Comportamento

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo

“Mas é ciúme, ciúme de você”. Como esse sentimento pode destruir a relação?

Dayane Saleh, especial para a Gazeta do Povo
03/11/2016 10:22
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Foto: Bigstock

O ciúme é um dos primeiros sentimentos que se tem na vida. Na infância,  aparece na possessividade em relação aos pais e aos brinquedos. Na medida em que se aproxima da fase adulta, tende a se tornar menos presente, porém, muitos acabam não percebendo o quão adverso é querer alguém ou algo só para si, prejudicando a si mesmo e o outro a quem tanto deseja.
Segundo a psicóloga Eloá Andreassa o ciúme tem raiz na insegurança. Por não se considerar páreo aos outros, o ciumento cobra exclusividade. “Essa pessoa quer estar no centro da vida de quem deseja. Isso é muito comum entre os adolescentes, que querem para si o melhor amigo”, conta a especialista em relacionamento de casais e pais e filhos. Ela explica que esse sentimento é bem comum no início da vida e que o adolescente aprende que relações maduras não podem ser carregadas de ciúme.
Desde a pré-adolescência, em torno dos 12 anos, até os 20 anos a relação entre amigos fica intensa. “É preciso atentar se um dos lados é muito possessivo, fala mal dos outros colegas daquele amigo e quando só se relaciona com uma pessoa de sua idade”, explica Andreassa que alerta para a necessidade de se buscar um terapeuta nesses casos.
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Relações familiares
Nesse sentido também existe o ciúmes entre irmãos, que brigam pelo amor dos pais. “Este é bem comum, é preciso que os pais fiquem atentos para não deixar um lado ‘esquecido'”, detalha a especialista.
Em seu artigo “Violência entre irmãos – Abuso físico, moral e sexual” a psicóloga Gisela Pires Castanho explica que a violência fraternal pode ser aparecer em diversas situações, como na existência de um filho preferido, pois o outro se sente esquecido e desconta no irmão e não nos pais, que são os objetos de desejo. “Os filhos são sempre muito diferentes um do outro. Aos pais, cabe o desafio de valorizar cada filho por aquilo que ele tem de bom e ensiná-lo a ‘se gostar como ele é’, mas também dar possibilidade que ele desenvolva tudo que pode ‘vir a ser'”.
O ciúme pode partir dos pais, que ao querer proteger a criança, isolam-na do mundo. “Os responsáveis começam a cortar os relacionamentos da criança, não a deixam ver os amiguinhos fora da escola”, conta Andreassa. Ela também comenta que os pais podem impedir o menor de ter hobbies, para que ele não crie outros relacionamentos. “Isso não é feito por mal, mas prejudica a criança”, explica.
Isso pode fazer com que a pessoa cresça insegura, desconfiada e isolada. “Quando adulto se torna uma presa fácil para uma pessoa manipuladora por não ter aprendido a socializar”, detalha a psicóloga. De duas, uma, ou o filho se submete ou ele se torna um rebelde e se afasta da família. “Isso pode fazer com que a pessoa recorra às drogas, em última instância. Outras, ela força um casamento para sair de casa. É comum”, detalha.
Casais
Nas relações românticas, o ciúme pode estar baseado nas ações do próprio ciumento, que flerta com outros ou é infiel, nas ações do parceiro, que provoca e dá sinais de infidelidade, ou apenas naquela já dita insegurança. “O ciúme reverte em controle e daí começa a invasão do celular e das redes sociais do parceiro.  Se quem é o alvo do ciúmes é sincero, começa a se cansar, aí o relacionamento entra em crise”, exemplifica Andreassa.
A psicóloga afirma que o ciúme pode causar agressividade, tanto em casa, como em público. “A agressão verbal pode ser tão terrível quanto a física, mas a última é pior porque ela representa uma grande perda de controle”, explica. Ela afirma que depois de uma agressão física o relacionamento se torna tóxico, ainda mais se o agressor coloca a culpa no outro. “Se foi algo pontual, é possível retomar a relação com ajuda profissional. Mas se a violência se tornou rotineira, é hora de terminar este relacionamento”, completa.
Aos ciumentos, os psicólogos Valéria Centeville e Thiago de Almeida propõem um questionamento no artigo “Ciúme romântico e a sua relação com a violência“. “Uma maneira saudável de lidar com o ciúme é refletir sobre esse sentimento. A pergunta: ‘por que sinto que Fulano (a) é uma ameaça para o meu relacionamento?’ pode ser altamente reveladora. Se a pergunta for respondida com sinceridade, o ciumento irá descobrir seus pontos fracos, aspectos talvez primitivos de si mesmo que ele próprio desvaloriza, mas não conseguiu desenvolver”.
Assim, quem tem ciúme de forma exagerada pode buscar melhorar a auto-estima e não descontar suas inseguranças no outro, que tem chance de culminar na violência física. É importante buscar ajuda profissional quando se sentir em um relacionamento impregnado de ciúme.