• Carregando...
“Cada bandeira tem um padrão definido em legislação específica. O Exército pode até fechar a fábrica se fizermos as bandeiras fora dos padrões.”
Sérgio Tomasseto, proprietário da Bandvel | César Machado/Vale Press
“Cada bandeira tem um padrão definido em legislação específica. O Exército pode até fechar a fábrica se fizermos as bandeiras fora dos padrões.” Sérgio Tomasseto, proprietário da Bandvel| Foto: César Machado/Vale Press

História

Venda de bandeiras começou após falência de sorveteria

No início da carreira no ramo de confecção de bandeiras, Tomasseto enchia a sua Belina 76 de flâmulas nacionais e viajava de Cascavel a Foz do Iguaçu para tentar vendê-las a turistas nos grandes hotéis da fronteira. O ofício apareceu depois que uma tentativa de montar uma rede de sorveterias na Região Oeste naufragou.

"Demos um passo maior que as pernas com a sorveteria.Quando fechei, resolvi comprar duas máquinas de costura de um vizinho que fazia bandeiras e também não estava indo bem". Ele conta que, à época, toda sua produção cabia num quarto de 20 metros quadrados. "A gente ia costurando e depois tinha que abrir no salão da igreja para ver como ficava", relembra.

Além da falta de estrutura, o maior problema enfrentado pelo "bandeireiro" no início foi o descrédito dos amigos e parentes. "Mas quem é que vai comprar bandeira?", era a pergunta recorrente nos primeiros momentos.

Quinze anos depois, o governo federal é o principal cliente. Hoje, a empresa tem um barracão de 2,1 mil metros quadrados e quarenta funcionárias. A cada semana, 3 mil metros de tecido são transformados em novas bandeiras.

De todo este pano, 70% é verde e amarelo. Apesar de a empresa já ter feito pavilhões de mais de 100 países e estados, a bandeira do Brasil é a especialidade da casa.

"Estamos aprendendo a respeitar a bandeira como símbolo ao passo que a ditadura vai ficando longe no passado", analisa o empresário. De olho na Copa do Mundo e na Olimpíada, ele garante que é tempo de investir e aumentar a produção. "Vamos fazer mais bandeiras e vê-las brilhando no alto. A brasileira é a mais bonita e original do mundo", acredita Tomasseto.

  • Veja: Pavilhão Nacional é a maior bandeira hasteada de forma permanente no mundo

Na tarde de 1.º de janeiro de 2011, a presidente eleita Dilma Roussef deve subir a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília (DF), para receber do presidente Lula a faixa presidencial. Alguns minutos antes, Dilma participa da cerimônia solene de hasteamento do Pavilhão Nacional na Praça dos Três Poderes. O pavilhão é uma enorme bandeira do Brasil de 280 metros quadrados que, desde 1972, fica hastea­da permanentemente na praça em um mastro de 94 metros de altura no centro da praça. O que pouca gente sabe é que esta enorme flâmula, um dos símbolos da República, é fabricada no Paraná, na cidade de Cascavel.

Desde 2000, é da empresa cascavelense Bandvel a responsabilidade de produzir todas as bandeiras dos órgãos oficiais do governo federal e das embaixadas brasileiras no exterior. "Para nós é motivo de grande orgulho, principalmente depois de pensar em tudo o que nós passamos para chegar até aqui", afirma Sérgio Tomasseto, gaúcho radicado há 25 anos no Oes­­te parananese que dirige a empresa.

A bandeira gigante oficial é a única presença paranaense garantida na posse de Dilma e nos primeiro momentos do novo governo petista. Pelo me­­­nos enquanto os políticos locais não conseguem confirmar seus nomes no ministério da nova presidente.

Tomasseto, o homem por trás das bandeiras no Planalto, conta que começou no ramo em 1996, depois de ver derreter o outro empreendimento da família (leia texto abaixo). Procurou aperfeiçoar o negócio, sempre mirando um grande contrato com órgãos oficiais.

O momento chegou em 2000. Segundo Tomasseto, em abril daquele ano, por iniciativa da embaixada brasileira, a prefeitura de Paris (França) ornamentou a principal a avenida da cidade, a Champs Elysées, com bandeiras brasileiras alusivas aos 500 anos do descobrimento do Brasil. Foi a Bandvel quem produziu as bandeiras, as primeiras da empresa usadas oficialmente pelo cerimonial da República.

Desde então, Tomasseto conta que saiu vitorioso de todas as licitações realizadas anualmente pelo governo federal para a aquisição de novas bandeiras. A reposição obrigatória do material determina a produção intensa.

Tomasseto garante que seu preço é inferior e que seu "know how" está muito acima dos concorrentes. Tanto na fabricação de bandeiras pequenas, como na confecção da "bandeira gigante".

"A empresa que fornecia anteriormente o material tentou fazer lobby e dizer que eu não tinha capacidade de produção. Então eu mandei as bandeiras ao representante do governo e falei: ‘Se vocês não aprovarem não precisa pagar, nem devolver o material´. Eles aprovaram", orgulha-se.

Segundo Tomasseto, suas bandeiras chamaram atenção pela qualidade no atendimento aos rígidos padrões impostos pelo Exército brasileiro. "Cada bandeira tem um padrão definido em legislação específica. O Exército pode até fechar a fábrica se fizermos as bandeiras fora dos pa­­drões", explica.

A peça que marcará presença na possse de Dilma já está pronta. Será a ultima do lote de 13 unidades adquirido em 2010. A próxima licitação deve ocorrer em fevereiro do ano que vem. A Bandvel vai concorrer e espera ganhar no­­­vamente. O preço é "segredo de Estado", brinca Tomasseto.

O "bandeireiro do Planalto" explica que quem paga pelo lote anual é a Secretaria de Planeja­­­mento e Gestão do Governo do Distrito Federal. "Antes cada estado pagava uma bandeira, mas dava muita confusão. Uns pagavam no ato, outros não", explica.

Apartidário pela natureza do ofício, Tomasseto ressalta que os critérios da licitação são técnicos e que a relação de sua empresa com o Planalto é "institucional", independe do grupo político no exercício do poder. Mesmo assim, manda um recado para a nova presidente do Brasil. "Como cidadão e empresário estou na torcida para que ela faça o melhor e o país consiga continuar crescendo", diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]