Comportamento

Talita Boros Voitch

Curitibano vira “doutor” de bonecos Falcon, ícone da década de 1980

Talita Boros Voitch
01/08/2017 12:00
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Mauricio Wendler Santana: paixão pelo boneco Falcon, ícone dos anos 80, virou trabalho. (Foto: Mauricio Wendler)

A lembrança mais antiga que o fotógrafo Mauricio Wendler Santana, de 40 anos, tem do Falcon é de quando abriu o armário da casa onde vivia com a família, no Bairro Alto, em Curitiba, e deu de cara com um boneco da versão piloto ainda dentro da caixa. Mauricio tinha 3 anos e o brinquedo era presente para o irmão mais velho, Marcelo. No Natal daquele mesmo ano, ele ganhou o seu: um Falcon 80, espécie de homem do futuro, que vestia um macacão preto com duas listras amarelas do peito até os pés, além de capacete e viseira. Era início da década de 1980 e ali nascia uma paixão.
Para quem não lembra – ou ainda não era nascido –, o boneco foi febre entre as crianças da época. Falcon era a versão brasileira do americano G.I. Joe, e chamado de super-herói de verdade pela Estrela, sua fabricante. O boneco foi um dos primeiros de ação lançados no Brasil com foco nos meninos. Com “cara de mau” e sua clássica cicatriz no rosto, Falcon tinha espírito aventureiro. O brinquedo foi tão popular que chegou a vender 1 milhão de unidades apenas no primeiro ano de lançamento, em 1977. O último ano de fabricação da chamada “versão tradicional” foi 1985.
Por ser um brinquedo considerado “caro” na época, Mauricio manteve o Falcon futurista como “filho único” por anos. Junto com Marcelo e os amigos da vizinhança, Mauricio conta que a turma transformava o quintal da casa da família em verdadeiros cenários de guerra e aventuras. “A gente montava acampamento ali. Era onde nós brincávamos com o jipe, o tanque e o helicóptero do Falcon. Era um grande universo de aventura”, lembra. Com o passar dos anos e a adolescência, a paixão pelo Falcon foi deixada de lado.
Tempos mais tarde, quando tinha cerca de 20 anos, Mauricio encontrou peças dos antigos Falcon jogadas em um baú de casa. Com os pedaços em mãos, desafiou o irmão mais velho que conseguiria remontar o boneco. “Peguei as peças dos nossos Falcon, que na época já tinham se perdido, e perguntei para o meu irmão se ele duvidava que conseguiria colocar aquele boneco de pé”, lembra. Desafiado a cumprir a promessa, Mauricio juntou todas as peças, refez as articulações e surgiu ali seu primeiro Falcon restaurado.
A partir de então, Mauricio começou a buscar bonecos inteiros e partes do Falcon em sites de leilão. Em grupos e fóruns nos primórdios da internet fez amizades com outros colecionadores do país e também com pessoas que comercializavam o brinquedo. “Eu adquiria as peças e comecei a desenvolver técnicas próprias para os restauros”, conta. Ao todo, Mauricio tem hoje 15 bonecos da sua coleção pessoal, além de peças para montar outros 15. “Só de cabeças de Falcon eu tenho mais ou menos umas 90”, diz.
Com um trabalho minucioso, Mauricio recupera brinquedos desbotados e com pedaços faltantes. Em alguns, opera quase como um cirurgião plástico, tamanha destruição do “paciente”. O curitibano também desenvolveu técnicas próprias para restaurar os tradicionais cabelo e barca “flocados” da linha original do Falcon. Em média, o custo para arrumar a pintura desbotada de um boneco e o cabelo e barba flocados é de R$ 100, mas há serviços que exigem mais.
Agora Mauricio trabalha num projeto audacioso de construir uma cabeça de Falcon em tamanho real. O protótipo idealizado pelo curitibano deve ter olhos de águia, como na versão lançada em 1979 na qual o boneco movimentava os olhos por uma alavanca na nuca.
Quem tiver curiosidade em saber mais sobre o trabalho do Mauricio ou quiser restaurar um Falcon pode acessar o site ou a página no Facebook.
Veja fotos da coleção e do trabalho de restauração feito por Mauricio:
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