Comportamento

Raquel Derevecki

Após transplante de rim, homem se torna triatleta e dobra expectativa de vida

Raquel Derevecki
28/01/2019 13:00
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O atleta comemorou o aniversário de 20 anos do seu transplante de rim em um torneio de triathlon na Argentina. Foto: Arquivo pessoal

“Você até poderá fazer atividades físicas, mas não se tornará um atleta”. Essa foi a sentença médica proferida ao empresário Rodrigo Dalla Bona Swinka quando descobriu que precisaria de um transplante de rim para sobreviver. Aos 21 anos, o morador de Curitiba sofreu uma grave falência renal e seguiu para a sala de cirurgia. “Recebi um rim da minha mãe [Elisabeth] e lembrei das palavras daquele especialista. Para mim, a afirmação dele soou como um desafio e eu decidi me dedicar para ser um atleta transplantado”, relata Swinka.
No entanto, logo após o procedimento cirúrgico, ele percebeu que a trajetória a enfrentar não seria fácil. “O rim precisa funcionar automaticamente no momento em que é colocado, mas meu organismo rejeitou o novo órgão e ainda peguei uma forte pneumonia. Isso me deixou entre a vida e a morte”. Segundo ele, foram necessários aproximadamente dez dias para que seu corpo respondesse de forma positiva ao transplante. “Tive que fazer hemodiálise e lembro da minha mãe me visitando várias vezes. Ela ainda sentia dor por causa da cirurgia e, mesmo assim, ficou ao meu lado. Foi muito guerreira”.

Depois daqueles momentos de angústia, a família recebeu a notícia esperada. “Sem explicação, meu novo rim começou a trabalhar, e foi uma alegria!”, recorda o empresário, que hoje tem 41 anos e decidiu comemorar as duas décadas vividas após o transplante competindo em um evento internacional: a 9ª edição dos Jogos Latino Americanos para Transplantados, na Argentina.

Aliar atividades físicas à alimentação com baixa taxa de sódio, gordura e proteína garantiu ao transplantado Rodrigo Swinka uma saúde de ferro. Foto: Divulgação
Aliar atividades físicas à alimentação com baixa taxa de sódio, gordura e proteína garantiu ao transplantado Rodrigo Swinka uma saúde de ferro. Foto: Divulgação
O torneio ocorreu em novembro de 2018 e é uma vitrine para histórias de superação de transplantados. “Eu não acompanhei o Rodrigo antes da cirurgia, mas nesses anos que o atendo percebi uma melhora significativa. Não conheço mais ninguém que tenha se tornado triatleta como ele após a cirurgia”, comenta o médico nefrologista Renato Almeida. Segundo o especialista, a expectativa de vida dos pacientes que recebem órgãos de doadores vivos – como ocorreu com Rodrigo Swinka – é de aproximadamente 10 anos, média que o curitibano já dobrou com tranquilidade.

“Muitos transplantados se acomodam e começam a ganhar peso excessivo após a cirurgia. Isso faz com que desenvolvam pressão alta, diabetes e aumento do colesterol. Nada disso ocorreu com o Rodrigo porque ele buscou resiliência e superação”, pontua Almeida.

A rotina de atividades físicas associada à alimentação com baixa taxa de sódio, gordura e proteína fez com que a saúde do atleta voltasse à normalidade, sem motivos para preocupação. “Hoje ele realiza exames trimestrais e está ótimo devido aos cuidados no dia a dia. Que venham mais dez anos para o Rodrigo!”, estima o médico.

Preparo físico

Para Swinka, completar 20 anos de transplante como triatleta mostra que é possível ter qualidade de vida após a cirurgia. “Não foi fácil. Logo após receber o novo rim, precisei ficar três meses em isolamento porque estava com baixa imunidade. Foram três meses em repouso total”, lembra Swinka. Foi só depois desse período de recuperação que ele conseguiu retornar ao curso de Administração, ao trabalho e iniciar a praticar exercícios físicos com bastante cuidado. “Comecei fazendo musculação dentro dos meus limites, depois saía pedalar, correr e nadar de vez em quando”.
No começo, as atividades eram realizadas sem o objetivo de competição, em razão da sua condição de transplantado. “Foi apenas em 2017 que eu descobri a existência de torneios específicos para atletas transplantados. Nessas competições, as provas são feitas separadamente para evitar o desgaste excessivo.”
O curitibano entrou em contato com a Federação Mundial de Jogos para Transplantados – a World Transplant Games Federation (WTG) – e decidiu se inscrever no evento realizado pela entidade na América do Sul. Para isso, treinou de forma mais intensa por quatro meses. “Eu alternava entre natação, corrida e ciclismo, e folgava um dia a cada dez. Consegui melhorar meu desempenho e passei a integrar a delegação do Brasil”.
Rodrigo Swinka integrou a delegação brasileira na 9ª edição dos Jogos Latino Americanos para Transplantados, na Argentina. Foto: Divulgação
Rodrigo Swinka integrou a delegação brasileira na 9ª edição dos Jogos Latino Americanos para Transplantados, na Argentina. Foto: Divulgação
A equipe verde e amarela contou com um total de 13 atletas, entre transplantados de coração, rim e medula óssea. Swinka representou o país na categoria masculino 40-49 anos na modalidade de triathlon. “Corri cinco quilômetros no primeiro dia, pedalei 30 quilômetros no segundo e terminei com 400 metros de natação no último dia de provas”, recorda o rapaz, que conquistou a medalha de prata na piscina e a de bronze na bike.

“Foi uma celebração da vida. Mesmo as provas sendo pesadas, eu curti cada uma delas e me emocionei ao atravessar as linhas de chegadas”, recorda o empresário.

Agora, o triatleta – que recebe apoio do Clube Curitibano – almeja representar o Brasil no campeonato mundial da modalidade e quer promover um evento para transplantados dentro do país por meio da Associação Brasileira de Transplantados (ABTX). Além disso, Swinka desenvolveu um site para incentivar outros pacientes como ele a também praticarem atividades físicas e, assim, melhorarem a qualidade de vida e a autoestima. “Não deixe ninguém frear você. Estabeleça um objetivo e busque alcançá-lo dentro de seus limites porque o transplante não é um fim. É um novo começo”, garante.
Doação de órgãos no Brasil
Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), entre janeiro e setembro de 2018 foram registradas 8.058 notificações de doadores de órgãos potenciais no país. No entanto, apenas 2.635 deles efetivaram a doação. Cada um deles ajudou até oito pessoas.
No mesmo período, mais de 33 mil pacientes aguardavam na fila de espera por um órgão e 1.852 deles morreram pela demora na realização do transplante. Aproximadamente 40 eram crianças que precisavam de um novo fígado, coração, pulmão, pâncreas ou rim.
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