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A recessão tem muito a ver com o estado caótico das contas públicas e, à exceção dos heterodoxos de sempre, existe entre os economistas um certo consenso de que a economia não voltará ao equilíbrio enquanto a trajetória das finanças não for corrigida. Muitas das medidas amargas vistas como necessárias para essa correção aparecem num plano do PMDB apresentado meses atrás pelo vice-presidente Michel Temer, primeiro nome da linha sucessória de Dilma Rousseff. É de se supor que, se assumir a presidência, Temer tente emplacar pelo menos parte delas. Difícil será convencer a sociedade – e, por tabela, o Congresso.

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Embora pesquisas indiquem que a maior parte dos brasileiros quer a saída de Dilma, numa insatisfação que é alimentada também pela penúria da economia, a grande maioria discorda de pontos cruciais do “Plano Temer”, apelidado dado ao conjunto de propostas de cunho liberal “Uma ponte para o futuro”.

Levantamento nacional do Instituto Paraná Pesquisas, feito com exclusividade para a Gazeta do Povo, mostra que há forte rejeição popular a reformas nos gastos públicos e na Previdência, a privatizações e a regras flexíveis para as relações de trabalho. Em outras palavras, a maioria dos brasileiros se identifica com o ideário econômico do PT, cujas políticas são frequentemente citadas entre as razões da crise.

O próprio documento do PMDB admite, nas entrelinhas, que o remédio é difícil de engolir. “Nosso desajuste fiscal chegou a um ponto crítico. Sua solução será muito dura para o conjunto da população, terá que conter medidas de emergência, mas principalmente reformas estruturais”, afirma o texto divulgado no fim de outubro.

Uma vez na oposição, o PT contaria com movimentos sociais e sindicatos para engrossar o coro contra essas propostas, colocando à prova a disposição de Temer e seus prováveis aliados em construir a tal ponte. Até mesmo o engajamento do PMDB é uma incógnita. Parlamentares do partido estão entre os que, de 2015 para cá, trabalharam a favor de “pautas-bomba” e contra medidas de austeridade.

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“Acho que em um primeiro momento o Temer tentaria aprovar as medidas que a sensibilidade política indicar serem mais viáveis no curto prazo, e depois tentaria as demais”, diz Thais Marzola Zara, economista-chefe da consultoria Rosenberg Associados. “Mas é cedo para saber como será o Congresso pós-impeachment.”

Comunicação

Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, a comunicação com a sociedade será fundamental. “Ainda que haja apoio no Congresso, a prova de fogo será nas ruas. É preciso convencer as pessoas de que há um preço a pagar para ter de volta os benefícios perdidos, como inflação controlada, juros menores, emprego e renda”, diz.

Temer terá de ser rápido, avalia Agostini. Ainda que a queda de Dilma possa melhorar o ânimo de empresários e consumidores, o efeito psicológico tende a se esvair logo. “Se o novo governo demorar a anunciar medidas ou deixar que elas virem uma colcha de retalhos, o país retorna à estaca zero.”

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Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, acredita que o agravamento da crise pode favorecer as reformas. “As pessoas podem não entender que é preciso reformar a Previdência, mas têm noção da gravidade da situação da economia, o que não havia nas eleições de 2014”, avalia. “É claro que haverá uma reação às propostas, mas, se cada um de nós falar ‘não vou abrir mão dos meus benefícios, não vou abrir das minhas proteções’, todos vamos colapsar juntos.”

Sem mudanças, rombo das contas vai aumentar

Dentre as cinco propostas do Plano Temer apresentadas aos 2.044 brasileiros ouvidos pelo Instituto Paraná Pesquisas, a mais rechaçada é a ideia de acabar com vinculações que engessam o Orçamento, como os porcentuais mínimos de gastos em saúde e educação. Mais de 90% dos entrevistados são contra a desvinculação. Estima-se que de 80% a 90% das despesas do Orçamento sejam obrigatórias. A rigidez só aumenta: em março, a Câmara aprovou uma elevação na verba mínima para o SUS, que em sete anos consumirá quase 20% da receita líquida do governo.

Como o bolo é um só, uma fatia maior para determinada área significa pedaços menores para as demais. A vítima preferencial são os investimentos, que baixaram 34% em 2015 e 26% no primeiro bimestre deste ano. Apesar desses cortes, o déficit e o endividamento seguem em alta. Antes mesmo de pagar os juros da dívida, o setor público pode ter um saldo negativo de R$ 100 bilhões neste ano, estima o governo.

A permissão para que a aposentadoria e outros benefícios tenham reajustes menores que os do salário mínimo é rejeitada por 84% dos entrevistados. E dois terços não querem a fixação de idade mínima para se aposentar. Sem mudanças, a tendência é de que o rombo na Previdência – que neste ano deve beirar os R$ 130 bilhões – só cresça, pois, com a população envelhecendo, haverá menos trabalhadores contribuindo para o INSS e mais aposentados recebendo benefícios.

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