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Ronan Maria Pinto, empresário envolvido no caso Celso Daniel. | Gilberto Abelha - Jornal de Londrina
Ronan Maria Pinto, empresário envolvido no caso Celso Daniel.| Foto: Gilberto Abelha - Jornal de Londrina

A Polícia Federal deflagrou nessa sexta-feira (1º), a 27ª fase da Lava Jato, chamada Operação Carbono 14, que apura esquema de corrupção em contratos da Petrobrás. Foram cumpridos dois mandados de prisão temporária contra o empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, e contra o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Já o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman foram conduzidos coercitivamente para prestar depoimento.

Além disso, a PF cumpriu ainda oito mandados de busca e apreensão. As medidas foram executadas na capital paulista e nas cidades de Carapicuíba, Osasco e Santo André, todas na Grande São Paulo.

Essa fase aprofunda a investigação sobre o esquema de lavagem de cerca de R$ 6 milhões provenientes do crime de gestão fraudulenta do Banco Schahin, cujo prejuízo foi posteriormente suportado pela Petrobras. Os episódios investigados teriam acontecido em 2004.

Empréstimo fraudulento

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, durante as investigações, constatou-se que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contraiu um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões no Banco Schahin, em outubro de 2004. O montante tinha por finalidade a quitação de dívidas do PT.

A Lava Jato afirma que o empréstimo foi “devolvido” ao Schahin por meio da contratação fraudulenta do banco como operador do navio-sonda Vitória 10.000, da Petrobrás. O contrato firmado em 2009 entre a estatal e o banco foi de US$ 1,6 bilhão.

A força-tarefa descobriu ainda que dos R$ 12 milhões emprestados a Bumlai, pelo menos R$ 6 milhões tiveram como destino o empresário Ronan Maria Pinto. Em depoimento, delatores do esquema e o próprio Bumlai afirmaram que o pagamento foi realizado a Ronan a pedido do PT. A outra metade do montante teria sido dissolvida no pagamento de dívidas de campanha do PT em Campinas.

Agora, o objetivo principal da investigação é esclarecer o que motivou o pedido do empréstimo de Bumlai junto ao Schahin e o repasse à Ronan Maria Pinto.

Esquema remonta ao caso Celso Daniel

Uma das hipóteses investigadas pela PF é que Ronan tenha recebido o dinheiro para não revelar detalhes de um esquema de corrupção no setor de transportes da prefeitura de Santo André que operou entre 1999 e 2001. Uma das empresas envolvidas é de propriedade de Ronan, a Expresso Nova Santo André. O empresário foi condenado pela participação no esquema pela Justiça Estadual de São Paulo no ano passado.

A corrupção em Santo André, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), teria sido uma das justificativas para o assassinato do então prefeito Celso Daniel – que havia sido escolhido como um dos coordenadores da campanha de Lula em 2002.

A suspeita é de que Daniel teria descoberto que a verba desviada em Santo André estava sendo usado para o enriquecimento de participantes do esquema e não para financiar o partido – o que gerou desavenças e culminou no assassinato.

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A primeira associação entre o episódio de Santo André e a Lava Jato aconteceu em 2012, quando o publicitário Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão no processo do mensalão, revelou em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, contou que Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho foram chantageados por Ronan Maria Pinto para não revelar detalhes do esquema de corrupção em Santo André.

Valério, que tentava reduzir sua pena no mensalão, disse que na época Ronan queria R$ 6 milhões para comprar o jornal Diário do Grande ABC, do qual é proprietário atualmente.

A força-tarefa da Lava Jato informou em coletiva nessa sexta-feira (1º) que o assassinato de Celso Daniel não é objeto específico da investigação da PF - o caso é alvo de apuração do Ministério Público de São Paulo (os executores da morte já foram identificados e condenados, mas até hoje o MP-SP tenta chegar aos mandantes). Segundo o procurador Diogo Castor de Mattos, caso a força-tarefa da Lava Jato encontrar evidências sobre o assassinato, o material será compartilhado com o MP-SP.

Arquitetura do esquema

Apesar de a Lava Jato ainda não ter deixado claro qual é a extensão da investigação, em nota distribuída à imprensa informou que foi arquitetado um esquema de lavagem de dinheiro para o empréstimo chegar a Ronan. Teriam participado da montagem dessa “arquitetura” pessoas ligadas ao PT e operadores responsáveis pela lavagem.

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A força-tarefa ainda informou que há provas que apontam para o fato de que a operacionalização do esquema se deu, inicialmente, por intermédio da transferência dos valores de Bumlai para o Frigorifico Bertin – que, por sua vez, repassou a quantia de aproximadamente R$ 6 milhões a um empresário do Rio de Janeiro envolvido no esquema.

Esse empresário carioca realizou transferências diretas para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan Maria Pinto, além de outras pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo empresário para recebimento de valores.

Dentre as pessoas indicadas por Ronan, estava o então acionista controlador do Diário do Grande ABC, que recebeu R$ 210 mil em 9 de novembro de 2004. Na época, o controle acionário do jornal estava sendo vendido a Ronan em parcelas de R$ 210 mil.

A Lava Jato suspeita que uma parte das ações foi adquirida com o dinheiro proveniente do Banco Schahin. Uma das estratégias usadas para conferir aparência legítima às transferências ilegais dos valores teria sido justamente a realização de um contrato de empréstimo simulado, o qual havia sido apreendido em fase anterior da Operação Lava Jato.

Outros envolvidos

Outras pessoas possivelmente envolvidas na negociação para a concessão do empréstimo fraudulento pelo Banco Schahin também são alvo da operação realizada nesta sexta. Identificou-se que um dos envolvidos recebeu recursos de pessoas e empresas que mantinham contratos com a Petrobras e que já foram condenadas no âmbito da Operação Lava Jato. Esses pagamentos ocorreram ao menos até o ano de 2012. As pessoas cuja prisão foi determinada já tiveram prévio envolvimento com crimes de corrupção.

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A 27ª fase da Lava Jato leva esse nome porque investiga fatos que remetem a episódios de pelo menos 12 anos atrás. Carbono 14 é um método de datação de fósseis. Veja quais fatos estão agora sob a lente investigativa da Lava Jato:

Corrupção em Santo André

Um esquema de corrupção no setor de transportes da prefeitura de Santo André (SP) teria operado entre 1999-2001 com o objetivo de financiar o Partido dos Trabalhadores (PT). Uma das empresas de ônibus envolvidas no esquema, a Expresso Nova Santo André, é propriedade de Ronan Maria Pinto. O empresário foi condenado em primeira instância no ano passado pela participação. Agora, foi preso temporariamente por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás.

Morte de Celso Daniel

O prefeito de Santo André, Celso Daniel é assassinado em 2002. Segundo investigações do Ministério Público de São Paulo (SP), o assassinato teria sido motivado por desavenças em relação ao esquema de corrupção dos transportes da prefeitura de Santo André.

Empréstimo do Banco Schahin

O pecuarista José Carlos Bumlai solicita empréstimo de R$ 12 milhões para o Banco Schahin. As investigações encontraram evidências de que R$ 6 milhões foram entregues para Ronan Maria Pinto. A outra metade teria sido dissolvida para a quitação de dívidas de campanha do PT em Campinas.

Chantagem

O que a força tarefa da Lava Jato tenta responder agora é porque Ronan Maria Pinto recebeu parte do empréstimo do Banco Schahin. Uma das linhas de investigação trabalha com a hipótese de que o empresário tenha chantageado o PT sobre o esquema de Santo André que culminou com o assassinato de Celso Daniel.
A suspeita foi levantada após depoimento de Marcos Valério, ainda em 2012, em que o publicitário revelou que o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, contou que Ronan Maria Pinto estava chantageando Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho.

José Dirceu

Segundo a PF, José Dirceu aparece novamente nessa fase da Lava Jato como participante na obtenção do empréstimo junto ao banco Schahin. Segundo o dono do banco, Salim Schahin, quando ainda era ministro da Casa Civil, Dirceu teria telefonado para o banqueiro para tratar de banalidades. De acordo com Salim, foi uma forma de a Casa Civil sinalizar que, se o empréstimo solicitado por Bumlai fosse concedido, o banco seria beneficiado com “favores”.

“Favores”

As investigações da PF apontam que o “favor” retribuído ao banco Schahin veio em forma de contratação fraudulenta da instituição como operadora do navio-sonda Vitória 10.000. O contrato, firmado em 2009 pela Petrobrás, saiu ao custo de US$ 1,6 bilhão.

Delúbio Soares

O ex-tesoureiro do PT também foi citado em depoimento por João Carlos Bumlai, Salilm Schahin e Sandro Tordin (presidente do banco Schahin) como o representante dos interesses do PT junto ao banco para a obtenção do empréstimo em 2004.

Carolina Pompeo

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