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Tiago Cedraz, advogado e filho do presidente do TCU Aroldo Cedraz: bens nas áreas nobres de Brasília. | Reprodução/TV Justiça
Tiago Cedraz, advogado e filho do presidente do TCU Aroldo Cedraz: bens nas áreas nobres de Brasília.| Foto: Reprodução/TV Justiça

Alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela Polícia Federal (PF), o advogado Tiago Cedraz Leite Oliveira, de 32 anos, circulava sem constrangimentos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) até a semana passada, ao lado de um de seus clientes, o deputado Paulinho da Força (SD-SP). Tiago é filho do presidente do TCU, o ministro Aroldo Cedraz, e teve ascensão meteórica — acumulou clientes, sócios, patrimônio, negócios e prestígio político — desde a chegada do pai ao cargo de ministro, em 2007. Uma fatia importante das causa de seu escritório, o Cedraz Advogados, está atrelada à pauta de processos do TCU.

Policiais federais vasculharam na terça-feira (14) a casa e a sede do escritório de Tiago. O jovem foi citado na delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiário de recursos em troca de informações privilegiadas do TCU. Em 2013, o advogado comprou por R$ 2,95 milhões um apartamento de 247 metros quadrados na Asa Sul, bairro nobre de Brasília. O imóvel tem varanda, sala de jantar, escritório, três quartos com varandas, um quarto com vestiário e banheiro privativo, quarto com banheiro para empregada, cozinha e área de serviço. O advogado financiou R$ 2,28 milhões em 61 meses — uma prestação de R$ 37,5 mil por mês, sem levar em conta os juros de 8,2% ao ano.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Tiago afirmou, em nota, que “o aumento do número de processos acompanha o crescimento gradual e orgânico do escritório” e que “as decisões do escritório acerca da alocação de profissionais nos casos patrocinados obedecem tão somente a critérios de expertise dos advogados envolvidos”. A nota também diz que Tiago Cedraz mantém a decisão de não atuar pessoalmente no TCU.

A assessoria de Tiago também argumenta que o escritório dele tem mais de 35 mil processos em todos os ramos do Direito e é um dos mais respeitados e procurados de Brasília. “Quaisquer ilações irresponsáveis e ilegais acerca da atuação dos profissionais que foram ou são do escritório, bem como acerca do patrimônio do sócio Tiago Cedraz, devidamente declarado e compatível com a atuação destacada do advogado, ensejará de imediato as medidas legais cabíveis”, afirma a nota.

A assessoria de imprensa do TCU, por sua vez, diz que o ministro Aroldo Cedraz registra os impedimentos nos processos do filho e sócios desde a sua entrada no tribunal.

Antes, em 2009, Tiago comprou um lote de 1,3 mil metros quadrados no Lago Sul — também área nobre da capital — por R$ 750 mil, R$ 1,07 milhão em valores atualizados. No lote, ele construiu uma casa de 1,5 mil metros quadrados, avaliada pelo setor imobiliário em pelo menos R$ 3 milhões, que é a sede do Cedraz Advogados.

Nascido na Alemanha, durante um doutorado do pai em Medicina Veterinária, Tiago é advogado desde 2006, quando passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ele sempre circulou sem constrangimentos pelo tribunal presidido pelo pai. Em fevereiro, por exemplo, esteve na posse de Vital do Rêgo, o último a assumir a função de ministro do TCU. Há um mês e meio, foi acusado pelo delator Ricardo Pessoa de receber R$ 50 mil mensais para vender informação do tribunal, além de R$ 1 milhão para influenciar em favor da UTC em processo sobre a usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Mesmo com o burburinho da suspeita entre os integrantes do TCU, o filho do presidente não se inibiu.

Périplo com Paulinho

Na última quarta-feira (8), ele bateu na porta de Vital, relator de um processo que investiga Paulinho da Força, acompanhado do parlamentar. O ministro não estava no gabinete. Sócios de Tiago atuam nos autos. Auditores investigam desde 2010 uma suspeita de dano ao Erário em contrato da Força Sindical com uma fundação. Paulinho e Tiago são próximos. O deputado preside o Solidariedade, e o advogado também integra a executiva nacional do partido, como secretário de Assuntos Jurídicos.

O advogado tem sócios de seu escritório — montado em 2007, mesmo ano da posse do pai como ministro — na linha de frente dos processos no TCU, enquanto se ocupa de autos de clientes no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF). Clientes com demanda no TCU surgiram basicamente depois da chegada de Aroldo Cedraz (ex-deputado federal pelo PFL, hoje DEM) ao TCU, muitos interessados na desenvoltura do advogado no tribunal.

Um único sócio, Thiago Groszewicz Brito, atua ou atuou em 61 processos do TCU. Outra sócia, Valeria Bittar Elbel, defende clientes em 24 autos no tribunal. Ela saiu da sociedade no mês passado. Há casos em que os sócios atuam para empresas interessadas em denunciar irregularidades em concorrências públicas, com o objetivo de anular vitórias de empreendimentos concorrentes. É o caso da defesa jurídica de um empresário que atua com operações de terminais portuários em Santos (SP), São Sebastião (SP) e Recife. A procuração aos sócios de Tiago para um processo movido contra outro operador de terminal portuário foi dada pelo empresário em outubro de 2014.

Em abril e maio deste ano, o ministro Aroldo Cedraz atuou como relator de um recurso na área de portos. Ele defendeu em plenário, em 29 de abril, a possibilidade de arrendatários prorrogarem contratos sem licitação, o que beneficiaria empresas nos portos de Santos e do Pará. Diante da proposta, o julgamento do recurso foi adiado. Na sessão seguinte, em 6 de maio, a sugestão não constou do voto de Cedraz, e acabou derrotada em plenário.

Tiago advoga para Paulinho da Força no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde também defende Itaipu Binacional e o município de Salvador, entre outros. Entre seus ex-sócios mais atuantes no TCU, Valeria Elbel também tem filiação partidária. Ela ingressou em 2013 no PTB do DF.

“Tiago me disse que tinha um contrato profissional com Ricardo Pessoa, que foi advogado dele. Não existe constrangimento para o partido. Era só um contrato de prestação de serviço”m diz Paulinho, que nega ter ido ao TCU na semana passada para tratar do processo no tribunal. “A conversa era sobre um projeto de lei, referente ao novo Código de Processo Civil.”

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