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Pessuti e Requião na época em que eram aliados: ex-vice é acusado de manobrar para isolar o antigo parceiro político | Júlio Covello/SECS
Pessuti e Requião na época em que eram aliados: ex-vice é acusado de manobrar para isolar o antigo parceiro político| Foto: Júlio Covello/SECS

Reação

Em Curitiba, afastados prometem ir à Justiça

Anderson Gonçalves e Euclides Lucas Garcia

Insatisfeitos com a decisão da executiva estadual, integrantes do diretório do PMDB em Curitiba pretendem recorrer à Justiça para tentar anular a intervenção. "Foi uma decisão autoritária e monocrática, um golpe contra a democracia interna e contra todos os filiados", disse o deputado federal João Arruda. Além de contestar a decisão judicialmente, eles pretendem levar o assunto ao presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp. "Não se dissolve um diretório de uma hora para outra. Há todo um processo [a ser respeitado], com testemunhas e direito à defesa", completou Arruda.

Também integrante da ala requianista do PMDB, o deputado federal Marcelo Almeida não vê a medida como uma retaliação, mas acredita que é resultado da falta de diálogo e equilíbrio da direção estadual. "Isso acaba ajudando a dividir ainda mais o partido. Enfraquece em um momento ruim, quando estamos nos preparando para as próximas eleições." Almeida disse que vai procurar o deputado Osmar Serraglio, presidente estadual da legenda, e Orlando Pessuti, para discutir a possibilidade de a decisão ser revista.

Críticas

Escolhido para presidir a executiva curitibana, o deputado estadual Stephanes Júnior não economizou nas críticas à atuação de Roberto Requião no comando da sigla na capital. "Tenho certeza de que serei um presidente melhor que o Requião. Darei espaço para as pessoas falarem, vou democratizar o partido, trarei lideranças e novos filiados. Nas mãos do Requião, o PMDB tinha um ditador e um monte de pelegos. O modelo de ditadura e de peleguismo acabou." Juntamente com Stephanes, o deputado estadual Jonas Guimarães participou da reunião que decidiu pela intervenção. Ele negou se tratar de uma tentativa de prejudicar Requião. "Em muitos municípios, o partido está deixado de lado. Em Curitiba, por exemplo, fizemos um único vereador porque o partido não foi trabalhado. Se o Requião for candidato [em 2014], terá um partido forte."

Uma decisão do diretório estadual do PMDB tomada na noite de segunda-feira pegou de surpresa algumas das principais lideranças do partido no Paraná. Foram dissolvidos 72 diretórios municipais do partido, inclusive o de Curitiba, que era comandado pelo senador e ex-governador Roberto Requião. A medida foi encarada como uma manobra para enfraquecer o grupo de Requião, que tenta emplacar uma nova candidatura ao governo do estado em 2014, mas que já havia sido derrotado na eleição do diretório estadual no fim do ano passado pela ala alinhada com o governador Beto Richa (PSDB).

Segundo nota emitida pela executiva estadual peemedebista, a dissolução dos diretórios teve por base a Resolução 01/2012, segundo a qual estará sujeita à dissolução a direção partidária dos municípios em que o PMDB não fez 10% dos votos nas eleições municipais. Considerando os resultados das eleições de 2012, a executiva estadual decidiu intervir na maioria dos diretórios que não alcançaram o índice. Nessa relação estão, além de Curitiba, cidades como Londrina, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu.

Tucanos e petistas

Na capital, a presidência estava desde 2011 nas mãos de Requião, destituído do cargo e que dará lugar ao deputado estadual Stephanes Júnior, aliado de Richa. Ele terá como companheiros de executiva Doático Santos, o ex-governador Orlando Pessuti, o deputado estadual Alexandre Curi e o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures. Nenhum deles faz parte da ala liderada pelo senador. Doático e Curi são apoiadores de Richa, que deve disputar a reeleição. Já Pessuti e Rocha Loures têm proximidade com o PT, que deve lançar a ministra Gleisi Hoffmann como candidata ao governo.

Pessuti esteve próximo de fechar aliança no início do ano com o governador, mas acabou se aproximando do PT. Isso indica que, a partir de agora, o apoio do PMDB em 2014 será disputado entre Gleisi e Richa. Pessuti ainda alimenta o sonho de ele próprio concorrer ao governo.

Alerta

Secretário-geral do PMDB paranaense, Pessuti nega que a dissolução tenha sido uma ação orquestrada com vistas a isolar Requião e seu grupo político. "Foi feito um alerta em abril do ano passado de que os municípios que não tivessem êxito nas eleições municipais poderiam sofrer dissolução. Todos sabiam dessa norma, todos sabiam dessa regra. Os que não cumpriram recebem a intervenção para que possam reestruturar o partido", explicou. Ainda assim, alguns municípios que não atingiram o índice ficaram de fora, como Maringá. Segundo Pessuti, a cidade não atingiu 10% dos votos, mas teve um feito eleitoral importante que foi a eleição do vice-prefeito.

Em um pronunciamento divulgado em seu site, Requião classificou a medida como uma decisão de lideranças que "nunca tiveram relação com o PMDB histórico". "Os que tentaram destruir o PMDB na eleição apoiando candidatos de outros partidos por todo o Paraná propõem e conseguem, na executiva que dominam, uma intervenção em cerca de 80 diretórios municipais do partido no Paraná. É o começo do fim do PMDB", declarou.

Decisão da cúpula surpreende peemedebistas do interior

Bruna Komarchesqui e Luiz Carlos da Cruz, correspondentes

Nos grandes municípios do interior do Paraná, a decisão da executiva peemedebista também foi recebida com surpresa e indignação. "Não sei quais os motivos [que levaram à dissolução]. Mas, se for pelo que me falaram, é uma estupidez. Estamos em um momento de construir, não de destruir", disse o vice-presidente destituído do PMDB de Londrina, João Mendonça. No ano passado, o partido teve como candidato a prefeito o deputado estadual Luiz Eduardo Cheida, que fez 5,11% dos votos e hoje é secretário de Meio Ambiente do governo Beto Richa.

A vereadora londrinense Elza Correia disse ter "estranhado" a decisão e a atribuiu a uma disputa interna. "O partido está se reorganizando, fez uma vereadora, faz trabalho de filiação. Estamos caminhando bem. Qual o critério da intervenção? ‘Ah, não fez 10% dos votos na cidade’. Onde fez?", criticou.

Em Cascavel, no Oeste paranaense, a dissolução deve ser contestada na Justiça. Atual presidente do diretório dissolvido, Walter Parcianello, irmão do deputado federal Hermes Parcianello, classificou a decisão como um "golpe", resultado da "inexperiência do comando [estadual] ou de um jogo de interesse desconhecido". Em 2012, Walter foi candidato a vice-prefeito na chapa de José Lemos (PT), que disputou o segundo turno com o prefeito reeleito Edgar Bueno (PDT).

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