Comportamento

Raquel Derevecki

A segunda-feira é a vilã da semana? Livro sugere que não

Raquel Derevecki
07/01/2019 07:00
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Viver cada dia como se fosse o primeiro foi a inspiração do publicitário para o projeto. Foto: Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo

Aos 31 anos e com uma carreira consolidada na Publicidade, o curitibano Guilherme Krauss decidiu retomar uma paixão da infância: a escrita. Só que, em vez de desenvolver roteiros dos seus desenhos favoritos – como fazia na infância – ou compor músicas como as que produziu para a banda de rock que participou na adolescência, ele decidiu provocar reflexões. Durante um ano, o curitibano se propôs a desmistificar o conceito de que cada dia deva ser vivido como se fosse o último. “Mais importante do que saber que o tempo é finito é a chance de viver cada dia como se fosse o primeiro, movido pela esperança de um início e pela empolgação”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.
Mas não adiantava simplesmente escrever a respeito do assunto. Era necessário viver essa experiência começando pela segunda-feira, considerada por muitos como a “assassina do domingo” e o dia mais deprimente da semana. “Basta ligar a televisão nos programas dominicais para o desânimo começar a bater. Mas não precisa ser assim”, afirma Krauss.
E para provar isso, ele decidiu escrever a respeito de suas segundas-feiras durante quatro semanas. O projeto iniciou em julho de 2017 com o título “Happy Monday” (Feliz Segunda-feira) e quase mil pessoas recebiam os textos por e-mail. “Comecei a enviar para amigos com o objetivo de ajudar a semana daquelas pessoas, mas o maior beneficiado fui eu!”.
Logo no primeiro texto, Guilherme recebeu mensagens de agradecimento e pedidos para que o projeto continuasse por mais tempo. O prazo, então, foi estendido para oito semanas, fez sucesso entre os leitores e não parou até chegar em 50 semanas. “Ao fim desse tempo, tínhamos quase 7 mil pessoas lendo os e-mails e refletindo comigo, semanalmente”, relatou Krauss.
As crônicas eram escritas sempre às segundas-feiras e tentavam transmitir com palavras cada pensamento, sentimento e situação vivida pelo publicitário naquele dia. “Ainda no início do projeto, escrevi a respeito do falecimento do meu avô. Foi um texto com carga emocional intensa porque minha ligação com ele era muito forte”, recorda. O idoso Inamá Iberê Deslandes de Souza faleceu aos 84 anos após perder a esposa, passar por diversas dificuldades financeiras e perder a saúde.

“Ele tinha um sério problema cardíaco e sofria de outras doenças. Nas suas últimas semanas, também teve sua lucidez afetada e não conseguia reconhecer a família. Mas, em todos os dias da vida, ele sempre esteve feliz”.

Refletir a respeito da alegria transmitida pelo senhor Inamá em vida quando contemplava a natureza, degustava um doce de banana ou recebia uma notícia ruim fez com que Krauss superasse a morte do avô. “Aquela segunda-feira tinha tudo para ser terrível, mas eu entendi que o importante é alegrar-se sem motivo, assim como meu avô havia ensinado toda a vida”.
Olhar situações ruins como a morte com uma perspectiva otimista fez muitos leitores derramarem lágrimas. Mas nem todas as crônicas tinham fator emocional tão forte. Com o passar das semanas, Krauss desenvolveu reflexões a respeito da importância das escolhas, da valorização do tempo, da necessidade de se estabelecer objetivos e da importância de ser gentil. “Em algumas segundas-feiras eu contava algo que eu tinha vivido, em outras eu abordava temas sugeridos pelos próprios leitores e até escrevi a respeito de experiências que eles compartilhavam”.
Projeto de 50 semanas resultou em um livro. Foto: Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo
Projeto de 50 semanas resultou em um livro. Foto: Alexandre Mazzo/ Gazeta do Povo
A reflexão enviada por e-mail no dia 9 de outubro do ano passado foi assim. Baseada no relato da psicóloga Verônica Bednarczuk de Oliveira, o texto mostrava que é possível vencer as dificuldades com bom humor. “A Verônica tem 31 anos e é portadora de fibrose cística desde os 23, motivo que a faz passar grande parte de seus dias no hospital”, informou o autor.
No entanto, em vez de reclamar, ela decidiu comemorar seu aniversário no quarto do Hospital Santa Cruz, em Curitiba, e a situação surpreendeu Krauss.

“O que, talvez, para algumas pessoas instigasse uma memória triste, foi um baita festão. A quase-morte, que, para alguns é quase-fim, para outros torna-se nova vida. Depende do olhar”, escreveu o publicitário.

Na tentativa de tornar suas segundas-feiras melhores, ele também escreveu a respeito da correria e de como poderia lidar com ela. Em uma dessas datas em que 24 horas pareceram insuficientes, foi necessário até “driblar” o esquecimento de um dos textos. “Eu escrevia no estacionamento, em reuniões, no avião, na praia, onde dava. Só que teve um dia que esqueci completamente da reflexão e só percebi isso no meio de uma festa”.
Naquele dia – 24 de outubro de 2017 – Krauss estava em uma viagem de negócios com agenda apertada e não viu a segunda-feira passar. “Era quase meia-noite quando lembrei do meu projeto. Aí parei ali na festa mesmo e escrevi sobre quebra de rotinas, o que transformaria aquele envio atrasado do e-mail em algo proposital. Mas, no fundo, enviei na terça-feira porque eu tinha esquecido mesmo”, brincou.

Surge um livro

Ao final das 50 semanas começando a segunda-feira com uma perspectiva de esperança, autor e leitores tinham experiências positivas para compartilhar. “Teve uma moça que até decidiu ser voluntária no Quênia após ler uma das minhas crônicas”.
Esse impacto na rotina de quem integrou o projeto fez com que um novo sonho nascesse: o de reunir todos os e-mails em um livro. “A escrita desses textos permitiu que eu me reencontrasse porque sempre gostei de escrever, mas havia deixado essa aptidão no passado”, afirmou Krauss, que retornou oficialmente à paixão no dia 10 de dezembro durante o lançamento do livro “Toda segunda é um pequeno réveillon”.
Segundo ele, o livro não traz fórmulas prontas, mas instiga o leitor a encarar a segunda-feira com esperança, assim como acontece no Ano Novo. “Ao olhar a segunda como um novo começo, você colocará objetivos para sua semana, terá um norte para seguir e sempre terá motivos para agradecer”, finaliza.

Quem é o autor

Guilherme Krauss atuou como publicitário em diversas agências de Curitiba e fundou a Grande Escola em 2012. Essa instituição de ensino oferece cursos livres e promove eventos com foco no desenvolvimento da criatividade, gestão do tempo e construção de carreira.
O autor também é palestrante nas áreas de inovação e gestão de tempo, e fundador da consultoria Humans at Work (Humanos no Trabalho), que inspira pessoas no ambiente de trabalho e desenvolve índices de felicidade dos colaboradores. Para isso, o projeto monitora aspectos internos de cada organização e promove maneiras de ampliar a felicidade de funcionários em todo o Brasil.
Krauss atua ainda como professor em cursos de pós-graduação e extensão, e é autor de mais um livro: “Vida Produtiva – Invista Seu Tempo na Construção de uma Vida Realizadora”. Agora, após o lançamento de sua segunda obra, quer projetar-se definitivamente como escritor e promete novos títulos, em breve.
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