Comportamento

Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo

Paraplégico, curitibano bicampeão de escalada finaliza competição do ironman

Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo
22/08/2017 19:25
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Foto: Arquivo Pessoal

Apenas com a força do tronco e dos braços, o paratleta curitibano Diogo Ratacheski percorreu os 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42 quilômetros de corrida do Ironman, famosa prova de triatlo que, no Brasil, é realizada anualmente em Florianópolis, em Santa Catarina.
Para isso, ele precisou lidar não só com uma handbike quebrada a poucos quilômetros do fim da etapa de ciclismo e subir uma parte do trajeto de corrida de costas para que a cadeira de rodas (veja o vídeo abaixo) não virasse, mas também aceitar a paraplegia e definir novos objetivos para a vida.
Bicampeão brasileiro e campeão sul-americano de escalada, Diogo pretendia continuar no esporte pelo qual se apaixonou aos 13 anos quando sofreu um grave acidente de carro na rodovia entre Bombinhas e Balneário Camboriú. “Eu estava com amigos em uma balada em Camboriú e fui dormir no banco de trás do carro, que estava no estacionamento. O amigo que estava comigo chegou, pegou o carro e foi para a estrada. Ele dormiu no volante e aí aconteceu o acidente”, conta o paratleta.
Depois de 21 dias em coma e duas paradas respiratórias, Diogo acordou no hospital sem conseguir mexer as pernas, devido a uma lesão na 12ª vértebra torácica. O ano era 2006, Diego estava com 24 anos e se dedicava não apenas ao esporte, mas também à faculdade de geologia – em que entrou impulsionado pela paixão pela escalada.
Ao invés de desanimar, ele se jogou de cabeça no processo de recuperação, que envolvia
dois tipos de fisioterapia por dia, todos os dias, e viagens frequentes a Brasília, onde ele era tratado no Hospital Sarah Kubitschek.
“Eu queria ser aquele campeão, mas não de competições de escalada, de sair da cadeira de rodas. Progredi bastante, melhorei bastante, mas foi quando eu não consegui mais progredir mais na fisioterapia que eu comecei a entender que eu não precisava sair da cadeira de rodas para ser feliz”, lembra.
Recomeço no esporte
Depois de aceitar que não voltaria a andar, o que descreve como um processo de aprendizagem, Diogo resolveu retomar sua vida. Contrariando conselhos que recebeu de seus próprios professores, retornou à faculdade, se formou um “geólogo cadeirante” e abriu duas empresas na área. “Meu objetivo depois de formado era fazer essas empresas darem certo. À medida que elas foram se consolidando, eu decidi que precisava de um novo desafio, que era voltar para o esporte”, diz.
A primeira tentativa foi frustrada: naquele momento, ele não tinha forças o suficiente para praticar escalada apenas com as mãos. Foi então que se voltou para a corrida e, usando uma cadeira de rodas convencional, participou de sua primeira prova, com trajeto de dez quilômetros. Depois vieram as meias maratonas e logo a sensação de que era necessário encontrar um desafio maior. “Por incentivo do Augusto, um amigo meu de infância que fazia triatlo e era um ironman, resolvi experimentar a modalidade.
Ironman
A prova veio cerca de um ano e meio depois do início dos treinos, quando Diogo mal conseguia nadar os 25 metros da piscina. Antes dela, ele participou de um short triatlo, meio Ironman e algumas provas olímpicas, todas mais curtas do que o Ironman.
A rápida evolução ele credita ao trabalho desenvolvido por sua técnica, a triatleta Vanuza Maciel, e à vontade de vencer mais um obstáculo. “Eu chegava no autódromo às 6 horas e às 15 horas eu ia embora. Ficava o dia inteiro lá, treinando”, conta. Para a finalização da prova, ele diz que também foram essenciais o apoio da esposa, Alexandra Vieira, e de seu “anjo da guarda”, Luiz Rissato, que o acompanhou durante todo o trajeto.
Ao todo, o atleta demorou 14 horas para finalizar o percurso. Além da handbike quebrada e da subida em ré, enfrentou chuva, muito frio e uma ferida que se formou embaixo de seu braço durante a prova de ciclismo devido ao atrito.
“Foram três os momentos mais emocionantes da prova: o que eu estava chegando para entregar a bike, a subida da Igrejinha e quando eu cruzei a linha de chegada e escutei o locutor falar que eu era um ironman. Vem um filme na cabeça, porque a prova é o prêmio por um ano inteiro de comprometimento”, lembra.
Além dessa vitória, toda a preparação para esse momento possibilitaram que ele voltasse a escalar, reavivando a paixão do passado.
Futuro
Recuperado da competição, que aconteceu em maio, Diogo se dedica agora a sua vida como atleta, como geólogo e também como palestrante. Contando sua história em empresas e outro locais, ele pretende inspirar pessoas e arrecadar fundos para financiar seus novos desafios, que incluem representar o Brasil no campeonato mundial de Ironman, que acontece no Havaí e ser o primeiro brasileiro a escalar o El Capitan, a maior parede de granito do mundo, que fica na Califórnia, nos Estados Unidos.
Serviço
Palestra Nada é Impossível
Diogo Ratacheski fará uma palestra nesta quarta-feira (23), a partir das 8h30, no Hard Rock Café, no Batel.
Data: quarta-feira (23)
Horário: a partir das 8h30
Local: Hard Rock Café
Endereço: R. Buenos Aires, 50. Batel.
Mais informações, aqui.
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