, a Nara, é uma mulher. Mas isso tudo é fruto de um movimento político, não é de um movimento de gênero.

Bem no início do governo o senhor disse que não tinha compromisso com o erro. O senhor errou ao não nomear uma mulher?

Não, não errei. Acho que no processo natural, ao longo do governo, muitas mulheres poderão vir a ter ou ministério ou cargos não ministeriais. Você sabe que ministério é uma simples simbologia. Há cargos às vezes mais importantes do que ministério. Vocês sabem que eu tive sete dias para organizar o governo. Aguardei com muita discrição o que estava acontecendo na Câmara e no Senado. Quando verifiquei que a admissibilidade viria no Senado, aí saí correndo pra organizar o ministério, mas foram sete ou oito dias.

Isso significa que vai mudar muito agora?

Não, mas se vier a mudar, não é improvável que eu escolha mulheres. Convenhamos, eu atendendo a uma postulação das deputadas, que são todas minhas conhecidas e vieram me visitar um dia, disseram: “Olha Temer, queremos que você nomeie de acordo com a competência, Não é porque é mulher”. Acho importante o gênero, mas é importante o gênero aliado à competência. Você vê que as mulheres que citei tem competência reconhecida, não é nada combativo.

“Eu já disse que isso daí (aumento salarial dos ministros do STF) gera uma cascata gravíssima. Porque pega todo o Judiciário, pega outros setores da administração, pega todo o Legislativo, porque evidente que o Legislativo vai… Os telefonemas que eu recebi dos governadores foram: pelo amor de Deus, Temer, não deixa passar isso.”

Mas a escolha da Grace (Mendonça, nova ministra da Advocacia Geral da União) não teve esse componente?

Não, porque naturalmente ela era a segunda lá. Ela é que faz todo o processo junto ao Supremo. E a função do AGU (Advogado Geral da União) é exatamente manter contato com o Supremo. Ela, por delegação, já vinha há muito tempo fazendo esse papel junto ao Supremo, e é muito enaltecida pelo Supremo, enaltecida pela classe jurídica. De modo que ela foi escolhida com muita naturalidade, ela seria a substituta, primeiro ponto. Segundo ponto, em face de sua competência. E terceiro ponto, é claro, que sendo mulher, ajuda nessa história do gênero.

E o sr pretende fazer outros ajustes na equipe?

Ainda não estou pensando não. Vou esperar um pouco, vamos ver o desenvolvimento.

Hoje, qual a avaliação que o senhor faz da equipe?

Muito positiva, de todo o ministério. Você vê, nós conseguimos montar uma equipe econômica da melhor suposição. Não há uma crítica à equipe econômica. Nós montamos uma equipe nas relações exteriores que está fazendo aquilo que nós conversamos logo quando conversei com o Serra: universalizando as relações do país. Montamos uma equipe política, convenhamos, também muito competente. Terceiro, colocamos alguns mais jovens, mas muito experientes, nos ministérios de Minas e Energia e de Cidades, que tem surpreendido muito positivamente. Não a mim só, mas a todos os setores. Então, acho que nós acertamos nos ministérios, até talvez por coincidência, porque disse que tive sete a oito dias para organizar os ministérios. Por outro lado, devo registrar, que nós tivemos uma atuação junto ao Congresso muito positiva. Vocês vejam que ontem nós encerramos um ciclo. O Senado aprovou as duas medidas provisórias faltantes, promulgou a DRU (Desvinculação de Receitas da União). Eu não contabilizo ainda, pelo menos o governo não contabiliza, nenhuma derrota no Congresso, só vitórias desde o primeiro momento. Mesmo naquele período mais tumultuado, em que não havia praticamente presidente, nós tivemos, pela atuação dos líderes e pelas várias reuniões que fizemos, várias vitórias no Congresso. Por uma razão, de vez em quando dizem: você está fazendo um governo semiparlamentarista. Não é que eu esteja fazendo um governo semiparlamentarista. Eu sou um sujeito que lê a Constituição. E quando você lê a Constituição, você vê que o Executivo não é o titular de todo o governo.

O Executivo é o promotor de medidas conducentes a governar, mas elas passam pelo Legislativo. Então muitas e muitas vezes você não quer que passe pelo Legislativo para que o Legislativo nada possa fazer ou nada possa negociar. Eu continuo na tese de que na democracia é assim: você tem as medidas do Executivo, que passam pelo Legislativo, você faz ajustamentos com o Legislativo, às vezes acolhe até propostas que o Legislativo faz. Eu acho que, por causa disso, acabamos tendo boa repercussão nessa interlocução Executivo-Legislativo, que é importante para a democracia brasileira.

Convenhamos, a história da meta, o Brasil é um país curioso. A meta foi enviada pelo governo anterior, R$ 96 bilhões. Quando nós chegamos aqui, verificou-se que era R$ 170,5 bilhões. Então fez-se um aditivo. Ora bem, o que a base do governo anterior fez? Qual seria a lógica? Seria combater o aditivo. O que o governo anterior passou a fazer? Passou a combater a meta que eles tinham mandado para o Legislativo. A que horas foi aprovada essa meta no Congresso? Às 4h30, com quórum na Câmara e no Senado. Por que digo isso? Para dizer que o Congresso está apoiando as medidas do governo.

Agora vem medidas impopulares?

Polêmicas, né?! Ela são aparentemente impopulares, mas são no fundo populares. Nenhum governo vai querer sair daqui como alguém que destruiu a popularidade do próprio nome do governo. Então, são medidas que aparentemente são impopulares, mas que é para viabilizar a conduta e o bem-estar do povo brasileiro. O Lula mandou reforma da Previdência, o Fernando Henrique mandou reforma da Previdência, não é novidade nenhuma. A própria repactuação da dívida dos estados foi mandada pelo governo anterior. Nós é que modificamos, porque tivemos uma ação junto aos governadores, fizemos em definitivo a repactuação e mandamos pra lá. Hoje há uma guerra dizendo que “o Temer vai acabar com os direitos trabalhistas”. Eu não disse em nenhum momento isso. O que estou fazendo é reafirmar algo que já foi feito pelo ex-governo. Como se deu a MP que permitiu o acordado sobre o legislado? Foi a medida provisória que, para manter o emprego, estabeleceu a possibilidade de convenção coletiva com redução de 30% no salário. Que teve um sucesso extraordinário. Estou fazendo aqui um elogio. É louvável, porque, mantendo o emprego, você não só mantém a estabilidade social, mas também garante a arrecadação. Porque quando há desemprego, cai a arrecadação.

“Olha, eu vou ser mais presidente da República. E como presidente da República, você muitas e muitas vezes precisa tomar decisões que devem revelar autoridade, nos termos constitucionais.”

Mas no caso de hoje, a questão das jornada intermitentes, as pessoas entenderam que iam passar a trabalhar 12 horas em vez de 8. O governo não está falhando na comunicação ou na disputa política?

Claro. E (entenderam) que vamos trabalhar aos domingo também. Há poucos dias recebi um pedido para especificar se ia ficar em hotel ou não lá na China e se ia jantar e almoçar. Até disse ao Márcio (Freitas, secretário de Comunicação): olha esse é melhor responder que vou comer sanduíche e que vou montar uma tenda lá, porque não vou ficar em hotel. Essa coisa de 12 horas, eu vi o noticiário hoje, a impressão que eu tive, convenhamos, se não fosse governante, é que o pessoal ia ter que trabalhar até aos domingos, por 12 horas.

Mas não é uma falha na comunicação?

Não é, é falta de leitura. Data venia. Porque ontem eu falei com o ministro do Trabalho, assim que recebi a primeira notícia, e ele me disse: acabei de me reunir com as centrais sindicais e eles estão de acordo com isso, querem trabalhar nessa ideia e nós estamos formatando uma maneira de fazer a reforma de maneira que seja também agradável para as centrais sindicais. E surgiu muito essa ideia de fazer 12 horas. Se fizer 12 horas, de repente o empregado quer ter a possibilidade de ter outro emprego, ou então de ficar de folga três dias. Se ele fizer 48 horas em quatro dias, vai ter quatro horas de hora extra e ainda tem três dias de folga - ou trabalha em outro lugar. Basta ler a matéria que você verifica que é isso que está acontecendo. Segundo: não é de forma definitiva, porque as coisas aqui são dadas como definitivas. Um funcionário da Fazenda decidiu fazer um estudo sobre Fundo de Garantia. Pronto, ganhou manchete “governo quer impedir que...” ora, não dá pra ser assim, porque induz o leitor a um fato equivocado. Porque o compromisso de toda e qualquer imprensa é ter compromisso com o fato, mas o fato verdadeiro.

Mas encomendaram o estudo?

Mas se fosse “governo encomenda estudo relativo ao Fundo de Garantia”, muito bem. Mas a manchete não foi essa.

Como o senhor vê o aparente crescimento dos protestos de rua?

Com muita naturalidade. Primeiro, o rescaldo do impeachment. É claro, é um ato politicamente doloroso pra quem sai. Portanto, é uma luta política, não é simplesmente popular. Eu estou aqui por razões constitucionais. Sempre se fala de vez em quando: “ah, mas o Temer não foi eleito.” A eleição se deu com apoio do PMDB, nós ganhamos a eleição. Vocês sabem que sempre fui extremamente respeitoso com a presidente da República, respeitoso não só no plano pessoal, que é do meu feitio, mas no plano institucional, coisa que não recebo do lado de lá. Do lado de lá, recebo uma outra expressão - mas também não respondo. Na eleição, nós ganhamos por 3,2 milhões de votos (de diferença). Vocês lembram que, na convenção do PMDB, nós só ganhamos a convenção porque eu era o candidato a vice. E ganhamos por 59%, se vira 4,5% pro outro lado, nós perderíamos a convenção. Perdendo a convenção, o PT não teria aliança com o PMDB. Perderia em primeiro lugar 4,5 minutos de rádio e televisão, que nós demos gratuitamente. Na época, houve muita contestação. Durante a campanha, depois de muita insistência - o PMDB reclamava muito -, eu apareci uma única vez no programa de televisão durante 30 segundos. Mas tudo bem, isso não tem problema. Mas tendo feito aliança com o PMDB, conseguimos fechar pelo menos 23 estados para apoiar a chapa. Agora eu pergunto: será que esses 23 estados da federação não deram 1,6 milhão de votos para a chapa? Porque, se tivesse dado 1,6 milhão para o outro lado, teria perdido a eleição. Segundo ponto: é um argumento menor, mas apreciável: quando vai votar aparece o presidente e o vice. Se houvesse uma rejeição tão forte a mim, primeiro o PT não faria a aliança. Segundo, o sujeito diria: “não vou votar porque esse sujeito atrapalha o governo”.

Mas os protestos cresceram. O senhor não vê risco de eles inviabilizarem projetos de seu governo?

Não vejo contradição. Perguntaram pra mim na China, e a noticia que eu tinha era de um pessoal que saiu queimando pneu e destruindo carros, os chamados black blocs. E foram exatamente os black blocs que inviabilizaram aquele processo democrático de junho, julho de 2013. Vocês lembram que saiu muita gente às ruas, mas quando os black blocs se introduziram e começaram a quebrar tudo, acabou o movimento. No dia que falei, me perguntaram e eu disse: Olha, são pessoas que se reúnem para depredar, e o que existe é direito à manifestação. Não leio em nenhum texto legal direito à depredação. Isso não existe. Depredação é delito, continuo dizendo isso firmemente. É uma coisa que tem que ser enfatizado, para garantir a manifestação democrática e impedir desarranjo institucional. Depois, quando saíram milhares de pessoas às ruas, nós todos começamos a dizer: tem que se respeitar, é um movimento popular que está na rua. Agora, ele tem uma significação política muito grande, porque ele é uma oposição a quem está no poder. Como, de resto, vamos reconhecer, também o movimento que se deu quando a presidente estava presidindo o país também era um movimento político, porque as pessoas queriam derrubar a presidente. Só que, eu não quero falar em número, porque novamente começa a aumentar mais o número, mas disseram que era cem mil, 30 mil, 18 mil. Não importa. É sempre um movimento expressivo, mas evidentemente aqueles milhões de pessoas que saíram às ruas também era um movimento político que queria derrubar o governo. Ora, aqui também tem um movimento que quer derrubar o governo, e quer derrubar por uma via transversal, que não é uma via constitucional: ah, vamos fazer eleições agora. Isso depende de tanta coisa. Ainda ontem, um articulista dizia, primeiro precisa o presidente da República, o vice-presidente, aceitar. Segundo, é preciso uma emenda constitucional, que leva tempo para ser aprovada. Então o jeito é nós irmos tranquilamente num governo de transição até 2018 e em 2018 se faz nova eleição.

“A eleição se deu com apoio do PMDB, nós ganhamos a eleição. Vocês sabem que sempre fui extremamente respeitoso com a presidente da República, respeitoso não só no plano pessoal, que é do meu feitio, mas no plano institucional, coisa que não recebo do lado de lá.”

O sr. acha que falhou em combater essa terminologia de “golpista” antes de ela pegar?

Primeiro, eu acho que pegou para aqueles que se interessam pela palavra golpe. Registro isso com muita tranquilidade, porque dizem que no exterior pegou o golpe. Eu estive agora na China logo no dia da posse. Fui ao local do G20 e a primeira palavra do presidente (da China) Xi Jinping foi “agora já posso dizer que somos amigos, porque é a quarta vez que nos encontramos”. E é verdade. Segunda palavra: “Hoje é uma bilateral, mas quero convidá-lo para uma visita de Estado à China no momento que nossas autoridades acertarem. Portanto, um reconhecimento muito claro de que não houve golpe coisa nenhuma. No outro dia houve uma reunião dos BRICS, preparatória para a reunião da Índia, e todos - Africa do Sul, Índia, Rússia e outra vez China - e isso foi público, na saudação que fizemos coletivamente, cada um disse, me cumprimentou pela posse, “vamos trabalhar juntos”, etc.

Portanto um reconhecimento internacional, ninguém falou em golpe. Depois, quando chegou no G20, me recordo que eles colocaram a gente numa sala só com chefes de estado, de governo, o presidente (dos Estados Unidos) Barack Obama passando por mim disse: “as nossas relações serão as melhores possíveis”. Isso gerou, vocês sabem, no dia seguinte ou dois dias depois o vice-presidente Biden dizendo “nós vamos ter a melhor relação com o governo Temer”. A primeira-ministra da Inglaterra, de igual maneira. E, além disso, foram pedidas quatro (reuniões) bilaterais importantes. Se não houvesse reconhecimento, ninguém pediria bilateral: os primeiros-ministros do Japão, da Itália, da Espanha e o príncipe da Arábia Saudita.

O ex-presidente Lula se dizia no primeiro mandato um caixeiro-viajante. O senhor pretende repetir essa atuação internacional forte?

Eu apreciaria. Acho importante, em face da globalização, que o presidente da República do Brasil tenha presença em outros foros internacionais e nos países. Acho importantíssimo isso. Eu vi como é importante participar desses eventos, como é importante o Brasil participar ativamente. Não só eu, como os ministros. Veja que o Blairo Maggi (Agricultura) foi comigo para lá e ficou lá, está circulando pela Ásia para trazer investimentos para o Brasil. Agora combinei com o Meirelles (ministro da Fazenda), e ele vai comigo para Nova York, mas depois ele fica por lá em outras regiões para trazer investimentos para o Brasil. Ontem, por exemplo, recebi uma empresa, a State Oil, que adquiriu um campo da Petrobras, fez boas negociações com a Petrobras, e estamos dizendo isso: nós vamos abrir o Brasil para o capital nacional e estrangeiro. Agora, o que mais eles querem ouvir é segurança jurídica, e isso eu tenho afirmado e reafirmado. Agora, nós temos internamente uma questão, que é a do teto dos gastos. Por exemplo, quanto antes nós aprovarmos, a tendência poderá ser a redução dos juros. E olha que falo com muito cuidado isso, porque dou a mais ampla autonomia operacional ao Banco central. Quem decide isso é o Banco Central, nenhuma palavra minha pode influenciar aquilo que o banco Central vai fazer ou não vai fazer.

Qual horizonte de tempo?

O teto, estou esperando o final do ano. Hoje, nós temos uma boa interação com o presidente da Câmara e o presidente do Senado. O Rodrigo Maia me disse que possivelmente até o fim de outubro consiga votar na Câmara. Aí fica novembro e dezembro pra votar no Senado.

A estrutura principal do teto vai ser mantida, inclusive valendo para gastos com Saúde e Educação?

Acho que sim. Agora não estamos pensando em reduzir os gastos com Saúde e Educação. Porque esse é o grande mote. Pode examinar o Orçamento do ano que vem e vocês verão que nós mantivemos os gastos deste ano e ainda acrescentamos alguma coisa. Agora não sei quantos bilhões foram. Mas a ideia é mantê-los. Porque o teto de gastos é o teto geral.

Se o Congresso propor apartar essas áreas, o governo não concordará?

Não. É muito provável que lá se busque manter o piso constitucional. Isso certamente vai ser mantido, e nós mandamos com esse propósito. O que é possível talvez eles proporem é que o que foi gasto esse ano se corrija pela inflação. Acho complicadíssimo excluí-los, porque derruba o conceito do teto. O que não significa prejuízo para Educação e Saúde, mas aí fica difícil negociar.

Há processo no TSE sobre crimes supostamente cometidos na eleição de 2014. O senhor acredita que foi cometido algum crime e vê a hipótese de o TSE condenar a chapa ou a presidente?

Em primeiro lugar, eu não participei das arrecadações da campanha presidencial. Segundo ponto é que, se o TSE resolver cassar a chapa, eu seria incoerente se dissesse que não vou obedecer a decisão do TSE. Se decidir, é claro que eu usarei de todos os recursos que a ordem jurídica me permite, porque eu tenho uma tese de que a vice-presidência é apartada da figura institucional da presidente. As pessoas leem a Constituição e veem assim: “ah, a eleição para presidente importa a eleição do vice-presidente”. E a partir daí acham que tudo o que acontecer com a presidente tem que acontecer com o vice-presidente. Aliás, seria a única exceção do princípio básico da Constituição que é a pena não pode passar da pessoa do condenado. Seria mais ou menos como você estar dirigindo um carro, atropela uma pessoa, homicídio culposo, é condenado, e condenam também o sujeito que está sentado ao lado. Claro que eu terei argumentos de natureza jurídica exclusivamente para um eventual recurso. E devo exercitá-los, sob pena de ser incoerente com a atuação que eu venho empregando. Agora, se acontecer, aconteceu. Entrego sem maiores problemas.

Não é incoerente o senhor falar que do ponto de vista do eleitor o voto é numa chapa única e no ponto de vista do julgamento das contas as coisas serem apartadas?

Não, basta ler a Constituição. Qual é a razão, no regime presidencialista, de um vice-presidente? É para ter a ideia da estabilidade. Se acontecer alguma coisa para o presidente, tem o vice-presidente, que, em regra, nos regimes presidenciais sérios, o vice-presidente acompanha tudo o que acontece com o Estado que ele ajuda a dirigir. Nos Estados Unidos, por exemplo, a foto de quando foi apanhado o Bin Laden aparece o presidente Obama, o vice-presidente Biden, a secretária de Estado Hillary (Clinton) e o general comandante das Forças Armadas. Porque o vice-presidente lá acompanha tudo? Pode ver. Não tem uma foto do presidente em que não esteja o vice-presidente. Porque lá eles têm uma consciência institucional extraordinária, sabem que se acontecer alguma coisa, como aconteceu nos Estados Unidos em várias ocasiões, o vice-presidente está sabendo de tudo. É diferente daqui, em que nós chegamos e tinha uma mocinha sentada aqui. Eu não acompanhei as questões de governo. Então, esta é a razão de ter um vice-presidente. Se não, a vice-presidência passaria a ser inútil, primeiro ponto. Segundo ponto: você apanha a Constituição e verifica: o presidente faz o juramento, mas o vice-presidente também faz o juramento. Qual é o juramento? É cumprir a Constituição e as leis do país. Se eu quiser sair do país por mais de 15 dias, eu vice-presidente, tenho que pedir licença ao Congresso Nacional. Como igualmente o presidente também tem que fazer. A Constituição dá quatro ou cinco pontos que diferencia a figura institucional do presidente e do vice-presidente. Em razão disso, acho que não há fundamento para dizer: bem, se o presidente é afastado — e até faço um parêntese, reconheço que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral tem sido nessa direção, a chamada figura do “arrastamento” — ele arrasta com ele a figura do vice-presidente. Agora, eu sou da área jurídica. Já me equivoquei muitas vezes e já modifiquei meus conceitos muitas e muitas vezes. É o que mais acontece na área jurídica. Especialmente no Judiciário. Primeiro, eu não sei quando será julgada esta ação. De repente, ela pode ser julgada muito lá na frente.

O senhor acha que ela sequer pode ser julgada dentro do mandato?

Não, isso eu não creio. Acho que ela acabará sendo julgada (até 2018).

Ficou uma certa mancha no processo de impeachment, embora tenha sido supervisionado pelo Supremo, que foi o fatiamento. Ficou uma coisa mal explicada. Isso não é um problema?

Aí eu vou pedir licença a vocês para não responder. Porque é uma coisa que envolve quase pessoalmente a minha figura. Então, não quero dar palpite, nem sobre o foco jurídico, porque está no Supremo, e também em obediência ao que o Senado decidiu. O Senado decidiu, e eu não posso contestar também. Se eu não fosse presidente, eu daria até um parecer sobre essa matéria.

O seu partido, nessa questão, decepcionou o senhor? O senhor sentiu que eles não agiram corretamente com o senhor?

Eu não me decepciono. Se você é presidente da República, não quero me colocar como estadista, não é isso. Mas o presidente da República tem que estar acima dos acontecimentos. Se não, você não consegue sobreviver aqui. E eu sinto que muitos se envolvem com os acontecimentos. Não quero me envolver. Alguns do PMDB optaram por essa fórmula. Outros não optaram. Mas essa é uma questão política debatida lá no Senado. Tenho que exercer o papel que a vida me entregou, de presidente da República. Sei que não é fácil, sei que precisamos fazer muita coisa para ajudar o país a sair da crise. Eu vou ter reunião com os líderes, com as bancadas, vou dizer: olha, minha gente, nós precisamos agir juntos, em nome do Brasil. Não pode ser em nome de interesses pessoais, como eu não vou agir em nome de interesses pessoais. Minha história é tentar ficar esses dois anos e quatro meses e deixar um legado. Eu já brinquei que, se lá na frente disserem: Olha, esse Michel Temer deu um jeito no Brasil, pra mim é suficiente.

E não há hipótese de o senhor ser candidato (em 2018)?

Não, não. Longe de mim.

O senhor assinaria um compromisso público dizendo que não será candidato?

Não, isso não faço, porque todo mundo que assina, não cumpre. Quando eu assinar um compromisso público, todo mundo vai dizer: olha aí, ele vai ser presidente.

O que vai ser diferente a partir de agora? Como interino, o senhor adotou um perfil conciliador. Mas na primeira fala pública após a posse adotou um tom firme, dizendo que não aceitaria a alcunha de golpista, deu recados à base. O senhor vai começar a comprar brigas?

Olha, eu vou ser mais presidente da República. E como presidente da República, você muitas e muitas vezes precisa tomar decisões que devem revelar autoridade, nos termos constitucionais. Muitas e muitas vezes você, no exercício de um cargo, acha que chegou lá iluminado por uma centelha divina. E não é bem isso. Os espanhóis dizem: “Se quieres conocer a Fulanito, dale um carguito”. Então, é preciso tomar muito cuidado. Eu tomo muito cuidado com isso. É claro que, durante a interinidade, eu fui mais cauteloso, porque afinal poderia não acontecer nada. Eu poderia deixar o cargo logo em seguida. Mas de qualquer maneira é interessante: eu exerci como se fosse efetivo. As pessoas não me viam como tal, mas eu faço sempre uma distinção — a gente acaba sendo repetitivo, eu fico meio envergonhado — mas entre o presidente da República e a Presidência da República. Quem exerce a presidência da República tem que fazê-lo na sua plenitude. E foi o que eu fiz na interinidade. Se não o fizesse, não teria por exemplo feito uma repactuação com os estados da federação brasileira. Se não o fizesse, não teria praticamente consolidado a ideia das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Em um dado momento, nós mandamos R$ 2,9 bilhões para o Rio de Janeiro, porque ia paralisar tudo lá. A questão da aprovação das estatais, que é um gesto moralizante e eu não vejo as pessoas falarem nisso, foi algo que estava paralisado na Câmara, nós pedimos para votar. Votaram. Voltou para o Senado. O Senado rapidamente fez modificações. Veio para mim, e eu sancionei. Isso foi uma coisa importantíssima, que estava paralisada. Mandamos a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto dos gastos. Eu agi no exercício da Presidência da República. Se eu era o presidente definitivo ou não, não importa. O que importa é que eu estava exercendo a Presidência, tinha que fazer. O que muda a partir de agora? É claro que eu preciso, agora definitivamente, tomar posições que podem desagradar setores, desagradar um ou outro agente político.

O reajuste dos ministros do Supremo é um exemplo de uma dessas posições que o senhor pode tomar?

Eu já disse que isso daí gera uma cascata gravíssima. Porque pega todo o Judiciário, pega outros setores da administração, pega todo o Legislativo, porque evidente que o Legislativo vai… Os telefonemas que eu recebi dos governadores foram: pelo amor de Deus, Temer, não deixa passar isso.

Essa é uma briga que você compra contra…?

Não compro contra ninguém, não. Eu compro em favor do país. Agora, isso vai significar que jamais o Supremo poderá ter aumento? É evidentemente que não. Este momento não é um momento adequado. Não apenas eu, mas acho que muitos entendem que não é o momento adequado para fazer isso. Vocês podem até me perguntar, ah mas você não deu aumento para várias categorias? Mas aconteceu que eu cheguei aqui e verifiquei que tinha acordos firmados em escrito. Verba volant, scripta manent. O que está escrito tem que ser cumprido. Acertado por quem? Pelo governo anterior. Assinado pela Fazenda, pelo Planejamento e pelas categorias profissionais. Eu tenho dito muito que é preciso cumprir aquilo que é acordado, para dar segurança jurídica. Sob o foco jurídico, a primeira acusação seria: olha, esse sujeito aí não vai cumprir o acordado. Mas sob o foco político, convenhamos. Eu assumi interinamente. Imagina se no primeiro dia eu digo que não vou cumprir o acordado. Nós até examinamos sob o foco da conveniência, e o Estado brasileiro fez um bom acordo, abaixo da inflação. Nesse sentido, é até louvável o que se negociou. Agora, se eu não cumpro isso daí. Vocês imaginaram servidores do Judiciário parados, servidores do Ministério Público parados, do Tribunal de Contas parados, Receita Federal parada, Polícia Federal parada, com as Olimpíadas às portas.

Poderia também gerar mais protestos contra o senhor?

Geraria protestos durante o período de interinidade. Seria um horror. Eu não conseguiria governar.

Alguns reajustes foram acima da inflação. O da Defensoria Pública foi bem acima da inflação.

Esse ainda não veio para sanção ou veto.

O senhor deve vetar?

Vou esperar um pouco, vou verificar. Mas ainda não foi sancionado.

Por que o senhor demitiu o ministro Fábio Medina Osório (da Advocacia Geral da União)?

Por uma questão administrativa, nada mais do que isso. Aliás, deixei até uma nota agradecendo a colaboração que ele deu.

A questão da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) foi decisiva?

Não. Esse caso da EBC é um caso que não tem essa dimensão que se procura dar. Para mim, é uma questão administrativa. Se o governo não puder fazer absolutamente nada, fica complicado. Quero ressaltar até que o Medina fez um bom trabalho enquanto esteve, mas ele veio da iniciativa privada, um advogado da área privada de muito sucesso. E todo mundo que vem da área privada acaba perdendo muito na atividade pública.

O senhor planeja transformar o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, em ministro?

O Moreira, desde o início, achou que deveria ser uma secretaria. Mas eu comecei a perceber que a função dele é uma função relevantíssima. Essa coisa das concessões, das desestatizações é importantíssima, que vai importar em ele ter contato não só com os ministérios, como a área exterior. E uma coisa é ser secretário-executivo e outra coisa é ter status de ministro para esse efeito. Ainda ontem, eu fiquei sabendo que ele não tem acesso ao Sigov, o sistema que você se comunica pela internet (uma rede interna do governo federal). Ele, por exemplo, não pode fazer isso. Ele tem que se comunicar por papéis. Coisas triviais. Eu não estou pensando nisso ainda, mas eu acho que me equivoquei logo no primeiro momento em não tê-lo feito logo ministro. Porque ele exerce funções de ministro.

O senhor tem falado que o grande problema é a economia. Qual é a situação real da economia brasileira? E o governo vai persistir em apresentar medidas impopulares, como a reforma da Previdência?

É muito preocupante a situação da economia do país, extremamente preocupante. Basta verificar os dados: R$ 170 bilhões de déficit, 12 milhões de desempregados. A gente tem que fazer com que a economia venha a reagir. Há sempre um preconceito ideológico. Você tem que dar emprego, mas não pode prestigiar a indústria. É uma coisa curiosa. Como é que você vai gerar emprego, se você não tem indústria, negócio funcionando? Você tem que trabalhar para atrair os mais variados investimentos para recuperar a economia do país. Mas antes de recuperar a economia propriamente dita, você tem que recuperar a confiança. E os dados da confiança, primeiro havia uma certa esperança, que agora está se convertendo em confiança. Eu tenho dados aqui (pega uma tabela com indicadores da Fiesp) que revelam como no agronegócio e na indústria a confiança aumentou enormemente. No primeiro trimestre de 2016, a confiança no agronegócio era de 40,2. No último trimestre foi para 80,2. No investment grade (grau de investimento), por exemplo, nós estávamos entre julho e janeiro de 2016 com 569 pontos negativos. Agora já veio para 309 pontos (negativos). Se você atingir a faixa de 240 pontos (negativos), você volta a ser um país com investimento favorável. Isso tudo ainda é fruto da confiança. Eu não diria a vocês que a produção já aumentou enormemente, mas é fruto da confiança. Porque a confiança é o primeiro passo para você gerar o crescimento do país. Acho que nesses próximos meses, especialmente quando nós aprovarmos o teto de gastos, quando encaminharmos a reforma da Previdência e ela começar a se processar no Congresso, o país vai crescer. Crescendo, cresce a arrecadação. Se cresce a confiança, cresce a arrecadação, cresce a estabilidade social. Porque também no tópico da estabilidade social, nós não vamos abandonar o projeto que nós temos. Nós vamos até o final com eles. Porque isso é fundamental para o país, não adianta fazer as coisas pela metade.

No cenário da Lava-Jato, qual vai ser o comportamento do senhor com relação às empresas brasileiras? O senhor vai buscar projetá-las em viagens internacionais?

A Lava-Jato pegou setores das empresas nacionais. Eu não tenho aqui os dados, mas dessas grandes empresas, pegou 8%. O restante, 82%, não foi alcançado pelo fenômeno da Lava-Jato. Essas empresas vão continuar a operar e até já estão tomando providências internas. Algumas até estabeleceram auditorias e controles internos. A Lava-Jato produziu esse efeito, mudou a fisionomia da atuação do setor privado com o setor público. E não eliminou, naturalmente, as empresas nacionais.

O senhor vai defender as empresas do Brasil no exterior?

“Jamais o Executivo vai interferir nessa matéria (Operação Lava Jato). Cada poder exerce o seu papel, e seria um absurdo do poder Executivo.”

Eu farei isso. Não por causa da Lava-Jato, defenderei as empresas do Brasil no exterior. À medida que eu possa fazê-lo, eu farei, não tenha dúvida. Serei caixeiro viajante. Mas não apenas eu, o governo todo. Porque esse não é um governo centralizado, é descentralizado. Eu tomo ciência de todas as decisões. Eu dividi o governo em grupos: da infraestrutura, social. Portanto, participo de todas as decisões. Mas dou liberdade para os ministério agirem. Acho que isso tem sido útil. No caso do Bolsa Família, há sempre acusações: o Temer vai acabar com isso, acabar com aquilo. Ora, nós revalorizamos. Você aumenta R$ 20 (no benefício básico do programa). Isso vai movimentar a economia, isso vai para a venda, pro armazém, pro mercadinho. Tanto que eu mandei o Osmar Terra (ministro do Desenvolvimento Social) para o Nordeste, e ele ficou uma semana dando declarações lá, porque isso tem que ser divulgado. (Disseram) Ah, o Temer vai acabar com o Fies (programa de financiamento estudantil). Nós abrimos 75 mil vagas no Fies. Agora, temos preocupação com a Educação. Vocês viram os dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) ontem, né? Educação (no governo anterior) era tudo, (falavam) vamos fazer a revolução da educação. O Ideb foi decepção por muitos meses pra cá. O Mendonça Filho (ministro da Educação) está fazendo planos para recuperar essa área. Em todos os setores nós estamos agindo. No Nordeste, a transposição do (rio) São Francisco, nós demos um novo impulso para ela. Vamos cuidar também da revitalização do São Francisco. São coisas importantes que estavam paradas e que nós estamos retomando.

Há casos de membros do partido do senhor flagrados em grampos. Que garantias o senhor pode dar de que a Lava-Jato vai ter caminho livre no governo?

Jamais o Executivo vai interferir nessa matéria. Cada poder exerce o seu papel, e seria um absurdo do poder Executivo. Primeiro impossível, inadmissível imaginar que o presidente da República possa chamar alguém do Supremo e dizer decidam assim ou assado. Não existe isso no Brasil, primeiro. Segundo, até pela minha formação jurídica e democrática, eu jamais faria isso. Sou muito consciente dos termos da Constituição. Não tem a menor possibilidade de interferência do Executivo, nem a favor, nem contra, evidentemente.

E continua valendo a máxima de que ministros envolvidos em suspeitas de desvios na Lava-Jato serão afastados?

Veja bem. Os ministros que se afastaram, se afastaram por conta própria. Porque eu também não posso chegar ao ponto de dizer o seguinte: o sujeito que não é processado, não é sequer denunciado, basta que alguém mencione o nome dele que eu boto ele para fora. Isso eu não faço. Eu preservo muito a ordem jurídica. Então os ministros que saíram foram ministros que pediram demissão e pediram para sair, porque ficariam muito sob foco e pediram para sair. Eu não demiti ninguém do governo.

Em que medida uma eventual delação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha pode gerar constrangimentos ou uma crise no governo do senhor?

Confesso que não sei, não sei dizer. Acho que não gerará nenhum constrangimento, mas é um simples achismo. Eu não posso falar em relação a membros do governo, mas eu acho que o ex-presidente da Câmara, primeiro não sei se fará delação. Segundo, se fizer, não sei o que dirá. Então é preciso esperar, se ela vier. Mas acho que não terá influência nenhuma.

Ele tem procurado o senhor?

Não. Nos últimos dias não me procurou. Mas eu falava muito com ele, viu? As pessoas têm medo, muitas vezes, de dizer isso. Eu me lembro que, no governo anterior, eu falava com a oposição e as pessoas se irritavam: imagina, como eu tive coragem de convidar sete pessoas do DEM para almoçar lá em casa. Que foi exatamente o que me permitiu naquela oportunidade aprovar a primeira Medida Provisória daquele ajuste fiscal que eu fiz. Fui nomeado na época coordenador político, e eu consegui aprovar aquele ajuste fiscal, graças ao contato que eu tinha com o Congresso. Mas quando eu chamava membros da oposição para conversar, eu era criticado. Eu falo com todas as pessoas, não posso ter essas limitações. Ele (Cunha) não tem me procurado. Agora, se me procurar, também, eu falo. Não tem nenhum inconveniente. O que ele pode me pedir? Pedir para ajudá-lo.

Não geraria um inconveniente ele procurar o senhor?

Olha, eu nem saberia dizer. Não sei que constrangimento. Porque eu sou presidente da República, é isso?

Para aparentar uma certa influência dele junto ao senhor?

Ah, sim. Aí é outra coisa. Aí é possível. Mas não me procurou.

Mas a indicação do líder do governo partiu dele, não?

A indicação do líder do governo, na verdade, eu fiz uma avaliação, pelas indicações que vinham dos vários partidos da Câmara. Não foi ele que indicou o André Moura. A indicação veio de oito, nove, dez partidos. Foi indicação deles. Não houve influência nenhuma dele, nem pleito dele em nome de ninguém. Indicados por ele, no governo, não há nenhum. Há indicados da base. Isso há.

Como o senhor pretende se relacionar a partir de agora com esse grupo de partidos que convencionou-se chamar de “centrão”?

Eu vou procurar ter os votos partidários. Os votos hoje são de uma base eclética. Eu não posso desprezar um partido que faça parte daquele grupo. O que o governo precisa é do apoio do Congresso Nacional. E os votos todos são bem-vindos. Então eu vou trabalhar com todos, sem exceção. E não farei distinção. O importante é o governo aprovar as questões no Congresso.

O que terá de novidades no pacote de concessões?

Ah, aí tem que esperar dia 13 (de setembro, quando está marcado o lançamento do pacote). Vocês precisam falar com o Moreira (Franco). Sabe que eu não sei? O Moreira guarda isso a sete chaves.

Mas não tem um valor? Fala-se em R$ 5 bilhões.

Eu confesso, com muita franqueza, que eu não sei. (Mas) o que nós pudermos conceder, nós vamos conceder. O que for possível, nós concederemos. Sem preconceitos. O que precisa acabar no Brasil é o preconceito.

“Como é que você vai gerar emprego, se você não tem indústria, negócio funcionando? Você tem que trabalhar para atrair os mais variados investimentos para recuperar a economia do país. Mas antes de recuperar a economia propriamente dita, você tem que recuperar a confiança.”

No documento “Ponte para o futuro”, o senhor propunha a volta do regime de concessão de petróleo, a prevalência do acordado sobre o legislado, uma reforma que simplifique o sistema tributário, o fim da indexação da previdência ao salário mínimo e o fim dos gastos mínimos em Saúde e Educação. O que ainda vale?

Vários pontos já estão sendo tratados. O fim da indexação do salário mínimo e da Previdência nós não começamos a tratar ainda. Tudo tem que ir por partes. A primeira fase que nós queremos vencer é a do teto dos gastos, a Previdência, a atuação trabalhista e tem um ponto que o governo vai colaborar, porque não pode ser o autor, que é a reforma política. Se nós fizermos esses quatro pontos, já estaremos dando grande contribuição.

Que pontos da reforma política o senhor defende?

Eu vou primeiro tratar disso com os congressistas. Há vários projetos (sobre a reforma política tramitando) lá. Eu não tratei disso ainda, mas quero tratar com eles. Quero verificar com eles o que é palatável, o que é viável. Para depois, não fazer o que se fez sempre: você entra com uma reforma política que não dá resultado.

O senhor já mencionou antes que é uma distorção essa quantidade de partidos.

Não pode, não pode. Você, para governar, o ideal seria ter duas, três, quatro, cinco forças políticas. E você faz uma aliança, fica mais simples. Eu sou francamente favorável a uma diminuição de partidos, mas não de uma maneira autoritária. Ou seja, estabelecer uma lei que só possa ter cinco partidos. Não é isso. Você pode adotar uma coisa paulatina. Por exemplo, houve uma época que se pensou na federação de partidos. Na federação, você reúne cincou ou seis partidos que vão disputar as eleições. Os que vencem as eleições têm que se manter nessa federação durante todo o mandato. Se eles se mantiverem, não é improvável que depois isso vire um partido só. Se tiver três ou quatro federações você elimina 20 partidos em dois mandatos.

Mas uma cláusula de barreira inicial o senhor acha fundamental?

Indispensável. Ou de desempenho, que é mais simpático (risos)

O sr. acha que acabar com a coligação proporcional vai enxugar o número de partidos?

Claro. Eu acho, mas eu preciso tomar cuidado, porque não uma tarefa do Executivo, é do Congresso. Se eu começar a invadir a competência do Congresso… Eu posso ajudar. Desde que (seja) procurado, como já fui.

Todo dia há ameaças de integrantes do PSDB e do DEM de deixar o governo. O senhor acha que é uma ameaça é real?

Eu tenho as melhores relações com o PSDB, o DEM e o PPS, por exemplo. Relações políticas. E pessoais, sem dúvida. Tem integrantes de todos os partidos no governo. Eu não acredito (que saiam do governo). As conversas que tenho tido são sempre muito cordiais.

O senador Aécio Neves disse que o PSDB ajuda o governo pressionando o governo para que as reformas saiam. A pressão é prejudicial?

Eles são democráticos, são comentários mais do que naturais. Sempre que se invoca a figura do senador Aécio, que é meu amigo pessoal, mas não vem ao caso, não se coloca outra sentença que não seja: “tenho certeza de que Temer vai fazer um bom governo” (bate na mesa). Essa parte nunca vem à luz. Muitas vezes dizem: “está fazendo isso porque o partido tal pressionou”. Não é isso, não. Agora, você pode me perguntar: “se um partido levantar a tese de uma reforma importante, você pode aderir?”. A democracia é isso. Aliás, até a oposição existe no Brasil para ajudar a governar. É que a concepção que se tem de oposição não é jurídica, é política. O sujeito está na oposição para destruir o governo. Montoro (Franco Montoro, ex-governador de São Paulo) sempre dizia que há dois momentos: um eleitoral e outro político-administrativo. Nesse momento, todos têm que trabalhar pelo bem do país. Então, quando se fala em oposição na democracia é para evitar o autoritarismo. A oposição observa, protesta, contesta, exatamente para que a gente fique aqui atento. E muitas e muitas vezes, a verdade é essa, a gente tem que aprovar. Porque eu faço uma distinção entre as questões de governo e as de Estado. As de Estado dizem respeito ao futuro. Por exemplo, Previdência diz respeito ao futuro. Se você não consertar agora, daqui a dez, 12 anos, tem gente que vai bater na porta lá na frente e não vai receber. É uma questão de Estado. Interessa para mim? Não, interessa para todos.

A ex-presidente Dilma prometeu uma oposição aguerrida, irascível. O senhor teme a oposição do PT no Congresso?

É uma pena. Uma oposição democrática, ela deveria dizer. Porque oposição irascível, eu (Dilma) estou pondo o meu ódio.

E isso preocupa?

Zero, zero, zero. Até prejudica. Na verdade, quem ouve isso, diz: que coisa desagradável.

Quando o senhor diz querer pacificar, o que quer dizer? Quer pacificar o que com o quê?

Ter paciência. Tentar num dado momento que o povo brasileiro compreenda que está seguindo-se um rito constitucional adequado. Portanto, o país está maduro para não permitir golpes. Porque o que é golpe (bate na mesa três vezes)? Vamos definir o que é golpe. Golpe é violência à Constituição, tá certo? Como se viola a Constituição? É dizendo, o vice-presidente não pode assumir. Essa é a primeira violação à Constituição. Aí é golpe! Eu penso que ao longo do tempo o povo brasileiro pode dizer: nós vamos entrar nos eixos agora. Nós vamos trabalhar juntos. O que você não pode incentivar é a divisão do Brasil entre A e B. Tem que tentar harmonizar os vários setores. Por exemplo, empregadores e trabalhadores. Precisa ser uma coisa harmônica.

Nós estamos aqui há uma hora e meia e o senhor não citou o nome Dilma até agora. Por que?

Eu trato da senhora presidente da República. Dilma? Quer que eu (diga)? Eu coloco, não tem problema: Dil-ma Va-na Rousseff.

O governo, afinal, vai lançar um slogan para combater o termo “golpista”?

Olha, eu acho que o golpe, sabe, não pegou. Pegou como movimento político, percebe? Como movimento político é bem pensado até. Eu quero que explique o golpe (sobe o tom bate na mesa seguidas vezes). Eu é que vou debater o golpe. Olha: “houve golpe porque o Michel Temer, quando a Dilma, vou citar o nome da Dilma (risos), foi em Nova York em pleno processo de impeachment, ele assumiu o poder e, quando ela voltou, ele não entregou”. Ela foi, e eu nem saí da minha sala. Ficou quatro ou cinco dias, ela voltou e reassumiu o governo. Eu quero que tenham argumentos. Porque o que está infernal no Brasil é essa irascibilidade. Isso está infernizando o país. Eu quero argumentos. Me digam qual é o golpe? Eu só quero governar. Eu já fiz a minha vida a essa altura, na vida profissional, na universitária. Para mim, é honroso (assumir a Presidência). Não é questão de vida ou morte.

Por que o senhor não usou a faixa presidencial no Sete de Setembro?

Sabe que eu sou meio contrário a certas coisas. Primeiro, é preciso muita discrição. Usar a faixa presidencial significaria uma soberba nesse momento.

Mas o senhor é o presidente.

Eu não vejo porque eu deixo de ser presidente por não usar a faixa.

É uma questão institucional...

Claro. Quando eu for passar a faixa, daí eu uso a faixa

O senhor não planeja usar a faixa até passar?

Não tenho a intenção

E o retrato?

Sabe que estou pensando seriamente… Sou meio contra pôr meu retrato nas repartições. Primeiro porque toda vez que vejo um retrato meu na parede parece que eu já morri (gargalhadas). Porque é um culto à personalidade que não é compatível com a democracia.

De onde vem essa regra do retrato?

Eu não sei (assessor diz que não há lei que determine isso). Quando cheguei aqui, os ministros disseram: “já tiramos a foto”. Eu falei: “não senhor”. Enquanto ela for presidente, mantenham as fotos. Até aqui na entrada (do gabinete), tinha uma foto dela. Eu deixei a foto. Mas, pessoalmente, não tenho nenhum entusiasmo.

O senhor acha que não é fotogênico?

Até acho que sou (risos). Mas eu acho eu… não sei. Um exagero.

O que o senhor sentiu ao ser vaiado na abertura da Paralimpíada?

Eu fui preparado para isso. Eu chamei as vaias. Vocês se lembram que num determinado momento eu fui ao Rio, para uma reunião com o governador a respeito da Olimpíada, eu ia saindo e alguém gritou: “o senhor não vem ao encerramento com medo das vaias?” Eu voltei e disse: “olha, reservem as vaias para a Paralimpíada, porque eu virei para abertura”. Então eu vim preparadíssimo.

Na Paralimpíada, a vaia não foi maior que na Olimpíada?

Olha, acho que não. Mas eu não estava com os ouvidos tão atentos assim. Eu só tinha que falar rapidamente aquele “declaro aberto…”. Eu só fui porque há um protocolo internacional que exigia a fala do presidente. E, se eu não fosse, diriam: “ah, lá, o Temer está preocupado com vaia”.

Como é lidar com a sua mulher, Marcela Temer, agora como colega de trabalho?

Ela vai cuidar naturalmente da área social. Ela é muito procurada por isso. É uma coisa útil. Ela pode ajudar no Criança Feliz. Sempre a figura da primeira-dama é bem-vista nessa coisas. E ela gosta disso.

Ela é uma mulher muito bonita. O senhor fica enciumado?

Nós temos 14 anos de casamento, não tem…

Quando o senhor vê essas análises sobre as roupas, como reage?

Sabe que eu li uma coisa muito simpática, até. Dizendo que o vestido branco é um símbolo da paz, que foi muito discreto. Ela é muito discreta, graças a Deus. E eu mantenho muito a discrição. Eu nem quis trazer o meu filho (Michelzinho, de 7 anos) aqui no desfile, porque seria um certo exibicionismo que não é compatível com o meu jeito. Eu vou aos poucos fazendo as coisas…

Ela se adaptou a Brasília?

Está se dando bem, está se dando bem...

E quando se mudam para o Alvorada?

Ah, isso eu vou esperar um pouco.

Por que?

Eu estou tão bem lá no Jaburu (Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente), que, sabe? O Jaburu tem muito jeito de casa…

O senhor parece meio incomodado com alguns ritos do cargo: a faixa, o retrato, o Alvorada?

Uma certa simbologia, digamos assim, reveladora da autoridade. Você precisa ter o símbolo para ser autoridade. Ou eu sou autoridade por conta própria, ou não é o símbolo que vai me fazer autoridade. Primeiro ponto. Segundo ponto: mudar por mudar, num dado momento vou mudar, mandar verificar direitinho aquilo. Não vou ter pressa.

Sobre as mesóclises, o senhor se policia para evitar esse tipo de termo nas entrevistas agora como presidente?

Tentá-lo-ei não fazê-lo (risos). Sabe o que acontece? As pessoas criticam porque eu falo o português naturalmente. Não pense que não erro. Dei aula por 30 anos. Eu dizia sempre para os meus alunos. Aqui quem é pago para dar aula sou eu. Seus pais pagam. Então não sou eu que tenho que exigir a presença de vocês. Aliás, se vocês não querem, me facilita a vida porque eu vou embora para o meu escritório advogar. E o interessante: esta fala fazia com que todos ficassem na sala. Primeiro ponto. Segundo ponto, eu dizia: o advogado lida com a palavra. Vocês têm que ler muito. A leitura vai fazer com que vocês nem precisem das regras. Então, eu falo um português razoavelmente adequado. Mas eu vejo que há críticas a isso. Essa questão da mesóclise, por exemplo, tem uns colunistas que são nervosos. Dizem assim: “você tem que abandonar essas mesóclises, as ênclises, as próclises…” Mas é que facilita, é de fácil compreensão.

É mesmo?

Você quando fala uma mesóclise diminui o número de palavras que tem que usar.

O senhor anunciou que vai mandar a reforma da Previdência nos próximos dias, com 65 anos de idade mínima, diferença entre mulheres e homens, regra de transição a partir dos 50 anos. Está fechado?

Essas ideias amadureceram muito, viu, mas elas não estão concluídas. Se estivessem, eu já teria mandado. Esses temas são os temas mais à frente. Quero reunir os líderes em algum momento, quero fazer uma reunião com as centrais sindicais, então vou levar um tempinho para fazer tudo isso. Eu (não) vou mandar (agora) porque (vão dizer): “ah, ele prometeu mandar antes da eleição e… recuou”. É quase irrelevante. Porque todos já sabem que nós vamos fazer a reforma da Previdência. O Rodrigo Maia tem razão. Mandar nesses próximos dias, não vai acontecer nada. Eu acho que não se consegue aprovar cedo. Evidente que não. Vamos mandar, vai ter movimento de rua, vai ter aquelas coisas todas… E vai levar tempo. Ninguém vai discutir nesses últimos dias de setembro. Duvido que se discuta se tiver segundo turno.

No mundo todo, há resistência para reformar a Previdência. O governo está preparado para lidar com esse desgaste? Como?

Com convencimento. Você sabe que tem pesquisa dizendo que 65% é a favor de estabelecer idade mínima (para se aposentar).

O governo vai fazer campanha de publicidade?

Vamos tentar fazer, é fundamental. Campanha de esclarecimento. Vocês sabem que o artigo 201 da Constituição, lá já está escrito que na previdência geral você só se aposenta pela soma de duas condições. Número um: 35 anos de contribuição, se homem, e 30 anos, se mulher. E número dois: 65 anos (de idade), se homem, e 60, se mulher. Interessante que bastaria se aplicar a Constituição que estaria resolvida a questão da Previdência geral. Não sei porque, ao longo do tempo, entendeu-se que era uma alternativa. Ou uma coisa ou outra. E não é. Está dito literalmente. Mas deu-se outro caminho. Outro ponto é que a reforma tem que atingir o serviço público. O serviço público sim, tem regra que fala em 60 anos para homem e 55 anos para mulher. Então, você precisa uniformizar. Nós vamos mandar a reforma da Previdência, não porque juridicamente fosse necessário. Eu poderia expedir um despacho normativo mandando aplicar a Constituição. Isso seria contestado e, dependendo do que o Supremo decidisse, estaria feita a reforma. Eu sei disso, porque eu fui o relator da reforma da Previdência no tempo do Fernando Henrique e apanhei à beça, porque reuni as duas condições. Depois não sei o que houve. Vai ser uma unificação total.

Há algum partido que hoje faz oposição a seu governo que o senhor pretenda chamar pra conversar?

Eu estou aberto para qualquer diálogo.

Em que momento o senhor percebeu que esse processo do impeachment tinha deslanchado?

Uma semana antes da admissibilidade (de o Senado aceitar o processo vindo da Câmara). Antes, quando deflagrou-se o processo, eu comecei a ser procurado e fui para São Paulo. Eu fiquei três semana lá. Exatamente porque o vice é sempre o primeiro suspeito. E só voltei para cá na última semana. Quando a agressão gratuita começou a se esboçar fortemente. Protestos, agressões. Não dá para ficar parado agora. Aí eu vim para cá e fiquei à disposição. Mas não fiz um movimento, digamos, não conspirei.

Em algum momento a ex-presidente chamou o senhor pra conversar?

Não. Tivesse chamado, eu iria. Com muito gosto. No que eu pudesse auxiliar, auxiliaria. Mas não chamou.

A situação financeira do Rio de Janeiro é muito grave. Será possível alguma nova ajuda?

Não sei. Confesso que precisamos examinar isso, e envolve Fazenda, Planejamento. O que eu fiz, na ocasião das Olimpíadas, foi um benefício ao Rio de Janeiro tendo em vista um evento internacional, porque isso ficaria mal para o Brasil. Já imaginou se as Olimpíadas não vão adiante, qual seria a visão internacional do Brasil? E constatei muito isso agora nessa reunião. Não houve um chefe de estado que não cumprimentasse pelas Olimpíadas. As Olimpíadas produziram um efeito extraordinário para o Rio de Janeiro e para o Brasil. Então, nós acertamos em botar o dinheiro. E o dinheiro foi colocado, claro, em benefício do Estado do Rio, mas fundamentalmente para preservar um esquema internacional.

A pressão do cargo é maior do que o senhor imaginava?

É maior, em face das circunstâncias. Porque, convenhamos, pra resistir a essa oposição, precisa ser bem forte. Mas eu sempre tive tarefas difíceis. Nas duas vezes que fui chamado para a secretaria de Segurança (de São Paulo), eram tarefas difíceis. Nunca me chamaram para uma coisa boa, um Ministério do Turismo.

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