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Michel Temer tem preferido a discrição após a posse na Presidência da República. | Carolina Antunes/PR
Michel Temer tem preferido a discrição após a posse na Presidência da República.| Foto: Carolina Antunes/PR

Acusado pela ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT) de conspirar pela sua derrocada, o novo chefe do Executivo, Michel Temer, tem evitado usar símbolos do posto formalmente assumido em 31 de agosto último.

O retrato oficial para as paredes do Palácio do Planalto, por exemplo, não foi feito ainda – Temer estaria resistindo à ideia, embora já tenha mandado retirar os quadros com a foto de Dilma. Temer também não quis usar a faixa de presidente e o Rolls Royce no tradicional desfile de 7 de Setembro. Agora, até cogita continuar morando no Palácio do Jaburu, residência oficial dos vices.

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A estratégia da discrição, aprovada por especialistas ouvidos pela reportagem, contrasta com a cerimônia realizada em maio no Palácio do Planalto, quando o Senado aprovou o afastamento temporário de Dilma Rousseff. Horas depois de a petista deixar o local, telões já eram instalados no Salão Nobre, que ficou lotado para ouvir o discurso do então interino, ovacionado pelos aliados presentes.

Mas, quando Temer efetivamente tomou posse na principal cadeira do Executivo, o peemedebista preferiu ser cauteloso. Na própria cerimônia de posse no Senado, Temer não fez discurso e não quis usar a faixa de presidente da República. Nem haveria tempo – Temer tinha uma viagem a China marcada para o mesmo dia e a cerimônia durou apenas dez minutos. Os símbolos do cargo, contudo, também foram “vetados” no momento seguinte.

No desfile de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, o primeiro compromisso público de Temer no Brasil, na condição de presidente, o peemedebista apareceu sem a faixa verde e amarelo, adereço sempre usado pelos chefes do Executivo na ocasião.

Temer também não quis chegar ao desfile de carro aberto – o Rolls Royce, que também é marca da cerimônia. Chegou em um carro fechado, da própria frota da Presidência, e deixou o local com o mesmo veículo, antes mesmo da apresentação da Esquadrilha da Fumaça, ponto alto da comemoração, e que costuma ser acompanhada pelo chefe do Executivo. Naquela situação, havia o temor das vaias – que de fato partiram de um pequeno grupo de uma arquibancada próxima.

Outro “símbolo” do cargo que ocupa, o Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, também continua vazio desde o último dia 6, quando Dilma Rousseff concluiu a mudança para o Rio Grande do Sul. Temer alega não ter pressa em se mudar para lá e até cogita ficar no próprio Jaburu, onde está instalado desde 2011.

Em entrevista ao jornal O Globo, divulgada no último dia 11, Temer negou que estivesse “incomodado” com “ritos do cargo”. “Eu sou meio contrário a certas coisas. Primeiro, é preciso muita discrição. Usar a faixa presidencial significaria uma soberba nesse momento. E eu não vejo porque eu deixo de ser presidente por não usar a faixa”, justificou ele, durante a entrevista. “Ou eu sou autoridade por conta própria, ou não é o símbolo que vai me fazer autoridade”, reforçou ele ao jornal.

A faixa presidencial do BrasilRicardo Stuckert/Instituto Lula

Estratégia

Embora alguns acreditem que o uso dos símbolos tradicionais do cargo poderia justamente ajudar Temer a legitimar sua imagem como presidente da República – combatendo, assim, a pecha de “golpista” imposta pelos adversários –, dois especialistas ouvidos pela reportagem aprovam a estratégia da “discrição”. Ambos não acreditam que Temer se comportará desta forma até o final do mandato, mas ponderam que o momento pede cautela.

“Temer tem mesmo essa característica, da discrição, e acho que é correto. Mas há duas outras coisas aí nesta postura defensiva: uma, claro, é a preocupação com a resistência de parte da sociedade ao nome dele à frente do cargo; a outra coisa é a preocupação com o próprio futuro do mandato, por causa dos desdobramentos da Lava Jato”, observa Antônio Flávio Testa, especialista em marketing político da Universidade de Brasília (UnB).

Para Testa, a estratégia é positiva porque “passa a imagem de que ele assumiu apenas o trabalho, como se ele não se importasse com a pompa, a vaidade”. “Mas não creio que isso vá ser sempre assim. Se ele começar a ter algum retorno positivo na área econômica, por exemplo, a parte cerimonial certamente vai surgir”, acredita ele.

Para o cientista político David Fleisher, da UnB, “tem muita coisa acontecendo” na política e Temer não ignorou isso ao evitar a “pompa”. “Ele está se preservando. É um momento delicado, e de eleições”, lembra ele. Para Fleisher, contudo, Temer com certeza vai querer os símbolos “mais para frente, possivelmente depois das eleições”.

Em relação à possibilidade de ele permanecer no Jaburu, Fleisher lembra que o Alvorada não é mesmo uma unanimidade entre os presidentes da República. “[João] Figueiredo preferia a Granja do Torto, por causa dos cavalos dele. O Itamar [Franco] morou na península dos ministros, no Lago Sul. O [José] Sarney e a esposa também passavam o final de semana fora [de Brasília]”, comentou ele, minimizando a possível opção de Temer. Na entrevista que concedeu ao O Globo, o peemedebista justificou que o Jaburu “tem muito jeito de casa”.

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