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Uma pitada de desinformação e preconceito ainda ronda o vegetarianismo, um estilo de vida que tem crescido exponencialmente na última década. Só no Brasil, 14% da população se declarou vegetariana segundo pesquisa do Ibope Inteligência divulgada este ano. Há seis anos, esse número era de 8%.

Para a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), um dos motivos para o aumento de vegetarianos é o fácil acesso e difusão de informações que as mídias sociais possibilitam. “Outra coisa é a facilidade de encontrar produtos veganos nos grandes centros, como um lanchinho de meio da tarde. Isso favorece manter a postura e que novas pessoas adotem o vegetarianismo”, diz Ricardo Laurino, presidente da SVB que é vegetariano há 28 anos e há 15 vegano. “Acreditamos que isso seja só o começo”, afirma.

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A troca de informações sobre a causa animal e discussões éticas e políticas preparam o caldo para uma maior adesão ao vegetarianismo. “O avanço de pesquisas científicas sobre o tema e a ação de movimentos sociais ambientalistas e pautados na causa animal foi fundamental”, analisa Juliana Abonizio, professora da pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea na Universidade Federal do Mato Grosso.

Seja pela alimentação restrita na visão de alguns, seja pela “estranheza” que a mudança de comportamento causa nos círculos sociais, quem adota a dieta é questionado sobre tudo. O Viver Bem listou oito mitos e verdades sobre o vegetarianismo para ajudar a tirar as dúvidas mais frequentes de quem quer adotar esse estilo de vida.

“Vegetarianos têm deficiência de vitaminas e ingerem pouca proteína”

MITO. Como qualquer dieta, a vegetariana também precisa de equilíbrio entre os grupos de alimentos, como proteína, carboidrato e gordura, além de boa ingestão de fibras. “A dieta não é o único fator que influencia em deficiências. Há também a influência do metabolismo e da microbiota intestinal na absorção de nutrientes, por exemplo”, explica a nutricionista Natalia Chede, vegana há 13 anos.

Das deficiências mais comuns estão a de ferro e a de vitamina B12, tanto vegetarianos quanto onívoros — o termo se refere a quem “come de tudo”. A principal fonte de B12 são alimentos de origem animal, mas há produtos fortificados com a vitamina para vegetarianos e é possível suplementar através de injeção ou cápsulas manipuladas.

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Superbatéria no feijão: boato ou verdade? Foto: Antonio More/Gazeta do Povo
Superbatéria no feijão: boato ou verdade? Foto: Antonio More/Gazeta do Povo| Antônio More

Consumir leguminosas (feijões, grão-de-bico, ervilha partida e lentilha, por exemplo) e vegetais verde escuro acompanhada de uma fonte de vitamina C (como suco de laranja) aumenta a absorção de ferro. “Também é preciso retirar da dieta laticínios, que interferem na absorção do ferro de origem vegetal”, ensina Natalia. Para substituir os laticínios como fonte de cálcio, é possível trocar por tofu, gergelim, leguminosas e melado, estes últimos também fonte de ferro.

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As leguminosas também são fonte de aminoácidos essenciais, as moléculas que formam a cadeia proteica. “É muito difícil ter deficiência em proteína mesmo sendo vegano, porque ingerir uma porção de leguminosas por dia garante sua ingestão”, diz Natalia. A nutricionista indica incluir também aveia, quinoa, castanhas e sementes, alimentos ricos em proteína.

“A vontade de comer carne não passa”

VERDADE. A maior parte dos vegetarianos declara não sentir vontade de comer carne por não considerarem animais como alimentos. Mas a cultura alimentar e a formação do paladar — muitos vegetarianos nasceram em famílias onívoras — ainda influenciam no desejo. “Nas entrevistas que fiz [em pesquisa realizada após seu pós-doutorado] muitos vegetarianos disseram sentir vontade de comer carne e muitos comem, ocasionalmente, fazendo uma ruptura de suas dietas em datas específicas”, revela Juliana.

Sandra Guimarães é vegana há 11 anos e desde 2010 mantém o blog Papacapim, em que fala sobre alimentação vegana. “Talvez algumas pessoas sintam apego gustativo. Mas é irrelevante, porque a decisão é moral e o veganismo é uma posição política. Tomamos essa decisão de que a vida do animal é mais importante do que a preferência gastronômica”, defende Sandra.

Segundo Juliana, nenhum dos entrevistados deixou de comer carne porque não gostava do sabor. “Pelo paladar, comeriam”, explicou. “Tem quem desenvolva nojo da carne, do leite e de ovos. Mas tem gente que não, que controla sua vontade de comer pela postura que considera mais adequada”, completa Laurino.

“Comida vegetariana dá fome mais rápido”

VERDADE. Segundo Natalia, uma alimentação baseada em proteína animal e ingredientes refinados pode “entupir” o sistema digestivo, uma sensação que é confundida com saciedade. “Ao mudar para uma dieta vegetariana, tem quem substitua a carne por massa e cereais, que não têm muita fibra, e a digestão fica mais rápida”, diz Natalia. Pode ser, também, o fator psicológico. “Dependendo da motivação da pessoa para tirar a carne da alimentação, ela sente que falta algo no prato”, explica a nutricionista.

“Depois de uns dias, você se sente mais leve”

VERDADE. Ao retirar a carne da alimentação, a digestão se torna mais rápida, por isso a impressão de que a comida vegetariana é mais leve. “Mesmo a carne branca tem uma grande quantidade de gordura e a digestão fica mais lenta e pesada. A fibra da carne é muscular e não auxilia no movimento do intestino, eliminação dos alimentos e na formação do bolo fecal como a fibra vegetal”, explica Natalia.

“Todo vegetariano tem uma alimentação mais saudável”

MITO. Se a dieta for desbalanceada com muitos alimentos refinados, pouca ou nenhuma fruta, legume e verdura, não tem como ser saudável. Mas se a base forem os vegetais e preparos com alimentos integrais, com ingestão de gorduras boas e equilíbrio entre os grupos alimentares, a afirmação é correta.

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“Comida vegetariana é muito cara”

MITO. A base da cozinha vegetariana é a mesma que a da alimentação onívora da sociedade em questão. De modo geral, no Brasil, isso significa arroz, feijão, mandioca, milho, legumes e frutas. “Tradicionalmente, as carnes são os alimentos mais preciosos da refeição, tanto em termos nutricionais, simbólicos e em valor de mercado”, explica Juliana.

“As pessoas associam comida vegetariana a produtos industrializados que vendem em lojas especializadas, mas a comida vegetariana é a comida do trabalhador: arroz, feijão”, esclarece Sandra.

Com a criação de alimentos parecidos esteticamente com carnes, queijos e demais produtos de origem animal, a oferta de produtos industrializados veganos aumentou, bem como a percepção dos consumidores em relação a esses alimentos. “Alguns produtos industrializados que imitam laticínios são novos no mercado e por isso têm custo mais alto”, diz Laurino.

“A vida social do vegetariano fica prejudicada”

VERDADE. Apesar de não deixarem de encontrar os amigos ou de comerem fora de casa, quem adota a dieta vegetariana nem sempre está em vantagem ao comer fora de casa. A situação pode virar uma pequena crise diplomática: às vezes o anfitrião não sabe muitas receitas vegetarianas e a variedade de pratos é menor. Mas esse seria o menor dos problemas, segundo Laurino: “Não é algo que atrapalhe. Não perco nenhum encontro ou confraternização. Você come menos ou leva algo que coma”.

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Se você considerar vida social comer fora de casa, há limitações, porque sempre há menos opções sem derivados de animais. Mas socializar não é problema, porque vou para cinema, teatro, casa dos amigos, shows”, complementa Sandra.

“Está na moda ser vegetariano”

MITO. O vegetarianismo existe desde a Grécia Antiga, talvez antes. Há registros que atribuem a Pitágoras a decisão de não comer carne de animais como uma maneira de purificar o corpo. O que muda é a motivação ao longo do tempo. “Por questões religiosas já se negava o consumo de animais na Índia e na Ásia há milênios. Atualmente, o interesse é maior pelas questões ambientais e de saúde”, comenta Sandra.

Se antes era a purificação do corpo, uma questão religiosa ou a ideia de um mundo mais harmônico, atualmente as principais motivações são de ordem ética e moral, para cuidar da própria saúde e para diminuir o impacto no meio ambiente. “Mesmo quem adota a dieta vegetariana por saúde e pelo meio ambiente acaba tendo contato com a causa animal e assume uma postura mais ligada à ética”, observa Laurino.

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