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“Cobraram nomes, uma lista de políticos que não honram o mandato popular. A meu ver, essa cobrança é distorção de papel do parlamentar.”Jarbas Vasconcelos(PMDB-PE), senador, que não apresentou dados concretos sobre a corrupção no partido | José Cruz/ABr
“Cobraram nomes, uma lista de políticos que não honram o mandato popular. A meu ver, essa cobrança é distorção de papel do parlamentar.”Jarbas Vasconcelos(PMDB-PE), senador, que não apresentou dados concretos sobre a corrupção no partido| Foto: José Cruz/ABr

Fim do foro privilegiado será meta

BRASÍLIA - Folhapress

Foi lançada ontem, em Brasília, uma nova frente parlamentar anticorrupção. A composição da frente ainda é incerta, mas a maioria de seus integrantes pertencia a partidos de oposição ao governo Lula. Até o início da noite de ontem, o grupo era formado por 20 deputados e cinco senadores, incluindo Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

Os organizadores do grupo são os deputados Arnaldo Jardim (PPS-SP), Fernando Gabeira (PV-RJ), Gustavo Fruet (PSDB-PR), Raul Henry (PMDB-PE) e Rita Camata (PMDB-ES). "Vamos ao TCU para discutir formas de fiscalizar os fundos de pensão. Também vamos apoiar a extinção do foro privilegiado para os congressistas e o voto aberto em todas as decisões, exceto na eleição da direção da Casa", disse Jardim. A divulgação das notas fiscais dos gastos dos congressistas com as verbas indenizatórias, por enquanto, não está na pauta.

Os peemedebistas ontem promoveram a primeira represália contra o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que havia acusado a maior parte do próprio partido de ser corrupta, em entrevista à revista Veja. Jarbas foi destituído da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado pelo líder do PMDB na Casa, Renan Calheiros (AL), um dos alvos do pernambucano na entrevista. Já Jarbas, em discurso no Senado, reiterou as críticas que havia feito ao PMDB à revista. Mas, ao contrário do esperado, não revelou informações "bombásticas" contra o partido.

O senador de Pernambuco não apresentou nomes de integrantes do partido que estariam envolvidos em ações de corrupção. "Não vim citar nomes. Para isso existe a Polícia Federal, o Tribunal de Contas. Nunca tive, não tenho e não desejo ter vocação para ser paladino da ética", afirmou.

Jarbas disse ainda que não lhe cabe revelar a esperada "lista" de políticos peemedebistas envolvidos em atos de corrupção. "Cobraram nomes, uma lista de políticos que não honram o mandato popular. A meu ver, essa cobrança é distorção de papel do parlamentar, que deve ser o de lutar pela ética e políticas públicas que façam o país avançar."

No discurso, ele mencionou apenas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), dois peemedebistas que haviam sido alvo das críticas de Jarbas feitas à Veja. Mas o senador afirmou apenas que já "disse tudo o que tinha a dizer" sobre os dois na entrevista.

Jarbas, porém, citou como uma "prova clara, transparente e inequívoca" do que disse na entrevista a disputa do PMDB pelo comando do Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas e Eletronuclear, que administra cerca de R$ 6 bilhões.

O senador ainda confirmou que vai apresentar um projeto de lei para impedir os partidos políticos de indicarem nomes para o cargo de diretor financeiro de estatais. O peemedebista afirmou que sua proposta inclui ainda a necessidade de que o cargo seja ocupado por funcionários de carreira.

No discurso, o senador defendeu também, de forma genérica, o resgate da ética na política como uma espécie de "tábua de salvação" para o Congresso. "Ou resgatamos essa lógica para o exercício da política ou vamos continuar estampando capas de jornais da pior forma possível. Não me agradou dizer o que eu disse (na entrevista à Veja)."

Afastamento

A bancada do PMDB no Senado avalizou a decisão de Renan Calheiros de afastar Jarbas Vasconcelos da CCJ. Durante reunião da bancada realizada ontem, peemedebistas fizeram duros discursos contra Jarbas e manifestaram apoio à decisão tomada por Renan. Coube à senadora Roseana Sarney (MA), filha de José Sarney, o discurso mais exaltado contra o pernambucano.

Além de cobrar uma posição mais firme da direção nacional do PMDB, os senadores, capitaneados por Geraldo Mesquita (AC), queriam fazer uma interpelação judicial contra Jarbas. Mas não houve decisão sobre essa proposta. Pedro Simon (PMDB-RS), que antes havia apoiado Jarbas, ficou calado.

Sobre seu afastamento da CCJ, Jarbas disse ter recebido a decisão com surpresa. "Nem mesmo na ditadura tive meus direitos políticos cerceados. Agora, em pleno regime democrático, sou impedido de exercer meu mandato em sua plenitude", disse Jarbas. Como as indicações para as comissões são realizadas pelo líder do partido, o senador abriu mão ainda de ser titular das Comissões de Relações Exteriores, Educação e Direitos Humanos e da suplência da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado.

Apesar da destituição de Jarbas da CCJ, o senador só deixará de integrar a comissão caso queira. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), informou que colocará à disposição do peemedebista sua vaga na CCJ.

Aposentadoria

Além das represálias do PMDB, Jarbas foi ontem alvo de denúncias feitas pelo deputado federal pernambucano Silvio Costa (PMN). Costa chamou o senador de farsante, parasita do dinheiro público, corrupto e frouxo. Com documentos que exibiu da tribuna, ele disse que em 1992 Jarbas foi nomeado procurador da Assembleia de Pernambuco e, apenas um ano depois, se aposentou com um salário vitalício de R$ 17.364. O deputado negou que estivesse a serviço do PMDB.

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