Comportamento

Denise Morini, especial para a Gazeta do Povo

Praticidade é motivo principal para adoção da bicicleta como modal no Brasil, diz pesquisa

Denise Morini, especial para a Gazeta do Povo
28/12/2018 08:00
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Mais de 70% dos entrevistados da pesquisa escolhem o modal para trabalhar. Foto: Unsplash

A praticidade e a rapidez foram as principais causas que levaram pessoas a adotar a bicicleta como meio de transporte no Brasil entre 2017 e 2018. A informação é de um estudo realizado pelo LabMob – laboratório de mobilidade sustentável, mantido pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Associação Transporte Ativo.
A resposta foi apontada por 38,4% das 7.644 pessoas ouvidas em 25 cidades brasileiras. A pesquisa “Perfil do Ciclista 2018” também foi feita em três cidades argentinas e quatro cidades colombianas.
A maioria dos entrevistados (75,8%) escolhe esse modal para ir ao trabalho, o que derruba a ideia de que a bicicleta é um meio de lazer para a maioria dos brasileiros – que aparece como segundo motivo para pedalar (61,9% responderam que pedalam para encontros sociais e por lazer).
O designer curitibano e mestre em Tecnologia e Sociedade, Henrique Jakobi, engrossa a estatística da praticidade. Acostumado a percorrer a pé os quatro quilômetros de distância entre sua casa e a faculdade, ele estranhou quando precisou adotar o transporte público ao mudar-se para um bairro mais distante. A grade de horários dos ônibus, que limitava sua liberdade de ir e vir quando fosse mais conveniente e adequado a seus compromissos, fez com que ele buscasse outra solução. Foi assim que ele se interessou pela primeira vez pelo tema ciclismo.

“Acho que hoje a bicicleta faz parte da cidade e da rua e as pessoas sabem que o trânsito tem sido esse ambiente compartilhado.Mas ainda há muita coisa a ser melhorada”, avalia o designer, defendendo que é necessário planejar a adequação das ruas para garantir a adoção da bicicleta por mais pessoas.

Morador da região metropolitana de Curitiba, ele conta que hoje prefere ir de carro ao trabalho – pelas condições do trânsito em sua região – e adota a bike quando precisa ir ao centro de Curitiba, onde teria que pagar para estacionar. “A questão da infraestrutura dedicada a esse modal, com planejamento, garantiria muito mais segurança a todos. Os acidentes com carros e bicicletas acontecem porque muitas vezes o motorista não está esperando encontrar um ciclista naquela rua”, analisa Jakobi, que é atualmente um dos integrantes da Ciclo Iguaçu, associação de ciclistas criada em Curitiba para a discussão e defesa de políticas públicas de ciclomobilidade.

Mais infraestrutura

Victor Andrade coordena o LabMob da UFRJ: "Há poucos dados sobre o ciclismo no Brasil. O LabMob surgiu para mapear esse  modal".
Victor Andrade coordena o LabMob da UFRJ: "Há poucos dados sobre o ciclismo no Brasil. O LabMob surgiu para mapear esse modal".
Nos últimos quatro anos, houve um crescimento expressivo em ampliação de vias ciclísticas em muitas cidades do país. Mas ainda há muito a ser construído: um estudo recente, feito com informações das capitais brasileiras e do governo do Distrito Federal revelou que, de 2014 pra cá, a malha cicloviária expandiu 133% — já são mais de 3 mil quilômetros de faixas para o tráfego de bicicletas.
Por outro lado, a pesquisa “Perfil do Ciclista 2018” revelou que a principal motivação que levaria os entrevistados a pedalarem mais seria a ampliação e a adequação de infraestrutura para o ciclismo (47,6%). Ou seja, cresceu, mas ainda não atende a demanda por completo. “Para ser mais eficiente, a malha cicloviária deveria ser pensada da mesma forma como a malha para veículos motorizados, com eixos de convergência. Na maioria das cidades, isso não existe. São apenas trechos para o tráfego das bicicletas, o que gera insegurança por colocar o ciclista em áreas construídas para carros”, avalia Victor Andrade, doutor em Urbanismo e coordenador do LabMob.
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