Irene Ravache, uma diva sem rótulos

Desafiada. É assim que a atriz Irene Ravache, 71 anos, prestigiada no teatro e na tevê, diz se sentir ao interpretar Vitória, na novela Além do Tempo (RPC). “Acordo todos os dias com uma vontade grande de viver e de trabalhar. Eu me levanto pensando: “O que tem para hoje?” [risos]. E essa é uma das novelas mais ousadas que já fiz. Isso me desafia”, conta ela, que, no início da trama, foi uma arrogante condessa. Após um salto de 150 anos na história, a vilã se tornou uma mulher falida que mora de favor na casa da cunhada. O papel marca os 50 anos de carreira da atriz na tevê. “Nunca me dei conta dos anos que acumulei trabalhando. As pessoas ao meu redor que vinham me falar sobre isso. Passei por estes anos todos fazendo o que sei, apenas isso”, fala. “Claro que tem dias em que estou cansada, mas é porque eu não sou mais tão jovem assim”, diverte-se.

Com mais de 30 novelas no currículo, Irene fala que não é preciso reinventar o jeito de fazer tramas para conquistar o telespectador. “Você pode inovar com uma linguagem mais atual, mas se não tiver uma boa história não vai funcionar. O público quer se emocionar”, diz ela. “Aquele filme Romeu + Julieta, com a Claire Danes e o Leonardo DiCaprio, é a prova de uma história que seduz as pessoas e que foi feita em uma linguagem moderna”, complementa, referindo-se ao longa dirigido por Baz Luhrmann, em 1996.

Sem estrelismo
“Irene é uma pessoa muito simples, generosa e tem uma sensibilidade incrível em cena”, elogia o ator Tony Ramos, que contracenou com a amiga em algumas novelas, como Belíssima (2005) e Guerra dos Sexos (2012). Outros colegas da atriz também destacam esse jeito simples na recém-lançada fotobiografia Simples Assim, Irene (M. Books, 192 páginas), do ator e escritor Cacau Hygino. “Nunca mudei minha maneira de viver por ser atriz. Continuo indo ao mercado de tênis e sou muito bem recebida pelas pessoas, que me abordam com respeito, sem aquela euforia toda. Afinal, não sou nenhuma mocinha nem um galã”, diverte-se a atriz.

A veterana também rejeita os rótulos de estrela e diva. “Em um país como o nosso, que tem sérios problemas, não há espaço para se sentir diva de alguma coisa”, comenta.

Embora prefira olhar para o presente, Irene lembra que, na adolescência, queria ser bailarina, e não atriz. O balé também foi um dos caminhos escolhidos pelo seu neto, Cadu Libonati, 21 anos, que, hoje, também está no elenco de Além do Tempo. “Tenho muito mais do que orgulho. Ele escolheu a profissão, estudou e continua fazendo teatro ativamente”, fala.

Sempre contracenando com novos atores, Irene diz estar renovada em seu ofício. “Não me sinto mais velha ou mais experiente. Gosto da troca! Trocar com eles é bom e dá sempre um bom samba.”