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Terminal de Contêineres de Paranaguá: obra de ampliação foi tocada por concessionária privada | Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo
Terminal de Contêineres de Paranaguá: obra de ampliação foi tocada por concessionária privada| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo

Empresas foram citadas no caso Banestado

As empresas Tucumann e Redram, responsáveis pela obra da ampliação do cais do Porto de Paranaguá, foram citadas no Caso Banestado, que também envolve o doleiro Alberto Youssef. Em 2009, o juiz Sérgio Moro, que hoje conduz a Lava Jato, chegou a condenar diretores das empresas a ressarcir os cofres públicos em US$ 1 milhão cada. Mas a sentença, de 1.º grau, foi anulada em instâncias superiores.

Os empresários foram acusados de receber empréstimos internacionais milionários concedidos de forma irregular pelo Banestado em 1998. A conclusão de Moro, na época, foi de que o montante teria sido utilizado como caixa 2 na campanha de reeleição do ex- governador do Paraná Jaime Lerner.

Na época, Youssef firmou acordo de delação e não foi preso. Por ter reincidido no crime, ele foi condenado em 2014 pelo Caso Banestado, que envolvia a lavagem de dinheiro.

Com o novo acordo de delação da Lava Jato, ele deverá cumprir no máximo cinco anos de detenção.

Mauro Marder, atual diretor da Redram e um dos envolvidos no processo, diz que a empresa "nunca teve participação" no esquema do Banestado. A Tucumann também nega participação.

Em São Paulo, MP abriu investigações

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu investigações para apurar se o doleiro Alberto Youssef intermediou e recebeu propina por contratos firmados com a Sabesp (estatal paulista de água), o Metrô e refinarias da Petrobras no estado. A promotoria toma como base a planilha com 750 obras apreendida com o doleiro, após a divulgação de informações pela imprensa no fim de 2014. No Paraná, o Ministério Público abriu investigação sobre o aporte de R$ 2,5 milhões feito pela Paranaguá Previdência, ligada à prefeitura da cidade litorânea, a um fundo gerido por Youssef. Não há informações sobre outros procedimentos no estado relacionados a fatos investigados na Lava Jato.

Além da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), outro empreendimento do Paraná pode entrar na mira da Operação Lava Jato. Uma planilha apreendida com o doleiro Alberto Youssef no ano passado, que relaciona 750 contratos em todo o país, faz três menções a obras privadas de ampliação do cais do Porto de Paranaguá, no litoral do estado.

INFOGRÁFICO: Veja dados da planilha apreendida com Alberto Youssef

A planilha relaciona obras no porto a três valores: um de R$ 4,3 milhões e dois na cifra de R$ 10,3 milhões (aparentemente duplicados). Os investigadores da Lava Jato suspeitam que os valores podem ter abastecido o esquema montado por Youssef para o pagamento de propina a políticos. Os empresários responsáveis pelas obras negam qualquer irregularidade.

O juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato na Justiça Federal, já afirmou que a planilha sinaliza que o "esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além" da Petrobras e abarcaria outras obras públicas e privadas. O Ministério Público Federal (MPF) deve se debruçar sobre o documento nos próximos meses, já que o foco, hoje, está nos contratos investigados na estatal de petróleo.

Contêineres

A obra citada na planilha é privada e ocorreu no Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), uma concessão que funciona dentro do porto. Orçada em R$ 170 milhões, a ampliação do cais de atracação começou em 2012. O consórcio Redram-Tucumann venceu a concorrência, realizada no ano anterior.

Na planilha de Youssef, as obras no porto são relacionadas à construtora Redram, sediada em Curitiba, e ao responsável pelo setor de compras, Julio Muller Neto, junto ao telefone da mesa dele. Muller diz que "não tem ideia" de como seu nome foi parar na planilha e que só ouviu falar de Youssef pela imprensa.

A Redram e a Tucumann, que atuavam em conjunto, dizem que os valores da planilha se referem a uma cotação de compra de tubos para a obra feita com a empresa Sanko Sider, que é investigada por participação no esquema da Lava Jato. Ambas afirmam que esse negócio não foi fechado. Em nota, a Sanko afirma que não há registro de venda ao consórcio, mas uma "costumeira pesquisa de preços" que "não guarda relação com os fatos investigados".

Os valores da planilha batem com os orçamentos apresentados pela Sanko, aos quais a reportagem teve acesso. Foram duas cotações, apresentadas em maio e em outubro de 2011, para a venda de tubos de aço carbono sem revestimento.

O sócio da Sanko, Marcio Andrade Bonilho, responde a dois processos na Justiça Federal pela participação no esquema da Lava Jato. Segundo o MPF, a Sanko seria utilizada para efetuar contratos superfaturados e repassar parte dos valores a Youssef. Bonilho admitiu, em depoimento à CPI Mista da Petrobras, ter repassado R$ 33 milhões ao doleiro em comissão por "intermediar negócios com construtoras". Ele responde aos processos em liberdade.

A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) informou, por e-mail, que as operações da TCP são privadas e que os portos "englobam mais de 20 empresas arrendatárias, habilitadas para a execução de operações portuárias, e que realizam contratações de obras diretamente com empreiteiras", sem passar pelo aval da Appa.

Também por e-mail, o TCP assinalou que o consórcio Redram-Tucumann respeitou "os processos estabelecidos para a compra de insumos e materiais e para a subcontratação de terceiros, o que inclui a cotação de ao menos três fornecedores para cada item", o que teria resultado em mais de uma centena de fornecedores subcontratados.

A Tucumann e a Redram afirmaram que nunca fizeram negócios com a Sanko e que desconhecem a ligação com os negócios de Youssef. O advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, não foi localizado ontem.

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