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Reabilitação em cachorros ajuda a recuperar lesões de cinomose e obesidade

Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo
16/01/2018 12:00
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Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.

O lhasa apso Todt  tinha cinco anos quando teve sua primeira crise de coluna. Inicialmente, o problema foi tratado com medicamentos, que controlaram a situação durante um ano, quando uma nova crise aconteceu. Todt recebeu então novos remédios durante dez dias. “No décimo dia, quando terminou a medicação, ele paralisou. Não podíamos tocar nele, ele gritava de dor”, conta a tutora do animal, a artesã Márcia Simioni Silva.
Todt precisou passar por uma cirurgia de emergência, da qual saiu sem andar e sem o controle do esfíncter. Foi aí, em novembro de 2016, que ele começou a fazer um tratamento de reabilitação com sessões semanais de fisioterapia e acupuntura. Em setembro de 2017, o cachorro voltou a andar e Márcia já nota um avanço em relação à incontinência. “Ele usa uma fralda, porque não controla. Mas estou notando que ele está segurando o xixi. Ele acorda com a fralda seca e só faz xixi quando vai para o piso inferior da casa”, diz.
Hoje, Todt faz sessões quinzenais que envolvem exercícios na água, eletroterapia, outras terapias aplicadas pela fisioterapia, além da acupuntura. No entanto, nem todos os cães que passam pela reabilitação seguem o mesmo tratamento. Associar os dois não é uma regra. Normalmente é indicado em casos mais graves. Para saber, costuma-se fazer uma avaliação inicial, que é ortopédica, neurológica e de escore corporal.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.

Quando é indicada?

A reabilitação tem por objetivo tratar ou prevenir lesões locomotoras, que podem ter duas origens principais: ortopédica e neurológica. Entre as condições ortopédicas estão a displasia coxofemural (alteração no desenvolvimento da articulação do quadril), artrose, ruptura do ligamento cruzado cranial, luxação de patela e tendinite.
No âmbito das lesões neurológicas, as principais são a hérnia de disco e a cinomose. A hérnia foi o que levou Todt à cirurgia e, posteriormente, à reabilitação. Ela ocorre quando o disco intervertebral desidrata e enrijece, comprimindo a medula, provocando dor e afetando funções neurais como controle de esfíncter ou a sensibilidade nos membros. A cinomose é uma doença viral que ataca diversas partes do organismo do animal, principalmente de filhotes, levando-os à paralisia e à morte. Foi por causa dela que Ralph, da a tutora Josara  Bertoldi Almeida, ficou paralisado com poucos meses de vida e, quando ele foi encontrado na chácara de Josara, a impressão que se tinha é de que o animal estava morto. “Eu já tinha sacrificado um poodle muitos anos antes por causa da cinomose. A recomendação geralmente é de sacrificar. Mas quando levei ele para a reabilitação, me disseram que ele voltaria a andar. Em seis meses, eles foi melhorando dia a dia e hoje ele está bem”, conta Josara.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.

Diagnóstico

1. Inicialmente a avaliação é clínica, pois há doenças e condições, como uma luxação de patela, que podem ser detectadas pelo médico veterinário durante a primeira consulta.
2. Se o profissional detectar a necessidade, exames complementares, geralmente de imagem, serão solicitados.
3. A partir dos resultados e do diagnóstico, é possível desenhar um plano de reabilitação.
4. Mesmo que um problema seja detectado na avaliação ortopédica, os aspectos neurológicos serão analisados para garantir que não há nenhum outro tipo de problema associado. Isso vale também para o escore corporal, que tem por objetivo verificar se o animal está dentro do peso ideal e se a saúde dele — inclusive a necessidade de reabilitação — não está ligada a um excesso de peso.

15% a 30% a mais de peso em um animal é considerado obesidade.

Até 15% é sobrepeso e acima de 30% é obesidade mórbida. Se um beagle que deveria pesar 10 kg pesa 11,7 kg, ele já está obeso.

Obesidade

Outro problema tratado pela reabilitação é a obesidade. Quando o animal está acima do peso, ele está predisposto a lesões ortopédicas e neurológicas. Nesse caso, o tratamento é feito aliando atividades físicas a uma dieta mais regulada. O peso do cachorro é um sétimo do dos seres humanos, então quando ele come uma banana é como se um adulto comesse sete. Assim os bichos engordam.
Em geral, a reabilitação para obesidade dura em torno de três meses, mas isso depende do quantidade de quilos que o animal precisa emagrecer. Cachorros devem perder entre 1% e 2% do peso corporal por semana, e gatos, de meio a um porcento para que não haja o efeito rebote.

Em casa

Apesar de o processo de reabilitação depender muito do trabalho feito pelos profissionais, os tutores também precisam “aderir ao tratamento” para que os resultados sejam bons. É preciso fazer cinesioterapia sob orientação veterinária. Se o cachorro fica imóvel em casa, ele não vai fazer a lubrificação das articulações e pode ter uma artrose, por exemplo.

Como é o Tratamento

A reabilitação começa com um plano inicial de tratamento, que tende a ser mais intensivo, com uma, duas e até três sessões por semana. A duração desse primeiro momento depende do diagnóstico, do estado em que o animal se encontra e de fatores como a idade. Quanto mais idoso o paciente, em geral mais sessões são necessárias.
Na fisioterapia, o animal vai fazer exercícios tanto dentro quanto fora d’água. A hidroterapia geralmente envolve caminhadas em uma esteira que fica dentro de uma mini-piscina. Fora dela, há atividades com tábua de equilíbrio, bolas e cones, além de terapias que utilizam equipamentos diversos. Um deles é o ultrassom terapêutico, que utiliza ondas sonoras para redução da dor. Outras técnicas são a laserterapia, que age diretamente nas mitocôndrias e acelera o processo de recuperação da lesão, a magnetoterapia, que normaliza os íons dentro e fora das células para diminuir inflamações e os radicais livres, e a eletroterapia, que também auxilia na diminuição da dor.
Na acupuntura, que tem base na medicina oriental e trabalha com o fluxo de energia do corpo, os pontos dos meridianos energéticos são estimulados com a ajuda de agulhas, calor ou laser. A acupuntura acarreta um efeito mais duradouro. Além disso, os animais relaxam bastante, tem muitos que dormem.
Esse seria o tratamento “básico”, embora alguns animais precisem só de uma ou de outra terapia. Se houver necessidade, outras técnicas podem ser associadas, como homeopatia, ozonioterapia, terapia com células tronco e terapia por ondas de choque (semelhante ao procedimento que elimina pedras no rim, mas com intensidade para estimular a recuperação de tecidos). Para fazer esses atendimentos, profissionais especializados em cada um deles são chamados até a clínica. Assim, o trabalho tem uma unidade.
Fonte: Mhayara Reusing, médica veterinária especialista em fisiatria veterinária e responsável pelo tratamento de Todt no Instituto de Reabilitação Animal (IRA).

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