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cenário conturbado

Os 7 fatores de Londrina

O noticiário político do estado dá a impressão de que em nenhum outro lugar do Paraná os escândalos são tão recorrentes como em Londrina, na região Norte. E não é para menos. São 13 anos de crises constantes que levam a questionar o que acontece na cidade.

Para promotores, ativistas sociais e cientistas políticos consultados pela reportagem a resposta envolve a combinação de uma série de fatores. A partir das entrevistas, a Gazeta do Povo relaciona as características marcantes de Londrina que fazem a cidade parecer sempre em meio a uma tormenta política:

- As dimensões da cidade

Londrina vive uma espécie de "síndrome da segunda maior cidade do estado". Tal qual acontece em Campinas (SP), que vira e mexe está envolta em denúncias, os problemas que ocorrem em Londrina são considerados relevantes em função da importância da cidade dentro do estado. Diferentemente de escândalos em municípios menores, que chamam mais a atenção da população regional, o que acontece em Londrina acaba atraindo os olhares dos paranaenses. Contudo, o foco em Londrina é mais restrito. Ao contrário de Curitiba, que concentra muitas instituições públicas para serem fiscalizadas, o olhar em Londrina é voltado para o que está sendo feito na prefeitura e na Câmara Municipal. Além disso, o fato de as relações serem mais próximas e as pessoas se conhecerem mais do que em grandes centros, faz com que quaisquer anormalidades sejam mais facilmente percebidas.

- Oposição presente

Para um governante, não contar com a maioria dos integrantes da casa legislativa como aliados significa ter mais dificuldade para executar planos. Contudo, a existência de oposição é saudável para a democracia. Em Curitiba, por exemplo, dos 38 vereadores, apenas cinco declaram que não são da bancada do prefeito. Na Assembleia Legislativa do Paraná e no Congresso Nacional, a oposição também é minúscula. Já em Londrina, ao menos nos últimos 13 anos, os opositores estão em grande número e exercendo forte pressão. Recentemente, a situação não conseguiu impedir a abertura de uma comissão processante contra o prefeito Barbosa Neto (PDT), nem ocupar os cargos mais importantes da comissão. Situação bem diferente do que costuma ocorrer em CPIs do Congresso, por exemplo.

- Grupos políticos definidos

Historicamente, os adversários políticos vivem uma disputa acirrada em Londrina. Essa luta de forças é bem marcada, com poucas mudanças de posição e opinião. Para o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), há uma estrutura praticamente fixa de enfrentamento entre três grupos fortes: um de esquerda, um de centro e outro de direita. E eles sempre buscam atingir uns aos outros, municiando investigações. Estão em constante vigilância e cada irregularidade cometida pelo adversário vira moeda no jogo político. O grupo adversário é visto como o inimigo a ser batido. Não há condescendência. Em outras cidades, o corporativismo ou a decisão de não comprar briga acabam freando esse enfrentamento.

- População que cobra

As manifestações que acontecem em Londrina em protesto a casos específicos, como denúncias envolvendo vereadores, por exemplo, costumam reunir mais pessoas que eventos semelhantes em Curitiba. Ao contrário do que ocorre em outras localidades do estado, os manifestantes não são necessariamente pertencentes ao grupo político adversário: são pessoas do povo, conscientes e desgostosas com desmandos. Além disso, há mais grupos organizados, com mais tempo de atuação. Ações de cobrança acontecem frequentemente em reuniões de grupos como Lions e Rotary e também por entidades de classe, como associações comerciais. Não raro os promotores públicos da cidade são chamados a dar explicações em igrejas e associações de moradores.

- Promotores atuantes

O trabalho do Ministério Público em Londrina é destaque no estado. Não foi à toa que alguns promotores da cidade foram chamados para ajudar nas investigações do caso Diários Secretos, envolvendo a Assembleia Legislativa do Paraná. A quantidade de ações civis públicas ajuizadas em Londrina em vários anos chegou a superar o número de processos protocolados em Curitiba. Uma característica do MP de Londrina é a de agir em grupo. Usualmente as investigações são tocadas por vários promotores, de setores diferentes, que fazem um trabalho integrado.

- Políticos na mira

Nas crises recorrentes em Londrina, outra característica marcante é o fato de os políticos envolvidos estarem muito expostos: ou pela ligação com meios de comunicação, ou porque as denúncias chegavam a atingir diretamente a imagem deles. No escândalo do momento, há prisões de assessores diretos e problemas verificados nas empresas da família do prefeito Barbosa Neto. Em uma investigação recente, a mulher de Barbosa Neto era apontada entre os envolvidos. Essa aproximação amplia a pressão popular. Afinal, uma suspeita de licitação fraudada que não é capaz de aproximar o suposto desvio da figura do político, por exemplo, não tem o mesmo poder de causar comoção popular e indignação.

- Imprensa vigilante

Os entrevistados também citaram a imprensa londrinense como um dos fatores que formam a imagem combativa da cidade. O acompanhamento constante dos assuntos, a pressão por respostas, a atenção aos vários desdobramentos possíveis marcam a divulgação dos escândalos políticos em Londrina. "Em Curitiba, os assuntos são substituídos rapidamente. Em Londrina, um escândalo fica bem mais tempo na mídia", avalia o procurador Bruno Galatti. Vários veículos de comunicação fiscalizam e cobram os políticos e também sempre pressionam o Ministério Público em busca de informações sobre o andamento de investigações.

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