Comportamento

Bel Victorio

Viúvos contam como é recomeçar e voltar a amar

Bel Victorio
10/10/2015 15:10
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Senhoras vestidas de preto, com crucifixos e rendas para esconder o rosto, fazem parte do imaginário que ronda a palavra “viúvo”. Mas, assim como essas senhoras estão em extinção, é raro ver um viúvo que se deixe rotular pelo título e tenha se entregado à solidão eterna. Eles voltam a se relacionar, apesar das dificuldades que envolvem esse recomeço.
Um dos segredos parece estar ligado à vida social: quanto mais agitada ela for, mais rápido e menos indolor esse processo de voltar à ativa se torna. Essa rede de apoio é valiosa principalmente em um primeiro momento, quando o enlutado está ainda confuso. “Amigos podem conferir como anda a vida prática e se por à disposição para ouvir, dando o tempo que a pessoa precisar”, comenta Clóvis Amorim, professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Durante seis meses ou um ano, o viúvo vai viver o processo de luto mais intensamente. “Enterrar a pessoa que faleceu, aceitar e reconhecer a realidade da perda é um passo muito importante para que o luto não seja complicado”, explica o especialista. Outra fase inclui os ajustes externos (fazer as tarefas básicas do dia a dia, como pagar contas ou ir ao mercado) e internos, que é se lembrar da morte sem dor, mas com saudades.
A última fase seria encontrar uma conexão duradora com a pessoa falecida. Uma das formas de se fazer isso é justamente se abrindo a uma nova experiência no campo do amor. “Extrai-se a energia emocional do relacionamento antigo para reinvestir em um novo relacionamento. Freud já dizia que resolver o luto é voltar a amar”, resume.
Homens x mulheres
Segundo especialistas, mulheres e homens passam pela fase de luto de forma diferente. Enquanto os homens tendem ao ativismo e se focam em atividades corriqueiras, como reformar o portão ou reorganizar uma caixa de ferramentas, a mulher tende ao recolhimento e à inatividade. “Se for um casamento antigo, em que a senhora fazia as refeições e sabia o lugar da chave, esse ‘bebê’ que não saber viver sozinho precisa de uma nova assistente. Frente a isso, ele pode se atirar em uma nova relação sem ter elaborado adequadamente”, explica.
Outro fator que inibe as mulheres são os filhos: “Mães de adolescentes têm medo de levar um homem para casa. Elas primeiro vão criar os filhos antes de se relacionar”, explica a diretora da agência Par Ideal. A dica, nesse caso, não é pedir permissão, mas informar sobre o novo relacionamento. “Também existem os conflitos quando o pai arruma uma namorada com a mesma idade que a filha. Alguns procedimentos podem tranquilizar, como um casamento com separação de bens”, cita o pesquisador.
A reação à viuvez também muda conforme a idade em que se perde o amado. “Entre idosos, é comum que casais vivam em casas separadas. O objetivo de formar uma família, de ter uma casa, tudo isso já passou. Eles agora dão ênfase na qualidade da relação”, conta a psicóloga Sandra Moreira, professora da Universidade da Maturidade da Universidade Positivo.
À sombra do outro
Ao voltar a namorar, é comum que o viúvo procure substituir o ex-companheiro. “Quando a pessoa teve um relacionamento feliz, ela quer preservar essa história. Muitas vezes, eles procuram alguém com os mesmos princípios, a mesma religião e características semelhantes. Mas nessa busca, é importante se lembrar de que o novo relacionamento não vai ser igual, e que o novo amor não vai substituir o outro”, diz Sheila Rigler, coach em relacionamentos.
Outra questão é a presença constante do falecido no novo relacionamento. “É normal se referir à pessoa que morreu com carinho. Mas é preciso ter equilíbrio e bom senso. Não precisa ter uma foto do falecido no quarto, por exemplo, mas se pode guardar uma na carteira ou em um álbum”, aconselha Amorim.