Comportamento

Carolina Werneck

Mesmo com pouco sol, biquíni de fita igual ao de Anitta pode ser feito em Curitiba

Carolina Werneck
01/03/2018 07:00
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A técnica promete resultados que duram entre três e quatro meses. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Uma rua tranquila no bairro Lindoia, em Curitiba, esconde uma arena em que a única disputa é pela melhor marquinha de biquíni. Deitadas sobre macas e espreguiçadeiras, três mulheres aproveitam a rara manhã de sol para experimentar o bronzeamento natural com biquíni de fita.
Quem coordena a operação é Juliana Bandeira, a Ju. Ela é a dona do Espaço Camarim, que oferece às curitibanas a experiência que virou febre nacional – principalmente depois que a cantora Anitta apareceu usando só um biquíni de fita no clipe de “Vai, Malandra”, lançado em dezembro do ano passado.
Com um rolo de fita de vinil nas mãos, Juliana é cuidadosa na hora de montar os biquínis. “A modelagem vai  muito do gosto pessoal. Tem aquelas que são mais ousadas, que gostam do biquininho menor. Mas a técnica é sempre a mesma. Tem que ter leveza na mão, um certo dom para trabalhos manuais. Não pode ter firmeza na fita, ela tem que estar bem solta”, explica, enquanto vai colando as tiras no corpo de uma cliente.
A marquinha da fita fica mais "certinha" que a de um biquíni comum. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A marquinha da fita fica mais "certinha" que a de um biquíni comum. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
“Vira de costas, agora”, pede à moça deitada em uma maca. “Vou fazer um ajustezinho aqui no bumbum, tudo bem?” E tira um pedaço de fita que já estava no lugar para deixá-lo ainda mais parecido a um biquíni fio-dental. Na parede, manequins expõem outras possibilidades: recortes em formato de coração ou de estrela deixam a virilha ainda mais “personalizada”. Ju conta que são os “biquínis artísticos” e “tatuagens solares”. “Saem muito”, diz, “principalmente para noivas”.
Juliana passou a oferecer o serviço há dois anos. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Juliana passou a oferecer o serviço há dois anos. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Rotina

A primeira cliente do dia se encaminha para o sol. “Novinha, chega pra cá”, canta o rádio. Lucia Helena, que ajuda Juliana quando não está trabalhando em um shopping, aproxima-se da maca que a moça escolheu e começa a espalhar o primeiro um produto à base de parafina. É um ativador de melanina que vai potencializar o efeito do sol. “Esse é o primeiro produto. A gente passa e ela fica dez minutos. Depois passamos óleo de urucum, mais dez minutos. Por último vem o creme de beterraba, que dá um bronze dourado, mais dez minutos. Aí ela vira de costas”, detalha Ju. Mas, quando a cliente é muito branquinha, o tempo de exposição é reduzido.
Devidamente besuntadas, elas passam no máximo duas horas ao sol. “Elas são monitoradas todo o tempo porque, como elas suam muito no sol, vão desidratando. Então a gente sempre grita ‘tá tudo bem?’. A gente quer ouvir a voz delas. A gente tem a noção de primeiros socorros e está sempre atenta”, afirma. Juliana ainda ressalta que todos os produtos usados são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Durante a sessão são passados três produtos ativadores de melanina. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Durante a sessão são passados três produtos ativadores de melanina. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A promessa é de que os resultados durem entre três e quatro meses. Uma grande vantagem em uma cidade em que, de acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), só não registrou chuva em 17, dos 58 dias de 2018. Mesmo assim, a clientela é fiel. “A gente não consegue trabalhar com agendamento, então eu digo sempre para elas: acordou de manhã, abriu a janela, olhou paro céu e viu que tem sol, corre para cá. Porque daqui a pouco já chove e faz frio, então tem que estar esperta”, brinca.
E as clientes obedecem. Às vezes nem é preciso que o sol apareça de verdade, basta haver o chamado “mormaço”. “O mormaço também queima, de qualquer forma. Esses dias estava bem cinza, mas tinha três aqui bronzeando. No frio elas não têm coragem de tirar a roupa, aí eu tenho um vinhozinho, ali. Assim elas ficam mais à vontade”, conta Ju.
Lucia Helena aplica mais uma camada de produto em uma das clientes. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Lucia Helena aplica mais uma camada de produto em uma das clientes. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Laje curitibana

Todo o atendimento é feito no quintal da casa em que ela vive com o marido, dois cachorros e um papagaio. Além das macas e espreguiçadeiras espalhadas em uma superfície cimentada, há ainda uma espécie de deque. É lá que ela monta os biquínis. Também é lá que, sobre uma mesa, ficam pães de queijo, frutas e um suco ativador de melanina. A base é de laranja, mas também fazem parte da receita a cenoura e o mamão. O que não pode é ir para o sol sem ter se alimentado. “Quando elas viram de bruços a gente serve um picolézinho, uma melancia, uma água. Algumas preferem uma cervejinha”, ri.
Com ares de spa, o Espaço Camarim é democrático. Recebe gente “de todas as idades, todos os tamanhos, todas as crenças, gente de tudo que é jeito. Aqui vem juíza, promotora, médica, advogada, trans, de tudo um pouco”, diz a proprietária. Uma vez nas macas, todo mundo é igual. Todas ouvem as mesmas músicas, que ela faz questão de manter altas. Nos dias mais quentes, todas tomam mangueiradas esporádicas para aliviar o calor.
Leveza na mão é fundamental na hora de montar o biquíni, diz Juliana. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Leveza na mão é fundamental na hora de montar o biquíni, diz Juliana. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
O talento para lidar com perfis tão variados veio de suas experiências religiosas. Há mais de dez anos, Juliana começou a trabalhar com estética para unir a vida profissional à vocação de missionária. “Eu queria algo que conciliasse meu trabalho com levar a o amor de Deus”, conta.
Depois decidiu otimizar o tempo que passava em deslocamento e montar um espaço próprio para isso. Deu certo. Algumas das mulheres que ela atendia naquela época são suas clientes até hoje.
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Serviço

Ju diz que o sucesso do bronzeamento natural não se deve só à vaidade feminina. “O próprio sol produz a sensação de bem-estar. E muitas das minhas clientes têm esse momento como um campo de fuga da rotina cansativa. Elas vêm, se descontraem, tem o sonzinho e tudo mais.”
São três tipos de pacote. A sessão simples custa R$ 100 e dá direito à montagem do biquíni, aplicação dos ativadores de melanina e monitoramento no sol. A completa sai por R$ 120 e, além disso tudo, inclui o banho de lua – procedimento para dourar os pelos do corpo – e a esfoliação. E há os pacotes de três sessões, mais um banho e lua e uma esfoliação por R$ 250 à vista.

Cuidados

Embora a marquinha de sol seja considerada um charme, os dermatologistas alertam para os riscos da exposição solar. “O que nós precisamos para um metabolismo saudável é ficar ao sol por um período de 10 a 15 minutos, de duas a três vezes por semana, no máximo. Esses minutos já seriam suficientes para a fabricação da vitamina D necessária ao organismo”, diz Paulo Ricardo Criado, coordenador do departamento de medicina interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
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