Comportamento

Guilherme Grandi

Tiomkim: o produtor curitibano que coleciona clássicos e histórias de vida

Guilherme Grandi
01/08/2018 17:00
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Tiomkim posa com seu livro preferido, parte da sua coleção: "Hollywood, Glamour Portraits". Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.

É do alto do 27º andar de um prédio no centro de Curitiba que o produtor audiovisual curitibano Osval Dias de Siqueira Filho se inspira para criar obras que vão da contracultura à beleza humana. Ele é mais conhecido como Tiomkim e é citação obrigatória na cidade quando se fala em vídeo, cinema e fotografia.
Da mesa da sala do apartamento, que serve de “um pequeno museu para quem gosta de cinema e de música”, ele não para de criar mesmo após ter se aposentado. Aos 66 anos, Tiomkim passou os últimos 24 anos no Museu da Imagem e do Som do Paraná, ajudando pesquisadores e mantendo viva a memória da cultura paranaense.
A coleção de mais de mil discos de vinil de grandes trilhas sonoras do cinema, os mais de 500 DVD´s de filmes que enchem um quarto, a biblioteca digital com mais de cinco mil canções e as estantes repletas de livros de arte – como uma obra rara de Pier Paolo Pasolini – mostram que a sétima arte não é apenas um hobby para ele.
“A minha vida é o cinema, desde criança meu pai [que era maestro] me levava quase todos os dias para ver filmes”, conta ele em uma conversa com o Viver Bem. É debruçado sobre a cidade sem cinemas de rua que Tiomkim se inspira para novos projetos.

Aposentado? Não, obrigado

O clássico hollywoodiano "Bonequinha de Luxo", de 1962, recriado por Tiomkim para sua nova mostra. Foto: divulgação.
O clássico hollywoodiano "Bonequinha de Luxo", de 1962, recriado por Tiomkim para sua nova mostra. Foto: divulgação.
Apesar de passar os dias de aposentadoria mergulhado em filmes e música, Tiomkim não se deixou parar. Há dois anos está desenvolvendo o projeto ‘O Fotograma Revisitado’, que presta homenagem a 20 obras primas do cinema mundial, desde o clássico mudo Nosferatu – lançado em 1922 – até o contemporâneo Clube da Luta, de 1999.
“É um recorte de quase 80 anos que eu recriei através de fotos que formam cartazes dos filmes, com um carinho especial às musas Audrey Hepburn, Awa Gardner, Antonela Lualdi e Carole Lombard, entre outras”, conta o inquieto produtor. A obra, produzida de forma independente e em parceria com mais cinco fotógrafos, está em cartaz até o dia 15 de agosto no shopping Pátio Batel.
Não é apenas um projeto de pós-aposentadoria, mas de uma trajetória de três décadas dedicadas à produção audiovisual em Curitiba. “Quero fazer mais 80 fotos e criar um livro em três idiomas, fazendo a homenagem de 100 filmes”, explica ele sobre ‘O Fotograma Revisitado’.

Vida pela arte

Em uma das várias estantes de casa repletas de livros e discos, o produtor se vê aos 16 anos. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
Em uma das várias estantes de casa repletas de livros e discos, o produtor se vê aos 16 anos. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A produção audiovisual de Tiomkim não se limita apenas aos filmes, fotos e pesquisas cinematográficas. Seu programa na Rádio Educativa, ‘Cinemaskope: a maravilhosa música do cinema’, completa 25 anos ininterruptos apresentando as grandes trilhas sonoras da sétima arte.
O programa estreou pouco tempo depois da fase que ele chama de ‘anos perdidos’. Foi só por volta dos 30 anos que Tiomkim começou a “existir” de verdade: “antes disso eu apenas vivi, foi depois que vim para Curitiba que comecei a estudar e participar de oficinas na Cinemateca, no Museu da Imagem e do Som”.
Foi durante as longas passagens juvenis pela boemia de Porto Alegre, aliás, que ele adotou o nome artístico, para não ser confundido com o pai. “As pessoas vinham e perguntavam se era o Osval pai ou filho. Um dia alguém brincou falando ‘olha lá o Tiomkim’ e pegou, como uma homenagem ao maestro ucraniano Dimitri Tiomkim”, explica.
A 27 andares do chão, Tiomkim se inspira no horizonte de Curitiba. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A 27 andares do chão, Tiomkim se inspira no horizonte de Curitiba. Foto: Guilherme Grandi/Gazeta do Povo.
A quantidade de obras produzidas é de perder as contas, mas foi em meados do fim da década de 1980 e início dos anos 90 que ele recebeu a maior parte dos prêmios da carreira. Em 1989 ele ganhou o grande prêmio do Salão Curitiba Arte V e viajou até Praga, na antiga Tchecoslováquia, onde registrou o fim do Comunismo. “Eu vi toda a movimentação da queda do Muro de Berlin, mas nem imaginava o que estava acontecendo”, conta ele sobre a viagem ao leste europeu.
Anos mais tarde, em 1991, foi premiado em Vitória (ES) pelo filme “Cenas de um sonho selvagem”, e em 1997 um prêmio internacional pela obra “Rainha de Papel”, juntamente com Efigênia Rolim e Estevan Silvera.
Hoje em dia, Tiomkim se dedica a não deixar morrer a produção audiovisual elaborada ‘no braço’, sem a instantaneidade das novas tecnologias.
Serviço:
‘O Fotograma Revisitado’
Em cartaz até o dia 15 de agosto no Shopping Pátio Batel
Av. do Batel, 1868, piso L3, Batel
Horário de exposição: diariamente, das 10h às 22h.
Entrada gratuita.
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