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Viúvos contam como é recomeçar e voltar a amar
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Senhoras vestidas de preto, com crucifixos e rendas para esconder o rosto, fazem parte do imaginário que ronda a palavra “viúvo”. Mas, assim como essas senhoras estão em extinção, é raro ver um viúvo que se deixe rotular pelo título e tenha se entregado à solidão eterna. Eles voltam a se relacionar, apesar das dificuldades que envolvem esse recomeço.

Um dos segredos parece estar ligado à vida social: quanto mais agitada ela for, mais rápido e menos indolor esse processo de voltar à ativa se torna. Essa rede de apoio é valiosa principalmente em um primeiro momento, quando o enlutado está ainda confuso. “Amigos podem conferir como anda a vida prática e se por à disposição para ouvir, dando o tempo que a pessoa precisar”, comenta Clóvis Amorim, professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Durante seis meses ou um ano, o viúvo vai viver o processo de luto mais intensamente. “Enterrar a pessoa que faleceu, aceitar e reconhecer a realidade da perda é um passo muito importante para que o luto não seja complicado”, explica o especialista. Outra fase inclui os ajustes externos (fazer as tarefas básicas do dia a dia, como pagar contas ou ir ao mercado) e internos, que é se lembrar da morte sem dor, mas com saudades.

A última fase seria encontrar uma conexão duradora com a pessoa falecida. Uma das formas de se fazer isso é justamente se abrindo a uma nova experiência no campo do amor. “Extrai-se a energia emocional do relacionamento antigo para reinvestir em um novo relacionamento. Freud já dizia que resolver o luto é voltar a amar”, resume.

Homens x mulheres

Segundo especialistas, mulheres e homens passam pela fase de luto de forma diferente. Enquanto os homens tendem ao ativismo e se focam em atividades corriqueiras, como reformar o portão ou reorganizar uma caixa de ferramentas, a mulher tende ao recolhimento e à inatividade. “Se for um casamento antigo, em que a senhora fazia as refeições e sabia o lugar da chave, esse ‘bebê’ que não saber viver sozinho precisa de uma nova assistente. Frente a isso, ele pode se atirar em uma nova relação sem ter elaborado adequadamente”, explica.

Outro fator que inibe as mulheres são os filhos: “Mães de adolescentes têm medo de levar um homem para casa. Elas primeiro vão criar os filhos antes de se relacionar”, explica a diretora da agência Par Ideal. A dica, nesse caso, não é pedir permissão, mas informar sobre o novo relacionamento. “Também existem os conflitos quando o pai arruma uma namorada com a mesma idade que a filha. Alguns procedimentos podem tranquilizar, como um casamento com separação de bens”, cita o pesquisador.

A reação à viuvez também muda conforme a idade em que se perde o amado. “Entre idosos, é comum que casais vivam em casas separadas. O objetivo de formar uma família, de ter uma casa, tudo isso já passou. Eles agora dão ênfase na qualidade da relação”, conta a psicóloga Sandra Moreira, professora da Universidade da Maturidade da Universidade Positivo.

À sombra do outro

Ao voltar a namorar, é comum que o viúvo procure substituir o ex-companheiro. “Quando a pessoa teve um relacionamento feliz, ela quer preservar essa história. Muitas vezes, eles procuram alguém com os mesmos princípios, a mesma religião e características semelhantes. Mas nessa busca, é importante se lembrar de que o novo relacionamento não vai ser igual, e que o novo amor não vai substituir o outro”, diz Sheila Rigler, coach em relacionamentos.

Outra questão é a presença constante do falecido no novo relacionamento. “É normal se referir à pessoa que morreu com carinho. Mas é preciso ter equilíbrio e bom senso. Não precisa ter uma foto do falecido no quarto, por exemplo, mas se pode guardar uma na carteira ou em um álbum”, aconselha Amorim.

Um viva à solteirice Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo Os amigos foram fundamentais para a universitária Thaís Golunski, 30 anos, após a morte abrupta do companheiro. Depois de um mês sozinha em casa, que misturou a morte com um período sem emprego, foram aparecendo os convites dos amigos para sair. “Eles deram suporte, se colocaram à disposição, até indicavam processos de seleção de emprego. A companhia deles, mesmo em casa, me ajudava muito. Mas conhecer gente nova também é importante porque eles não sabem nada sobre a sua vida e não te olham como ‘coitadinha’”, lembra a estudante de Ciências Contábeis. Foram seis meses lidando com os resquícios da vida do namorado, com quem tinha acabado de comprar uma casa. Contas, herança e questões familiares foram acertadas nesse período, antes que pudesse manter as memórias boas da relação com a dor da perda atenuada. Passaram-se dois anos até que namorasse novamente. “É muito difícil ter um relacionamento sério com outra pessoa porque se carrega muita coisa da outra relação e também se compara muito quando você teve alguém com tanta afinidade”, conta. Casamento não está em seus planos, mas, sim, conhecer gente nova e viajar pelo mundo. Pronto para um compromisso Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo O engenheiro Sylvio Bhary, 54 anos teve um casamento feliz por mais de uma década. Após a morte (por câncer) da esposa, manteve-se trabalhando e ativo em hobbies que antes dividia com a mulher, como andar de moto e viajar. “Sua única alternativa é viver. Você pode escolher passar sofrendo e se anular ou optar por viver feliz como você era”, conta. Ao amor, foi se abrindo aos poucos, a partir de relacionamentos breves. “Mas ninguém que me completasse, e isso foi um problema. Queria muito alguém parecida com a minha esposa”, comenta. Nessa busca por um relacionamento sério, o engenheiro optou por uma agência de namoro, que combinou seu perfil com a médica Lúcia Helena Tonon, 42 anos, com quem está há um ano e meio. Para o casal, um dos ingredientes para o namoro estar dando certo foi o fato de terem filhos da mesma idade e de a namorada ter sido bem aceita na família. “Para mim não era importante o consentimento, mas essa validação do relacionamento entre meus filhos”, comenta o viúvo.   A OUTRA PARTE A diretora da agência Par Ideal, Sheila Rigler dá dicas para quem está em um compromisso com um viúvo: Apoie – Respeite datas comemorativas, que lembrem o viúvo da pessoa que se foi. Esqueça o ciúme – Lembre-se que o viúvo construiu uma vida com outra pessoa e isso inclui familiares, que podem querer manter contato. Seja você – Não haja como se fosse substituir a pessoa que se foi, a atitude correta é demostrar que está ali porque ama a pessoa viúva.
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