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O estudante de 91 anos já possui uma longa experiência na área da arquitetura, engenharia e construção, e compartilha seu conhecimento durante as aulas. Foto: Centro Universitário Barão de Mauá
O estudante de 91 anos já possui uma longa experiência na área da arquitetura, engenharia e construção, e compartilha seu conhecimento durante as aulas. Foto: Centro Universitário Barão de Mauá| Foto:

Aos 91 anos, o técnico em desenho arquitetônico Carlos Augusto Manço é um dos melhores alunos da turma de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Quando ele foi prestar o vestibular, as pessoas até nos perguntaram se era pegadinha”, relata a neta do estudante, Isabella Bucci, de 35 anos. Segundo ela, alguns funcionários da faculdade e alguns candidatos às vagas não acreditaram que seu avô voltaria para a sala de aula.

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Carlos ingressou na universidade em 2018 e agora está no segundo ano do curso. Ele estuda no período noturno e se esforça para entregar todos os trabalhos nos prazos estabelecidos.

“Não é fácil porque dão muita tarefa de casa. São oito matérias e cada professor quer que a gente faça a dele. Tem vezes que eu nem sei quem atender primeiro”, brinca o estudante, com bastante lucidez e bom humor.

Segundo ele, o ensino superior também exige muitas horas de leitura e há momentos em que seu raciocínio não acompanha. “Não estou acostumado, mas o que eu acho mais complicado mesmo é fazer os projetos no computador. Sempre desenhei à mão e percebo que o sentimento de rabiscar as ideias no papel é outro”, relata o nonagenário, que fez um curso de informática para a terceira idade há alguns anos, mas ainda tem dificuldade para lidar com a máquina. “Ainda bem que alguns alunos me ajudam”.

A jovem Lorena Finassi Simões, de 19 anos, está entre eles. No primeiro semestre do curso, a futura arquiteta se aproximou do colega e se colocou à disposição para auxilia-lo. Depois, não parou mais. “Fizemos vários trabalhos juntos, o ajudo em algumas matérias e imprimo conteúdos para que ele possa estudar. Só que ele me ensina muito mais”, afirma a garota, que Carlos como um segundo pai.

“É uma experiência única estudar ao lado dele porque ele brinca com a gente e conversa sobre qualquer coisa. Às vezes, estamos em um dia triste e o ‘Seu Carlos’ age como o paizão da sala. Ajuda todo mundo”, diz.

Carlos participa de todas as atividades dentro e fora da sala de aula e inspira os demais alunos. Foto: Arquivo pessoal
Carlos participa de todas as atividades dentro e fora da sala de aula e inspira os demais alunos. Foto: Arquivo pessoal

 

O estudante de 91 anos já possui uma longa experiência na área da arquitetura, engenharia e construção, e compartilha seu conhecimento durante as aulas. Foto: Centro Universitário Barão de Mauá. Além disso, o estudante de 91 anos também possui uma longa experiência na área da arquitetura, engenharia e construção, e compartilha seu conhecimento durante as aulas. “Ele se destaca. Sem contar que é muito assíduo, engajado, está sempre presente nas atividades em sala e nas que ocorrem fora dela. É um exemplo de estudante”, afirma o coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo, César Rocha Muniz.

De acordo com o coordenador, é comum encontrar o idoso caminhando devagar pelos corredores da instituição, conversando com os demais estudantes e até chamando a atenção de professores que insistem em tratá-lo com exclusividade. “Ele possui algumas limitações devido à idade, mas lida com elas sempre com humor e protesta quando algum docente quer oferecer a ele um tratamento mais leve. Ele quer ser tratado igual aos demais alunos e luta por isso”, comenta o coordenador.

Mercado de trabalho

Antes de iniciar a graduação, Carlos trabalhou como desenhista da Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto, onde atuou ao lado de engenheiros por quase 30 anos. “Fiz os desenhos para as reformas da universidade e também durante a ampliação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Aprendi muito e me aposentei ali na década de 90”, relata.

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Mas o gosto pelo desenho começou ainda mais cedo, em meados de 1950, ao servir o Exército Brasileiro. “No meu batalhão tinham dois desenhistas, e eu gostei muito do que eles faziam”, recorda o morador de Ribeirão Preto, que concluiu o serviço militar obrigatório com vontade de estudar Arquitetura. “Aí comecei a trabalhar no Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão (Daerp) e atuei com uma arquiteta que me encaminhou para fazer o curso de desenho. Entrei nessa área e continuei”.

Aos poucos, o dia a dia no trabalho foi ensinando muito do que ele aprenderia na faculdade e a rotina o impediu de sentar nas cadeiras de uma turma de ensino superior. “Ele só voltou a falar disso quando um primo meu entrou no curso de Arquitetura”, explica a neta Isabella, que incentivou o avô a buscar o sonho depois que a avó Eunice Borzani Manço faleceu, aos 83 anos. “O avô estava muito sozinho. Então, como eu sabia que ele queria fazer o curso, o ajudei e estou muito feliz pela decisão dele”.

Carlos tem dois filhos, oito netos e quatro bisnetos, que são a motivação para tanto empenho aos 91 anos.

“Quero mostrar a eles que é importante estudar, concluir uma faculdade e fazer o que gosta. Com certeza, é um sonho realizado”, finaliza o estudante.

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