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‘Não dá para governar o Brasil sem o PMDB’, diz FHC em livro

Fernando Henrique Cardoso revela os bastidores dos oito anos em que comandou o país. | Tânia Rêgo/Agência Brasil
Fernando Henrique Cardoso revela os bastidores dos oito anos em que comandou o país. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confessa em seus diários sobre o exercício da Presidência da República que é difícil governar “com os amigos”, porque não se tem o distanciamento para “fazer o que deve ser feito” com eles, e impossível governar sem o PMDB. O tucano narra disputas internas em sua primeira gestão, avalia que elas minam sua autoridade e reclama da mesquinharia nas negociações políticas.

“Essa base de apoio eu a estendi depois das eleições e peguei o PMDB, uma parte importante do PMDB, e vejo assim o futuro também. Seja eu o presidente ou outro que venha me suceder, ninguém vai poder governar o Brasil sem ampla base de apoio”, escreveu FHC em 26 de julho de 1996, ao relatar uma reunião com deputados do PMDB. Apesar disso, o ex-presidente reclama da dificuldade de se negociar com o partido, cheio de divisões internas.

Os relatos estão no primeiro dos quatro volumes do livro “Diários da Presidência” (Companhia das Letras), que chega às livrarias no dia 29 e detalha o cotidiano do poder nos primeiros dois anos do governo FHC, entre 1995 e 1996.

Em vários trechos da obra, o ex-presidente tucano reclama das fofocas e rusgas internas e o consequente desgaste para o governo. No diário, FHC chega a se dizer “amargurado” pelo clima entre seus principais ministros, a maioria amigos pessoais, que engrenaram numa disputa por discordâncias ideológicas, políticas e de estilo. “O que sempre atrapalha, no processo político, são as questões pessoais, as vaidades, às vezes as ambições, e os mais próximos são os que mais nos machucam e atrapalham, porque a gente não tem o distanciamento para poder fazer o que deve ser feito”, confessa o ex-presidente.

FHC demonstra dificuldades em encaixar em seu governo o amigo José Serra, na época chefe do Planejamento, especialmente no Ministério da Fazenda.

O ex-presidente diz ter sido sincero em uma conversa com o atual senador: “Disse, com toda franqueza, que só via duas maneiras de ele entrar no Ministério da Fazenda: ou provocando uma crise, porque a sua entrada provocaria a crise, ou depois de uma crise, para solucionar um impasse. Portanto, se algum ministro fracassasse, ele seria chamado”. Mesmo assim, FHC queria o amigo no governo e disse que não havia “sentido algum, em um governo meu, você longe, dado o tipo de relacionamento que temos e a enorme capacidade que você tem”.

Pelos planos do ex-presidente, Serra deveria ir para um ministério com visibilidade, como Educação ou Saúde. “Meu raciocínio era o seguinte: Serra tem grande potencial político eleitoral, diferentemente dos outros da equipe econômica”. Ele também narra em detalhes uma série de desentendimentos entre seus ministros. Serra tinha uma série de discordâncias com Pedro Malan (Fazenda), por exemplo. Num desses episódios, FHC chega a dizer que os dois travavam um “braço de ferro inútil”.

Outro personagem recorrente nas discussões é o ex-ministro Sério Motta (Comunicações). “Nesses últimos dias fiquei atazanado, e mesmo amargurado, com a relação tão difícil entre mim, Serra e o Sérgio [Motta]”, narra FHC.

Para o ex-presidente, “os inimigos dão menos trabalho do que os amigos próximos. Todo mundo sabe disso, mas é duro sentir na pele”. Em tom de desabafo, diz que não “não dá para governar o Brasil com um grupo de amigos” e narra um pito que deu nos ministros mais próximos durante uma reunião. “Vocês têm ministérios excelentes, são excelentes ministros (...) dediquem-se a isso, meu Deus do céu. (...) Aqui entre nós, todas as coisas recaem sobre a minha cabeça, vão minando minha autoridade.”

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