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Protesto a favor da Lava Jato e contra a então presidente Dilma organizado pelos movimentos que foram favoráveis ao impeachment: sentimento de que governo Temer promoveu “traição” | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Protesto a favor da Lava Jato e contra a então presidente Dilma organizado pelos movimentos que foram favoráveis ao impeachment: sentimento de que governo Temer promoveu “traição”| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Mesmo com a promessa do Planalto e da cúpula do Congresso de barrar a anistia ao caixa 2 eleitoral na votação do pacote anticorrupção agendada para esta terça-feira (29) na Câmara Federal, movimentos sociais dos dois lados do espectro político brasileiro vão continuar se mobilizando para evitar a “deformação” das Dez Medidas de Combate à Corrupção e outras medidas para dificultar as investigações contra políticos. Os cartazes e os motes, inclusive, são bastante similares. E são o primeiro ponto comum entre a direita e a esquerda desde o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Os grupos que incentivaram os protestos pelo impeachment – Vem Pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre) – estão organizando um grande ato nacional para o dia 4 de dezembro. “PMDB, PSDB, PT, DEM, PQP e todos outros partidos querem aprovar uma anistia para os crimes que cometeram. Serão os bandidos se auto-absolvendo. Será o fim da Lava Jato! Não importa se você é de direita, de esquerda ou de centro. Não haverá mais Brasil se aprovarem esta porcaria. Então pare tudo o que você está fazendo e repasse esta mensagem para todos os seus amigos. É URGENTE!”, diz um texto na página do Facebook do Vem Pra Rua.

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Alerta sobre a traição

De acordo com Adriana Dornelles, porta-voz do Vem Pra Rua nos três estados do Sul, a mobilização será um sinal de alerta de que o movimento não aceitará essa “traição”. “O principal foco da manifestação obviamente será a anistia, isso é um absurdo. Mas também a deformação das Dez Medidas Contra a Corrupção. Um dos focos da manifestação é justamente criticar essa postura do Congresso Nacional, que não respeitou a vontade popular. O que foi aprovado está totalmente desvirtuado”, explica.

Segundo a líder do movimento, o projeto pegou a sociedade brasileira de surpresa. Mesmo com a votação inicial da anistia marcada para esta terça-feira (29), ela acha que a discussão final ocorrerá apenas no dia 9 de dezembro, depois do protesto. “Nós acreditamos que a votação de fato será no dia 9. Enquanto isso estamos fazendo uma grande mobilização online. O Vem Pra Rua tem uma abrangência muito grande. Nós queremos denunciar para toda a população esse tipo de afronta”, aponta.

De acordo com Gislaine Masoller, representante de Curitiba do movimento, o ato continua marcado mesmo após os presidentes da Câmara, do Sendo e da República negarem que a anistia será votada, no último domingo (27). “O protesto está mantido. Vamos ver o que vai acontecer amanhã [terça-feira, 29], o que também vai definir o protesto. Mas essa é uma manifestação nacional em apoio às Dez Medidas. É o mote primeiro. Apoio total à Lava Jato, juiz Sergio Moro e procuradores, e contra o [projeto de lei do] abuso de autoridade, que nesse momento é oportunista. Isso quer atingir a Lava Jato”, explica. Em Curitiba, o ato anticorrupção ocorrerá no próximo domingo (4), às 15h, em frente ao prédio da Justiça Federal, no bairro Cabral.

“A indignação da população voltou com tudo. É um sentimento de impotência. E a história tem provado que as pessoas na rua cobram mudança. As pessoas estão nos procurando, pedindo isso. Se a população não se manifestar, Brasília será tomada pela velha política”, completa.

Esquerda nas ruas

A esquerda já está nas ruas e planeja novos atos nos próximos dias. Integrantes de movimentos sociais e estudantis realizaram um ato na tarde do domingo (27) na região central de São Paulo contra a PEC do Teto e a proposta de anistia ao caixa 2 e a favor do impeachment do presidente Michel Temer. Segundo a Frente Povo sem Medo, 40 mil pessoas participaram da manifestação. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e União Nacional dos Estudantes (UNE) também participaram do ato e prometem manter pressão nas redes socais contra essas medidas.

Já o movimento CWB Contra Temer, que mantém a pauta da ilegitimidade de Temer, também tem atos marcados para o próximo dia 11. Na última semana, o movimento postou em uma página do Facebook dois cartazes contra a anistia ao caixa 2. “Presidente que tira direitos e perdoa ladrões. Somos todos contra anistia do caixa 2” e “Ladrão que perdoa ladrão ganha uma manifestação” são os motes da nova campanha e também do próximo protesto.

Caminhada comum?

Para Adriana Dornelles, há possibilidade de uma caminhada comum entre os movimentos “desde que as pautas sejam para o bem do país”. “O bem comum é o objetivo do movimento. Estando alinhados com os pilares do Vem Pra Rua, não vejo problemas. E quando a gente fala em alinhamento, tem que ser verdadeiro. O movimento é suprapartidário, busca o interesse da nação. Não teríamos problemas com qualquer cidadão que esteja realmente dentro dos pilares”, exemplifica.

A Gazeta do Povo apurou que já houve conversas nesse sentido entre representantes da esquerda e da direita, em nível local e também nacional. A ideia em questão é a de chamar atos para o mesmo dia, para o mesmo horário, com organizações distintas e em locais distintos. O problema seriam os ânimos exaltados das pautas dos últimos dias, que englobam ocupações e disputas ideológicas em torno das PEC do Teto e da Medida Provisória do Ensino Médio.

“Existe a intenção, até porque uma hora as pautas vão convergir para uma cobrança mais incisiva. Nós temos que estar atentos ao Congresso. Mas ainda não definimos como podemos fazer isso por causa do momento de acirramento que estamos vivendo. Tem episódios de violência e algumas feridas que não sararam”, diz uma fonte. “Pessoalmente, eu acredito que isso vá acontecer no futuro. A união é difícil e deverá ocorrer um processo de reconhecimento de equívocos. Mas vamos ter que nos concentrar nos interesses do país”.

Segundo Gislaine Masoller, o problema é que a única pauta comum aos dois, por enquanto, é a anistia. “Teríamos que conversar, ver o que é mais razoável. Também não pode haver oportunismo dos organizadores. Hoje, só há essa pauta em comum. O Vem Pra Rua não tem bandeira. Combatemos a corrupção de modo irrestrito”, explica.

De acordo com a líder do movimento, o principal pano de fundo para os próximos dias tem que ser a defesa à Lava Jato. “A velha política rançosa tem que acabar. Mesmo com a Operação em franca expansão, os caras não se intimidam. Nós temos que proteger a Lava Jato. Nós sabemos da conduta ilibada dos envolvidos nessa Operação, são pérolas nesse planeta. Nossa manifestação é nesse sentido”.

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