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"Cada cobra é uma cobra", diz Dinor de Paula, que aprendeu o ofício de tratador aos 21 anos. Foto: Albari Rosa
"Cada cobra é uma cobra", diz Dinor de Paula, que aprendeu o ofício de tratador aos 21 anos. Foto: Albari Rosa| Foto: gazeta do povo

Atenção ao cortar caminho pelo Passeio Público, no Centro de Curitiba. Saiba que você compartilha o espaço não apenas com aves e macacos, mas com 14 cobras, uma iguana e uma aranha caranguejeira, muito bem cuidadas pelo tratador Dinor de Paula, de 50 anos, no Ofidiário que funciona no local. Seis das serpentes têm picadas que podem matar em poucas horas – mas não se preocupe, isso é muito improvável de acontecer.

Dinor convive com os bichos há quase três décadas. Aos 21 anos, aprendeu o ofício com o pai, José de Paula, e depois herdou a profissão. Medo? Nenhum. Uma precaução maior com as mais perigosas, movimentos rápidos e seguros, e só. “Sempre gostei delas e tomo muito cuidado, como aprendi com meu pai; se a minha mulher deixasse, teria alguma das cobras inofensivas em casa”, diz.

"Todas as cobras comem ratazanas criadas no zoológico especialmente para esse fim", conta  Dinor. Foto: Albari Rosa
"Todas as cobras comem ratazanas criadas no zoológico especialmente para esse fim", conta Dinor. Foto: Albari Rosa| gazeta do povo

Com o conhecimento que só os anos e os apaixonados têm, Dinor, que estudou até o ensino médio, ensina as idiossincrasias de cada tipo de serpente com inspiração catedrática. “Cada cobra é uma cobra”, diz. E parte para um diálogo sobre o dia a dia das rastejantes.

Todas as cobras comem ratazanas criadas no zoológico especialmente para esse fim. Já a aranha conta com uma caixa de plástico repleta de iguarias como baratas e insetos, também separados para ela.

A limpeza interna dos cativeiros às segundas-feiras, quando o parque está fechado, é feita com a destreza de uma mãe cuidando do filho pequeno (talvez essa não seja uma boa comparação). Cada serpente é retirada da jaula com a ajuda de ganchos e permanece em um balde protegido enquanto a água é trocada, as fezes retiradas e os elementos do cenário são retocados ou modificados.

A cascavel é a "estrela" do Ofidiário do Passeio Público. Foto: Albari Rosa
A cascavel é a "estrela" do Ofidiário do Passeio Público. Foto: Albari Rosa| gazeta do povo

O “paisagismo” do tratador é planejado de acordo com cada tipo de cobra: as duas cascavéis, acostumadas com regiões secas e pedregosas, contam com pedras e cascalhos; as jararacas, a jiboia de sete quilos, os filhotes de jiboia (ainda inofensivas, apesar de “bravinhas”) e as norte-americanas corn-snakes contam com troncos de árvore mais verdes e outras plantas. “Quando chega um réptil, damos um banho nele e depois encaminhamos para todos os exames, porque podem ter de piolhos e carrapatos até doenças”, conta.

A temperatura do local recebe um zelo especial. Dinor lembra que as serpentes são animais ectotérmicos, ou seja, a temperatura do corpo depende do calor de uma fonte externa, e necessitam estar em ambientes aquecidos. Por isso, em cada jaula há três tipos de aquecimento, por meio de luz ultravioleta, infravermelha e pedras levemente aquecidas, buscadas pelos répteis principalmente depois de comer, durante a digestão. No inverno, mais aquecedores são colocados nos corredores do Ofidiário.

Dinor de Paula convive há quase três décadas com as cobras do Passeio Público. A limpeza do local é feita às segundas-feiras, quando o Oficidário está fechado. Foto: Albari Rosa
Dinor de Paula convive há quase três décadas com as cobras do Passeio Público. A limpeza do local é feita às segundas-feiras, quando o Oficidário está fechado. Foto: Albari Rosa| gazeta do povo

As trocas de peles das cobras são acompanhadas pelo tratador com a precisão de um cirurgião. “Sei quando vai começar porque os olhos delas ficam foscos e a pele, pálida, começa a sair que nem uma camisinha”, diz. Como as dificuldades nesse processo podem causar doenças e incômodos, Dinor segue os procedimentos indicados pelos veterinários: “ajuda” borrifando com água os terrários e tirar ele mesmo a pele até o fim nos casos em que isso não ocorre naturalmente.

A remoção da pele à mão é feita depois de mergulhar a cobra em água morna por uma hora, muitas vezes com camomila, que tem função anti-inflamatória. As cobras peçonhentas ou perigosas, como a jiboia, exigem a presença de mais uma pessoa, além de equipamentos especiais de segurança, como ganchos maiores, óculos, roupa e botas especiais.

Banho de sol

No verão, nos dias em que o Passeio Público está fechado, as cobras são levadas para um banho de sol. Momentos de liberdade nas quais as serpentes até se reproduzem. Recentemente, uma corn-snake teve vinte ovos, mas nenhum deles chegou a sobreviver, para a tristeza de Dinor.

O Ofidiário está sempre cheio de visitantes nos fins de semana e Dinor fica chateado quando um deles apresenta repugnância ou repulsa. “Temos de ter carinho por elas – são como qualquer outro animal. Mas a maioria se encanta com elas”, diz.

Serviço

O Ofidiário do Passeio Público fica aberto de terça a sexta, das 9h às 11h30 e das 13h às 16h30. Aos sábados, domingos e feriados o horário de funcionamento é das 9h às 11h30 e das 13h às 15h30.

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