Comportamento

Adriano Justino

Como identificar um “enochato”

Adriano Justino
02/04/2006 23:56
“Vinho não foi feito para encher o saco de ninguém”, dispara o enófilo e frasista Luiz Groff. É neste clima que ele comanda uma confraria de degustação de vinhos, cujos integrantes costumam torcer o nariz para quem gasta o latin descrevendo aromas e sabores inimagináveis para quem não tem o mínimo interesse no assunto. Groff e outros especialistas na área ajudam a identificar os “enochatos”.
Para o sommelier André Porto, o típico enochato é aquele que em um churrasco no sábado à tarde, em que a turma toda está bebendo cerveja, aparece com uma maleta com taças de cristal e um vinho selecionado para a ocasião.
Outro candidato ao título é aquele que em uma “degustação informal”, quando a bebida é servida em copinhos de plástico, resolve identificar “notas” no vinho.
Nas confrarias e grupos de degustação, as pessoas ajudam umas as outras a apontar nuances diferentes no cheiro e sabor dos vinhos. Mas o enochato quer explicar o inexplicável. Convenhamos, será possível uma garrafa conter o surpreendente aroma das “geleiras da Patagônia”?
Na casa do “especialista” só tem “vinho bom”. Branco e rosé nem pensar. Segundo o enólogo Avelino Zanetti, tem gente que acha que o primeiro não é vinho e o outro só serve para mulher.
Enochato que é enochato bota banca. Se você entrar num restaurante e avistar um sujeito levantando a taça e torcendo as sobrancelhas, certamente está diante de um deles.
Outra mania do enochato: devolver garrafas de vinho. “Dia desses um senhor veio aqui na loja e devolveu um vinho porque dizia estar estragado. Tentei provar que o vinho estava bom, mas não houve jeito. Coloquei a garrafa numa das degustações da confraria e o vinho acabou sendo eleito como o melhor da noite”, relembra Groff aos risos.
Os vinhos mais antigos, em que a borra muitas vezes se separa do líquido, precisam ser decantados. E na maioria das vezes o sommelier ou o enólogo experimenta a bebida na frente do cliente para ver se o vinho não está estragado. É a hora do “entendido” dar escândalo se achando lesado pela atitude, lembra o aprendiz de sommelier Rogério Gobbi, supervisor acadêmico do Centro Europeu.
Nem todo mundo que comete alguma escorregadela nesse quesito pode receber a chancela de enochato. Há quem aja de forma desavisada. Entre os enganos mais comuns estão crenças como a de que o vinho melhora com a idade, que deve ser servido à temperatura ambiente, e que tintos vão bem com carne vermelha e os brancos com peixe. De acordo com o enófilo Raphael Zanette, é possível encontrar um vinho do seu agrado que se harmonize com o prato escolhido. Há brancos mais fechados que podem ser consumidos com carne de caça. Ou tintos mais frescos que vão bem com carnes brancas.
Mania não se discute. Mas se lamenta. Raphael Zanette lembra a história de um amigo que não dispensa pedrinhas de gelo na taça de vinho. “Já expliquei que vinho quente realmente não é bom porque só se sente gosto de álcool. Mas o gelo, além de diluir a concentração, impede que você aproveite do sabor e do aroma do vinho.” Pobres produtores!