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New York Times

Como montar um kit de sobrevivência para o fim do mundo?

New York Times
03/10/2017 18:02
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(Foto: Bigstock)

Donald Trump ameaça “destruir completamente a Coreia do Norte”; outro furacão se aproxima; um segundo terremoto monstruoso sacode o México; um novo ataque terrorista choca Londres.
Parece que o mundo está próximo do fim. Há, inclusive, uma nova data para esse apocalipse global. Mas, será que há algo que você possa fazer para se preparar?
Em um mundo em que o bunker à prova de bombas é o novo símbolo de status para os jovens plutocratas do Vale do Silício, parece que todo mundo virou sobrevivencialista, ainda que a noção envolva preparativos como uma mochila recheada de guloseimas e artigos de luxo ao lado das malas Louis Vuitton na traseira do Range Rover já apontado para o Condado Litchfield, em Connecticut. Veja a lista obrigatória dessa nova geração para o apocalipse.
(Foto: Reprodução/New York Times)
(Foto: Reprodução/New York Times)
1. Sachês para sobrevivência
A rede elétrica foi para o espaço; os supermercados estão sendo saqueados. Com a cidade à beira do colapso, a primeira coisa que você vai querer ter à mão, depois do calmante, é uma “bug-out” bag bem recheada.
Essas mochilas, que de repente adquiriram uma conotação chique, geralmente são bolsas militares leves com provisões para, no mínimo, 72 horas. Os farnéis podem ser comprados prontos e normalmente incluem tabletes purificadores de água, um aquecedor corporal para 20 horas e uma pá multifuncional à venda no Amazon por menos de US$200 (R$ 630).
2. Apostando na prata
Dois anos atrás, a Grécia foi forçada a fechar seus bancos e limitar as retiradas dos caixas eletrônicos a 60 euros/dia durante a crise que ameaçou abalar a moeda europeia. Nos EUA, especialistas como James Rickards, veterano de fundos de cobertura, e David Stockman, que foi diretor do orçamento do governo Reagan, garantem que uma crise ainda maior em breve atingirá Wall Street e o dólar.
Enquanto o bitcoin e outras criptomoedas estão nas manchetes, muitos sobrevivencialistas estão discretamente se abastecendo com moedas de US$0,10, US$0,25 e US$0,50 cunhadas antes de 1965, que são 90% prata e podem ser adquiridas de colecionadores ou em sites de metais preciosos. “É a minha versão preferida de metal precioso pós-colapso financeiro; só perde para o -chumbo em alta velocidade- (-high-speed lead-, gíria para disparos de revólver)”, diz um comentário no SurvivalistBoards.com.
3. Moedas alternativas
Imagine um verdadeiro fim de mundo econômico que faça a hiperinflação alemã dos anos 20 – aquela que fez com que o dinheiro praticamente perdesse o valor – parecer brincadeira de criança. Para se preparar para o pior, há quem prefira usar itens básicos como absorventes, sementes e cigarros (a eterna moeda de troca entre presos) como moedas alternativas, em vez de ouro ou prata.
Embora não seja necessariamente o sonho de todo sobrevivencialista, como indica Xavier Thomas, que administra o site britânico MoreThanJustSurviving.com com a mulher, Elise, o cenário de uma economia de troca deve ser levado em consideração.
“Se você analisar alguns exemplos de colapsos sociais sistemáticos, como a Argentina em 2001, ou os Bálcãs durante a guerra, percebe que os bens mais valiosos são os mais úteis, como comida enlatada, botijão de gás, baterias/pilhas, isqueiro. Uma boa regra para avaliação é a seguinte: o que você acha útil em uma situação de emergência tem valor e vai sempre encontrar alguém disposto a trocar por algo em um momento de necessidade.”
4. Como se cobrir e se proteger
Quando Trump ameaçou a Coreia do Norte, durante a Assembleia Geral da ONU, a reação de muitos sobrivencialistas foi quase pavloviana: checar o kit de sobrevivência nuclear. Desde que os abrigos antibomba desapareceram, a sobrevivência à nuvem de cogumelo parece altamente relativa.
Alguns sobrevivencialistas botam fé em opções caseiras como lençóis polvilhados com talco infantil que, segundo eles, bloqueiam os raios X, ou generosas porções de cúrcuma misturada com pimenta preta para inibir a formações de tumores.
Outros lançam mão de instrumentos básicos, como contadores Geiger, distintivos de monitoramento de radiação, tabletes de iodeto de potássio ou um jarro de água radiológico Seychelle que, segundo o fabricante, “filtra 99,99 por cento da contaminação encontrada após um evento nuclear”.
5. A outra sacolinha de sobrevivência
No caso de um apocalipse, tenha à mão camisinhas. Levíssimos, ultracompactos e duráveis, podem ser utilizados como cantil improvisado para armazenar água, acendedores ou faixas elásticas para um estilingue de caça a pequenos animais, segundo o instrutor de sobrevivência e apresentador de TV Creek Stewart.
6. Armado até os dentes, mas com o quê?
Se o policiamento não existir mais e a lei do mais forte imperar após um furacão megapotente ou um acidente nuclear, aquele estilingue feito de camisinha pode se tornar bem útil em Nova York, por exemplo, onde a posse do equipamento mais básico de autodefesa do sobrevivencialista – a arma – é fortemente restringida por lei. (O mesmo vale para soqueiras, nunchakus, estrelas ninja, canivetes, estilingues com suporte de braço e as pistolas de paint ball carregada com bolas de pimenta.)
Mas então o que um sobrevivencialista indefeso e obediente às leis deve fazer? Vários livros do segmento, como “100 Deadly Skills”, do ex-fuzileiro Clint Emerson, estão cheias de armas alternativas improvisadas, como o guarda-chuva automático forrado de chaves inglesas. “Não é ilegal ter um, mas é considerado arma se usado contra alguém”, declara o porta-voz do Departamento de Polícia de Nova York.
7. Libertação que vem dos céus
Desde os ataques de 11 de setembro, muitas pessoas que moram em apartamento vivem atormentadas pelo medo de ficarem presas em um arranha-céu quando houver um desastre. De fato, as imagens trágicas do World Trade Center inspiraram o surgimento de um nicho de opções de fuga de prédios altos. Hoje existem paraquedas (basicamente tubos gigantes retráteis de tecido) de vários tamanhos.
O SOS Parachute (cerca de US$2.400), que é compacto e pode ser guardado em um cubículo, abre em dois segundos e foi projetado para uso do 11º andar para cima. É verdade que não é lá tão confiável quanto o usado pelos militares, e para um homem de 90 quilos, por exemplo, a aterrissagem certamente não será suave.
8. A quem você se refere como “Homem do Foguete”?
Fantasia de ficção científica no filme “007 Contra a Chantagem Atômica” e acessório espacial em “Gilligan-s Island”, 50 anos depois o propulsor a jato de fato existe. Dois anos atrás, uma empresa californiana chamada JetPack Aviation lançou uma versão turbo, capaz de se manter no ar durante dez minutos, que se movimenta a até 160 km/h. Os modelos atuais estão disponíveis somente para as Forças Armadas, mas David Mayman, fundador da empresa, afirma que pretende criar uma versão comercial em um ano e meio.
Claro que tem o custo: US$250 mil, que a companhia pretende reduzir “ao preço de um carro de luxo”. Por enquanto é o Maybach dos sobrevivencialistas.
9. Coelho: animal de estimação ou comida?
Ainda que uma escassez alimentar deixe as prateleiras vazias, você vai ter que continuar comendo com regularidade.
É por isso que muitos sobrevivencialistas estão apostando suas esperanças de sustento no coelho, carne magra com alto teor proteico, considerada como o “novo frango” por quem defende a alimentação sustentável, como Michael Pollan. “Criar coelhos é um dos meios mais eficientes de gerar carne para consumo em um espaço mínimo”, reza o site Survivalist 101.
Pelos padrões de criação, o coelho também é relativamente limpo e sossegado. Sobrevivem com restos de legumes e verduras, ou até mato – e, de quebra, ainda fornecem uma pele ótima para a proteção no inverno.
10. Além dos tempos medievais
Aprender a fazer tecido, pão, utensílios de cerâmica e móveis de madeira à mão; dominar as artes da era pré-industrial de moldar o ferro e curtir o couro. Se o fim do mundo realmente acontecer – digamos, na forma de uma guerra nuclear, uma epidemia global ou um violento ataque cibernético – esses passatempos representam sua sobrevivência. Em outras palavras, talvez o cavalheirismo não tenha morrido, afinal de contas.
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