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Eles adotaram um mini-porco – mas acabaram com Esther, a Porca Maravilha

Traduzido de The Washington Post
09/01/2018 12:00
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Adotada como um mini-porco, Esther hoje pesa mais de 200 kg. Foto: Reprodução/Facebook

Esther é uma porca doméstica que tem cerca de um milhão e meio de seguidores em suas contas nas redes sociais. Ela tem baús cheios de roupas, incluindo casacos, gorros e muitos vestidos de festa feitos à mão, todos enviados por fãs do munto inteiro.
Repetindo, ela é uma porca doméstica. E pesa quase o mesmo que três jogadores de futebol americano juntos.
“É muito surreal”, diz Steve Jenkins, que adotou Esther em 2012, sobre a porca celebridade.
Esther é uma de incontáveis porcos domésticos ao redor do planeta. Mas ela é indiscutivelmente o suíno mais reverenciado do mundo, uma porca com tantos seguidores que, em um dia qualquer, 100 mil pessoas podem desmaiar online por causa de uma única foto ou vídeo dela.
A história de como uma minúscula mini-porca se tornou Esther, a Porca Maravilha começou em 2012 quando Jenkins recebeu uma mensagem de uma conhecida no Facebook dizendo que ela tinha uma mini-porca de 2,5 kg mas que não podia mais cuidar dela porque tinha ganhado gêmeos. Ela perguntou se Jenkins queria a porquinha. O bichinho não deveria chegar a mais de 31 kg, disse a amiga a ele.
“Eu disse ‘sim, é claro que estou interessado, eu amo animais'”, conta Jenkins.
Naquela época Jenkins, 34 anos, e seu companheiro Derek Walter, 35, viviam em uma casa estilo rancho de três quartos em Georgetown, um pequeno lugarejo em Ontario, no Canadá, com dois cachorros, três gatos, duas tartarugas e um lago com carpas no quintal. Os dois trabalhavam em casa, Jenkins como agente imobiliário e Walter como um mágico profissional.
Esta foi a primeira foto de Esther. Quando chegou à casa de Jenkins e Walter, ela tinha apenas 2,5 kg. Foto: Reprodução/Instagram
Esta foi a primeira foto de Esther. Quando chegou à casa de Jenkins e Walter, ela tinha apenas 2,5 kg. Foto: Reprodução/Instagram
Jenkins disse que pensou que a porquinha seria como um terceiro cachorro. Mas ele sabia que adotá-la era arriscado por dois motivos: ele ainda não tinha falado com Walter sobre isso e ter animais com cascos não era legal em Georgetown, uma pequena comunidade de cerca de 40 mil pessoas.
A conhecida entregou a porca a Jenkins enrolada em um cobertor e escondida em uma cesta de lavanderia. Walter, como previsto, não ficou feliz quando Jenkins chegou em casa com ela, mas a pequena porquinha o conquistou rapidamente.
Nas primeiras duas semanas nós tivemos esse animalzinho bebê em nossa casa“, disse Jenkins. “Qualquer um que tenha um coração pulsando ama animais bebês; você não pode evitar se apaixonar.”
Eles a chamaram de Esther porque pensaram que era um nome fofo e vintage, e decidiram levá-la ao veterinário. Aquela foi sua primeira pista de que Esther não ficaria pequenininha. Imediatamente, o veterinário notou seu rabo cortado, um sinal de que ela era um animal de pecuária.
A bebê era tão pequena e fofa que eles a mantiveram em casa mesmo sendo ilegal. Foto: Reprodução/Instagram
A bebê era tão pequena e fofa que eles a mantiveram em casa mesmo sendo ilegal. Foto: Reprodução/Instagram
“Ele me disse ‘tenho muita certeza de que vocês estão lidando com um porco comercial aqui‘”, lembra Jenkins. “Ela pode chegar a 113 kg.”
Jenkins tentou encontrar a mulher que tinha lhe dado Esther para saber mais sobre de onde a porca tinha vindo, mas ela não respondeu as mensagens. Jenkins afirma que ele já tinha se apegado a Esther, feito uma cama para ela na sala de estar e entendido que ela seria maior que os cachorros. Não era o ideal, ele pensou, mas era um cenário que podia ser gerenciado.
Mas logo depois, Esther começou a comer, bem, como um porco. Às vezes engordando até meio quilo por dia. Sua dieta consistia em comida de porco comprada em uma loja e era suplementada com tomates, pepinos e o que mais Jenkins e Walter estivessem comendo. Eles pararam de comer bacon por razões óbvias, depois cortaram todo tipo de carne e se tornaram veganos.
Esther os impressionou com sua inteligência. Ela aprendeu a abrir a geladeira, os armários e as portas com maçaneta usando seu focinho. Ela roubava comida quando pensava que eles não estavam prestando atenção. Eles a treinaram para “ir ao banheiro” numa caixa de areia ou fora da casa. Eles a recompensavam com um biscoito quando ela se aliviava do lado de fora, até que perceberam que Esther os estava enganando, agachando-se mesmo quando ela não queria “ir ao banheiro”, apenas para ganhar o biscoito.
“Ela foi incrível desde o dia em que a trouxemos para casa, super esperta”, diz Jenkins. “Nós víamos nela uma inteligência que não víamos nem nos nossos cachorros.”
Esther continuou crescendo em um ritmo alarmante. Três meses depois de chegar, ela tinha 31 kg. Ao fim do primeiro ano, pesava 113 kg. Eles descobriram na internet que provavelmente no segundo ano ela engordaria de verdade e ficaria realmente grande.
Esther faz sucesso nas redes sociais e ganha muitos presentes de seus fãs. Foto: Reprodução/Facebook
Esther faz sucesso nas redes sociais e ganha muitos presentes de seus fãs. Foto: Reprodução/Facebook
Ela tinha uma caixa de areia no escritório de Jenkins que a princípio era do tamanho de uma caixa de areia usada por gatos. Eventualmente eles compraram uma piscina infantil para substituí-la. Mesmo isso não era grande o bastante.
“Foi difícil para nós. Em nossos piores dias eu chorava pensando que teríamos que nos desfazer dela”, diz Jenkins.
Mas eles não encontraram um lugar adequado para o qual enviá-la. Todos os santuários que encontraram estavam cheios. Quanto mais tempo passavam com ela, mais apegados ficavam. Os cachorros a aceitaram como uma dos seus, correndo e brincando com ela.
Quando Esther tinha cerca de 19 meses, ela quebrou a balança com 190 kg.
Ela os fazia rir tanto que Jenkins criou uma página no Facebook para Esther em dezembro de 2013 para mostrar a amigos e parentes aquela situação maluca. A página ganhou 100 mil likes em 80 dias. As pessoas aparentemente a amavam tanto quanto eles. Roupas feitas à mão para Esther começaram a chegar à casa deles.
Esther continuou crescendo, assim como sua popularidade. Jenkins e Walter perceberam que não poderiam manter Esther em sua casa, primeiro porque ela estava grande demais para isso e depois porque legalmente ela não podia ficar lá.
O casal não conseguiu se desfazer da Porca Maravilha. Foto: Reprodução/Facebook
O casal não conseguiu se desfazer da Porca Maravilha. Foto: Reprodução/Facebook
Em maio de 2014, ela tinha 250 mil seguidores entusiastas. Jenkins e Walter estavam preocupados.
“Nós sabíamos que ela era ilegal. Estávamos ostentando o fato de que estávamos burlando a lei. Ela tinha 204 kg e nós a exibíamos nas redes sociais”, diz Jenkins, acrescentando que ela estava frequentemente usando um casado ou um gorro nas fotos que eles postavam. “Sabíamos o que tínhamos que fazer. A maneira como estávamos vivendo não era justa com ela.”
Eles acharam que só uma solução funcionaria: começar seu próprio santuário com uma casa em que pudessem viver todos confortavelmente. Daquela forma, Esther teria espaço para caminhar e eles poderiam resgatar outros animais. Eles não tinham o dinheiro para construir um santuário, mas se conseguissem ajuda dos fãs de Esther poderia dar certo.
Eles encontraram uma fazenda de mais de 200 mil m² a cerca de 40 minutos de sua casa. O preço era de aproximadamente C$ 1 milhão (aproximada R$ 2,6 milhões, na cotação de janeiro de 2018). Eles colocaram seu pedido em um site de financiamento coletivo, dizendo que esperavam levantar C$ 400 mil (pouco mais de R$ 1 milhão) para comprarem uma casa adequada para Esther.
Em dois meses, eles tinham levantado C$ 400 mil vindos de nove mil pessoas em 44 países. A doação mais baixa foi de C$ 5 e a maior de C$ 50 mil.
“Foi assustador”, afirma Jenkins sobre a rapidez com que as doações foram feitas. “Aquilo era tão maior que qualquer coisa que nós já tínhamos pensado. Foi um momento incrivelmente emocionante.”
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Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram
Em novembro de 2014, eles se mudaram para a casa de fazenda em Campbellville, Ontario, menos de um ano depois de terem começado a página de Esther no Facebook. Eles a chamaram de “Santuário Rural Esther Feliz para Sempre“.
Eles consultaram especialistas em animais e instalaram o santuário e sua casa na propriedade. Logo tinham uma vaca, cavalos, cabras e uma porca grávida, além de Esther.
A partir dali, foi uma bola de neve. Eles começaram a vender camisetas e sacolas de Esther, oferecer receitas veganas e tours pela fazenda. Atualmente os dois mantêm dez contas em redes sociais.
“Aconteceu tão rápido”, diz Jenkins. “Foi uma mudança de ritmo muito estranha.”
Além de Jenkins e Walter, há três funcionários em tempo integral na fazenda, dois que vivem lá e outro que vive nas redondezas. E também há voluntários. São 40 trabalhando em uma escala regular toda semana, às vezes por algumas horas, às vezes por dias inteiros. Eles escovam e alimentam os animais e às vezes recolhem suas fezes. Muitas vezes por ano eles têm um “dia de trabalho aberto”. É quando dúzias de pessoas vêm à fazendo para dar uma mão.
A fazenda oferece tours em vários finais de semana, atraindo centenas de pessoas todos os meses por uma doação sugerida de C$ 10 por pessoa.
O local tem um custo operacional de C$ 350 mil (pouco mais de R$ 900 mil) e sobrevive de doações. O trio de cantoras Dixie Chicks o visitou no ano passado. Em julho, o ator Ricky Gervais doou mais de C$ 25 mil de uma de suas turnês de comédia para o santuário.
Jenkins afirma que uma das razões pelas quais as pessoas se apaixonam por Esther é simplesmente o fato de que ela as faz sorrir. Muitos voluntários e grupos de turismo vão à fazenda, ele diz, porque ela tem uma atmosfera positiva e otimista, assim como sua presença online. As redes sociais de Esther promovem e celebram o veganismo, mas não criticam pessoas que comem carne. Jenkins apaga comentários que ele diz que são da “polícia vegana”.
“Nós ocultamos comentários maldosos”, diz. “Ficamos só com os posts engraçados e confiáveis.”
Foto: Reprodução/Facebook
Foto: Reprodução/Facebook
Um dos mais novos residentes da fazenda, um peru chamado Cornelius, tornou-se famoso nas redes por conta própria. Cornelius também tem muitas roupas feitas à mão: muitas delas combinam com as de Esther.
Mas o coração do império que Esther construiu ainda é ela mesma.
Recentemente, em uma noite, ela expulsou Walter da cama quando foi se aconchegar com Jenkins. Esther gostou tanto da cama que eles simplesmente lhe deram o quarto principal depois de Walter ter passado algumas noites no sofá. Walter e Jenkins se mudaram para o quarto de visitas, no primeiro andar. Esther tem uma cama diurna adicional na sala de estar.
“Ela é uma porquinha especial – é muito diferente dos outros porcos”, diz Andrea White, que trabalha em tempo integral como coordenadora do santuário. “Eu não tenho certeza de que ela sabe que é um porco. Ela pensa que é um cachorro.”
Jenkins e Walter escreveram um livro sobre ela e oferecem uma gama crescente de produtos em seu site, incluindo joias e trabalhos de arte de Esther. O site convida os fãs a se inscreverem para um cruzeiro de Carnaval de sete dias no Caribe, onde eles se juntariam a outros amantes de porcos com mentalidade parecida e serviriam um menu personalizado “aprovado por Esther”. Os lucros vão para o santuário, que agora tem 50 animais resgatados.
Jenkins afirma que não tem certeza do por que as pessoas amam tanto Esther. Todas as roupas que ela tem foram presentes. Ele já foi questionado tantas vezes sobre as medidas da porquinha que acabou colocando-as no site.
Conforme as pessoas olham para ela e a assistem, elas constroem uma relação com ela“, diz. “Ela é tão confiável… então eles veem um vídeo dela e pensam ‘ah, eu amaria comer um cupcake e ganhar uma massagem no café da manhã assim como ela’.”
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