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Zebrafish substitui roedores em experimentos científicos

Da redação
17/05/2016 16:05
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(Foto: Flávio Dutra | Divulgação UFRGS) | Flávio Fontana Dutra

O zebrafish, um pequeno peixinho de água doce que mede por volta de cinco centímetros quando adulto, vem substituindo roedores e utilizados como modelo complementar de experimentação. Por ocupar menos espaço, custar menos e ser mais versátil, o uso do peixe, que recebe este nome devido às linhas em suas escamas, está se popularizando na comunidade científica. O zebrafish foi o primeiro animal a ser clonado por um grupo da Universidade de Oregon em 1981, nos Estados Unidos, e dois prêmios Nobel já foram entregues por estudos com a espécie.
No Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), algumas pesquisas que investigam o sistema nervoso central e mecanismos de neurodegeneração utilizam o zebrafish. O professor Diogo Losch relata que iniciou seus estudos com o peixe em 2008: “Nós usávamos basicamente roedores (ratos e camundongos) e, a partir disso, passamos a usar o zebrafish em alguns processos que estávamos desenvolvendo e que abrangiam basicamente o estudo de mecanismos de doenças cerebrais. Tentamos avaliar como o sistema de neurotransmissão funciona, como ele está organizado, se ele está relacionado ou não com o desenvolvimento dessas doenças”, explica.
(Foto: Flávio Dutra | Divulgação UFRGS)
(Foto: Flávio Dutra | Divulgação UFRGS)
Diogo comenta que o aumento do uso do zebrafish está relacionado à versatilidade do peixe como modelo. “Claro que tem limitações, como todo modelo. Mas, como ele tem essas outras possibilidades de trabalho que os roedores não têm, começou a ganhar importância na comunidade científica”. O professor salienta que a tendência é que sua utilização continue aumentando. “Agora ele ainda é um modelo pouco utilizado, mas está em fase de crescimento. Ele é um organismo um pouco mais distante do ser humano, mas tem respostas muito similares do ponto de vista da fisiologia. Então, conseguimos ter contundência no resultado que obtemos. Provavelmente, se observássemos roedores, obteríamos o mesmo padrão”, argumenta.
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Popularidade
A dissertação de mestrado de Ediane Gheno, defendida no Programa de Pós-graduação em Educação e Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aborda as características da produção científica, do impacto e da colaboração de pesquisas com zebrafish na ciência brasileira. Entre os anos de 1996 e 2000 foram identificadas somente sete publicações que envolviam o uso do zebrafish, com a participação de 14 instituições. Já entre 2011 e 2014, Ediane encontrou 199 publicações, com pesquisadores de 238 instituições. Houve também um aumento considerável no número de artigos com colaboração internacional: de quatro, entre 1996 e 2000, para 66, de 2011 a 2014. As informações foram coletadas nas bases de dados Scopus e Web of Science.
As primeiras pesquisas que começaram a utilizar o zebrafish foram publicadas em 1955, mas os estudos só deslancharam na década de 1990. No Brasil, as primeiras publicações datam do ano de 1996.
Questões éticas 
A respeito dos procedimentos éticos relacionados ao uso do peixe, Diogo comenta que as pesquisas seguem a Lei nº 11.794, conhecida como Lei Arouca, que regulamenta o uso de animais vertebrados para experimentação. “Os projetos vão para a Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), passam por avaliação sobre os procedimentos que iremos adotar, e só depois da aprovação estamos aptos a usá-los”, finaliza Diogo.