Comportamento

Marina Mori

Balas Zequinha e o personagem que não desaparece do imaginário dos curitibanos

Marina Mori
23/08/2018 14:07
Thumbnail

Foto: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi

Não é exatamente obrigatório ser curitibano e conhecer as Balas Zequinha, mas a relação que se tem com o personagem pode indicar o quanto você está ligado às manias e memórias da cidade. Se o conhecimento for muito intenso, também pode revelar a sua idade, claro, mas isso é detalhe.
As balas Zequinha começaram a ser fabricadas pela marca A Brandina no fim da década de 20, em um imóvel curioso no centro de Curitiba. A novidade logo conquistou o público, da embalagem de cada doce (feita manualmente com a própria figurinha) à criação dos desenhos, feitos pelos artistas Alberto Thiele e Paulo Carlos Rohrbach. A produção das guloseimas foi encerrada em 1967, mas isso não significou o fim do palhaço Zequinha no contexto curitibano.

“Zequinha, o mais curitibano de todos os piás”

Foi com este slogan que o governo do Estado anunciou o retorno do palhaço Zequinha a Curitiba, em 1979. Mas, em vez de aparecer na embalagem rústica das balinhas, o personagem icônico ganhou uma apresentação mais pomposa e digna de um álbum só seu. A campanha do governador Ney Braga, criada para impulsionar a coleta de ICM na capital, acabou se tornando febre entre crianças e adolescentes.
“Na primeira troca, você ganhava o álbum e uma carteira do Clube do Zequinha. Uma vez completado o álbum e constatado o fato num dos postos de troca, esse dava direito a um prêmio e um cupom para concorrer a um sorteio”, escreve Washington Cesar Takeushi no blog Circulando por Curitiba. Cada mil cruzeiros (hoje, o valor seria equivalente a R$ 0,36) davam direito a um pacote com 20 figurinhas, continua o autor.
Fotos: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi
Fotos: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi
Segundo ele, era um desafio completar o álbum porque alguns números eram os mais custosos de encontrar. O Zequinha 10, de tão raro, virou até apelido para se referir às pessoas complicadas, difíceis de lidar.
Fabiano Vianna, 43, é um dos poucos curitibanos que ainda guardam o álbum completo do palhaço Zequinha. “Lembro que mandei uma carta pedindo as figurinhas que faltavam para fechar. Eram cinco. Eles mandaram para mim com um carimbo”, conta. O lendário Zequinha 10, lembra ele, estava entre os números em falta.
Foto: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi
Foto: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi
“Eu tinha uns cinco, seis anos, e minha mãe chegava com as figurinhas para a gente colar cada uma com cola”, conta Vianna. Os 200 selos do álbum entregue em troca de notas fiscais mostravam o palhaço Zequinha em cenários variados do cotidiano: em casa, na escola, nos transportes, nas festividades.
As figurinhas vinham acompanhadas de uma pequena legenda que ora contava uma curiosidade, ora reforçava algum hábito tipicamente curitibano. “Foi uma época muito marcante para todo mundo que colecionou, porque, além de divertir, as figurinhas valorizavam a identidade de Curitiba. Era muito legal ter um álbum em que você se identificava com coisas da cidade, como o ônibus expresso e os bairros clássicos, como Santa Felicidade“.
Foto: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi
Foto: Divulgação / Washington Cesar Takeuchi

Por onde anda Zequinha?

Apesar de o personagem ter se tornado uma relíquia histórica de Curitiba, de vez em quando Vianna lança mão de alguns truques para que a lembrança do palhaço Zequinha não desapareça do imaginário curitibano.
Munido caneta nanquim, aquarela e tinta acrílica, o artista faz questão de incluir o ícone de sua infância em croquis urbanos da capital paranaense. “Sempre procuro colocar personagens da cidade nos meus desenhos e o Zequinha não pode faltar”, explica.
Onde está Zequinha? O artista Fabiano Vianna tem como hábito incluir personagens que marcaram a história de Curitiba. O palhaço das icônicas balas Zequinha, é claro, quase nunca fica de fora. Foto: Arquivo Pessoal
Onde está Zequinha? O artista Fabiano Vianna tem como hábito incluir personagens que marcaram a história de Curitiba. O palhaço das icônicas balas Zequinha, é claro, quase nunca fica de fora. Foto: Arquivo Pessoal
Ambos – artista e personagem – compartilham da mesma essência. “O Zequinha é a representação do personagem clássico de Baudelaire, o Flâneur. Ele caminha pela cidade e tem prazer em conhecer os lugares, a história. E isso tem tudo a ver com o que eu faço”.
Há quatro anos, Vianna lidera a versão curitibana do movimento mundial batizado de Urban Sketchers. Um grupo de amadores e profissionais se reúnem todos os sábados, das 15h às 17h, para desenhar croquis de lugares especiais da capital paranaense. “É uma tentativa paralisar o tempo e contar a história da cidade”, diz o artista.
Fabiano Vianna mostra um dos croquis em que Zequinha aparece, no Passeio Público, e a cartilha que apresentava a campanha de coleção de figurinhas da década de 70. Foto: Arquivo Pessoal
Fabiano Vianna mostra um dos croquis em que Zequinha aparece, no Passeio Público, e a cartilha que apresentava a campanha de coleção de figurinhas da década de 70. Foto: Arquivo Pessoal
LEIA TAMBÉM