Comportamento

Aléxia Saraiva

Arte, música, marionetes: as histórias da XV de Novembro em um sábado

Aléxia Saraiva
11/08/2018 14:52
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Andar na Rua XV de Novembro durante um sábado de manhã é muito mais do que assistir o palhaço Sombra imitando os passantes enquanto se come um sanduíche de pernil nas mesas sob os toldos roxos. O calçadão poderia encher um álbum de figurinhas com todos os personagens icônicos que já fizeram seu nome por lá, mas um dos seus segredos é justamente não cansar de surpreender — e, assim, sempre se renovar com atividades e personalidades diferentes.
Fizemos esse passeio e selecionamos cinco atrações que batem cartão na rua todo final de semana, cada um com seus próprios destaques. Confira:

As estátuas vivas

Normalmente pintados de uma só cor e com a habilidade de ficarem paradas por horas, as estátuas vivas só interagem se alguém dá atenção a elas. Elas se diferenciam principalmente pelos materiais que imitam, como gesso, pedra ou cobre.
O personagem Dourado é um deles. Ele ocupa a esquina da XV com a Alameda Dr. Muricy. Seu nome vem da sua inspiração, uma estátua de ouro. E assim como seus colegas, ele não fala: todas as informações que conseguimos na entrevista foram baseadas na adivinhação das respostas, e eventualmente um auxílio com a caneta. Dourado está há um mês trabalhando todos os dias no local. Um guarda-chuva e um celular, também nas suas cores, participam das interações frequentes com o público.

As marionetes

Buddy é quase vizinho do dourado. Seja brincando com a bolinha ou roendo seu osso, o cachorro de marionete chama atenção de todas as crianças que passam por ali, sempre ao som de tarantelas. Apenas há 60 dias ocupando o ponto, Roberto Assis – ou Beto, como prefere ter chamado – trabalha com teatro há décadas, mas é novo na área dos bonecos.
Em 2014, na própria Rua XV, ele viu um artista da área e decidiu criar o seu próprio boneco, construído por ele mesmo ao longo dos quatro anos com materiais reciclados. Segundo ele, a recepção do público foi extremamente positiva.  “Meu objetivo é interagir, também, com adultos e crianças que têm medo de cachorros”, explica. No momento da entrevista, algumas crianças pararam para dar o osso ou jogar a bolinha. Na volta, um público de mais de 20 pessoas observava as brincadeiras de Beto com Buddy.

O pingue-pongue

O Lazer na XV é uma iniciativa da Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ) que distribui, ao longo de cinco pontos do calçadão, atividades que atraem cidadãos de todas as idades e que vão da cama elástica à bicicleta. No entanto, foi o pingue-pongue que construiu um grupo fiel, que fazem fila para ocupar as duas mesas toda semana. “É diferente da recreação: nós propomos a apropriação do espaço de lazer. É bem coisa de curitibano!”, ressalta Eloir Castro, orientador da SMELJ.
Natan Elias, estudante, vê na atividade um momento para extravasar o cansaço da semana e se divertir. Assim como Douglas Viegas, funcionário público, que joga desde pequeno e adorou a iniciativa da Prefeitura. “Eu descobri passando por aqui logo no começo. O pessoal é muito gente boa. Quem faz esporte é gente do bem”, destaca.

Os artistas visuais

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Nos sábados, a quadra da Av. Luiz Xavier vira um corredor de artes visuais. Mais do que por à venda seus trabalhos, os artistas cadastrados no Instituto Municipal de Turismo gostam de serem vistos e reconhecidos. É o caso de Carlos Alberto Lazzarotto — sobrenome compartilhado com Poty por ser da mesma família. Agora aposentado, ele é formado em Belas Artes e trabalhou a vida toda fazendo gravuras para jornais, revistas e agências de publicidade. Agora, gosta de mostrar os desenhos que faz e que levam cerca de 20 horas para serem concluídos. Os valores ficam entre R$ 150 e R$ 200.
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Osmar Ropelatto, ao contrário de Lazzarotto, só foi cursar artes visuais depois de aposentado. Há um ano e meio ele começou com a pintura, e prefere trabalhar com cores quentes. Apesar de gostar muito de Monet e Van Gogh, ele diz não tentar emular o estilo dos pintores e seguir o seu próprio. Seus quadros levam de três horas a três dias para ficarem prontos, e variam de R$ 150 a R$ 500.

Os músicos

Talvez o mais espontâneo dos grupos, os músicos acabam tendo uma programação variada a cada dia, raramente com os mesmos pontos ocupados pelos mesmos artistas. Na Boca Maldita, quem chamava a atenção tocando clássicos de rock e MPB em versão acústica era Deisy Parno. Com apenas 19 anos, há três ela saiu de sua cidade, Quedas de Iguaçu, para viajar se apresentando em cidades diferentes. Ela aprendeu a tocar violão sozinha, já que o pai só ensinou a técnica aos seus irmãos. Agora, se estabilizou em Curitiba, para fazer nome no seu estado de origem.
Ela alterna o palco com o Palhaço Tico Bonito, que diariamente apresenta sua peça chamada Licença Para Passar. “A gente acredita na arte como forma de alegrar o dia das pessoas e fazer o bem. E quanto isso vale?”, comenta.
Outros sons ressoavam nas outras esquinas do calçadão, indo da guitarra clássica à dupla de sertanejo. Mesmo com seus repertórios tão diferentes, eles compunham, em sintonia, o mesmo sentido dos acordes que saíram no fim da apresentação de Parno. All in all it’s just another brick in the wall.
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