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Sede da Odebrecht em São Paulo: setor de propinas fez pagamentos no Brasil e no exterior. | Nelson Almeida/AFP
Sede da Odebrecht em São Paulo: setor de propinas fez pagamentos no Brasil e no exterior.| Foto: Nelson Almeida/AFP

O ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas Filho afirmou em depoimento ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin que o “departamento da propina” da empreiteira movimentou cerca de US$ 3,39 bilhões (R$ 10,5 bilhões) em pagamentos de propina e caixa 2 entre 2006 e 2014, no Brasil e no exterior.

O depoimento prestado na noite de segunda-feira (6), na sede do TSE, ocorreu no âmbito da ação que investiga abuso de poder político e econômico da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, reeleita na campanha presidencial de 2014. Mascarenhas Filho também é delator da Lava Jato.

O departamento da propina da Odebrecht – chamado por Mascarenhas de “trepa moloque” – era responsável não somente por repasses de recursos ilícitos para campanhas eleitorais, como também para pagamento de propinas e de resgates de funcionários da empreiteira sequestrados em países atingidos por conflitos armados ou grande violência urbana.

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O valor do caixa 2

Do total de recursos ilegais, entre 15% e 20% (de R$1,5 bilhão a R$ 2,1 bilhões) foram destinados para financiar campanhas eleitorais no Brasil via caixa 2, segundo Mascarenhas. O restante era usado para pagamento de propina, obras e despesas no exterior, disse o ex-executivo, um dos 78 delatores da empreiteira.

No depoimento, ele detalhou os pagamentos com recursos ilegais da empresa. Segundo relatos, Mascarenhas apresentou uma planilha com valores repassados durante os oito anos: em 2006 - US$ 60 milhões; 2007 - US$ 80 milhões; 2008 - US$ 120 milhões; 2009 - US$ 260 milhões; 2010 - US$ 420 milhões; 2011 - US$ 520 milhões; 2012 - US$ 730 milhões; 2013 - US$ 750 milhões e 2014 - US$ 450 milhões. Os pagamentos, conforme Mascarenhas, eram feitos em hotéis onde ficavam hospedados os intermediários.

República Dominicana

Segundo Mascarenhas, com a avanço das investigações da Operação Lava Jato, o setor de propina teve que migrar para a República Dominicana. A conta em que eram armazenados os recursos ficaria fora do país e quando era necessário fazer algum pagamento, sempre era em espécie. De acordo com ele, em razão de as regras serem mais rígidas nos Estados Unidos, as transações em solo norte-americano eram evitadas.

Mascarenhas citou negociações com o marqueteiro de campanha presidencial do PT em 2014, João Santana, e com sua mulher Mônica Moura. Segundo ele, as tratativas com Mônica ocorriam em períodos próximos às eleições. Ela estaria entre os cinco maiores recebedores de pagamentos do setor. Segundo ele, apenas em 2014 Santana recebeu U$ 16 milhões via caixa 2.

O ex-executivo não soube detalhar, contudo, as datas dos pagamentos ao casal, mas afirmou que há um servidor na Suíça em que estão listados todos os repasses. Do total, 60% dos recursos teriam sidos passados no Brasil e o restante no exterior. Todos os pagamentos feitos eram em real, mas calculados com base no dólar.

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Campanha de Dilma

No depoimento, Mascarenhas disse ainda que sabia que o pagamento para Santana era feito em razão de ele estar fazendo a campanha “dela”. Questionado na audiência quem era “ela”, o ex-executivo respondeu que “com certeza era a presidente Dilma Rousseff” porque todo mundo sabia para quem João Santana estava trabalhando.

Mascarenhas disse que a relação com Santana não se restringiu à campanha no Brasil. Disse que o marqueteiro e Mônica Moura foram pagos pelas campanhas também de El Salvador, Angola, Venezuela, Republica Dominicana e Panamá.

O ex-executivo também disse que a relação com integrantes do primeiro escalão do governo era feita por Marcelo Odebrecht. Sobre as planilhas de repasses de recursos para o PT, ele afirmou que a que levava o nome ‘Italiano’ era uma referencia ao ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci e que o ‘Pós-Itália’, era uma menção ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

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O que dizem os acusados

A defesa de Santana não se manifestou sobre o depoimento. A defesa de Temer na ação no TSE disse que respeita o sigilo imposto ao conteúdo dos depoimentos e “somente após o término das oitivas será possível” avaliar, “uma vez verificadas inúmeras contradições nas versões das testemunhas-colaboradoras”.

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