Comportamento

Carolina Werneck

Curitibanos que deixaram a cidade contam do que mais sentem falta

Carolina Werneck
29/03/2018 07:00
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As capivaras já fazem parte do cenário curitibano. Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo | GAZETA

Você pode até sair de Curitiba, mas Curitiba não sai de você. Pelo menos é o que garante quem deixou a terra do pinhão e das capivaras para morar em outros lugares. Nos 325 anos de Curitiba, curitibanos de nascimento e de coração contam quais são as curitibanices que dão mais saudade quando se está longe. Confira:

Giuliana Lemos, 22 anos, mora em Maringá

Quando saiu de Curitiba, Giuliana Lemos tinha entre 13 e 14 anos. Nascida na capital, ela foi para Maringá porque a família era toda de lá e os pais decidiram se mudar. Há nove anos no noroeste do Estado, ela diz que sente falta da “praticidade de ter de tudo por perto – mercado, panificadora, lojas, etc. – e do fato de a cidade não ‘morrer’ à noite e nem no final de semana como [acontece] em Maringá“.
Atualmente ela cursa o mestrado em ambientes aquáticos continentais na Universidade Estadual de Maringá. Adaptada à vida no interior, diz que o sistema de transporte público de Curitiba, com seus tubos e canaletas, também a fazem suspirar de saudade.
E ai de quem disser que curitibanos são frios. Ela tem a resposta na ponta da língua. “Não é que somos frios, é que somos na nossa. Não temos a necessidade de dar bom dia em elevador, por exemplo – coisa que me incomoda muito. Cada um cuida da sua vida e é isso.”
Giuliana viveu toda a infância e adolescência em Curitiba. Morando em Maringá, diz não deixar o sotaque do leitE quentE de lado. Foto: Arquivo Pessoal
Giuliana viveu toda a infância e adolescência em Curitiba. Morando em Maringá, diz não deixar o sotaque do leitE quentE de lado. Foto: Arquivo Pessoal

Anna Martinelli, 32 anos, morou por um ano em Milão

Entre 2007 e 2008, a designer gráfico Anna Martinelli passou um ano inteiro vivendo em Milão, na Itália, em um intercâmbio. Foi difícil ficar longe do Barigui, do Tanguá, do Tingui, do Parcão, do Jardim Botânico e de todos os parques que ficam apinhados de gente nos fins de semana curitibanos. “Lá não tem muito parque. Isso é bem específico de Curitiba, a gente tem vários, dá para escolher em qual deles quer ir. Quando a gente queria sair, acabava indo sempre ao mesmo lugar. Até porque a cidade é menor, então não tem tanto parque.”
Curitibana de nascença, Anna surpreendentemente também sentiu falta do clima de Curitiba. Afinal de contas parece que aqui por estas paragens nem faz tanto frio quanto o curitibano dá a entender. “A gente reclama, mas lá é bem mais frio, né? A vantagem é que tem aquecimento interno, então não chega a ser tão sofrido. Mas quando você sai na rua é um corte na cara, é bem mais perceptível.
Anna Martinelli morou um ano na Itália. Foto: Arquivo Pessoal
Anna Martinelli morou um ano na Itália. Foto: Arquivo Pessoal

Leandro Contador, 32 anos, mora em São Paulo

Já faz dois anos e meio que o analista de planejamento Leandro Contador saiu de Curitiba e foi morar em São Paulo. Desde então nunca mais conseguiu ir comer um cachorro quente com vina. “Dá muita saudade de pedir um cachorro quente e falar ‘vina'”, reclama. As gírias e o sotaque curitibanos, aliás, estão entre os fatores de que ele mais sente falta. Ele diz que ainda carrega muitas dessas características.
Mas Leandro sofre mesmo é com a distância do time de coração, o Coritiba. Sem poder frequentar o Couto Pereira, foi atrás de outros torcedores coxa branca para diminuir a saudade. “O que eu mais procuro aqui é isso, pessoas que torcem para o mesmo time. E é bem comum, tem muita gente. A gente tem um grupo, aqui em São Paulo, chamado Coxa Sampa. Ali a gente marca churrasco, combina de ver jogo junto, tudo para não sofrer tanto.”
Leandro em visita ao Jardim Botânico com a namorada paulista. Foto: Arquivo Pessoal
Leandro em visita ao Jardim Botânico com a namorada paulista. Foto: Arquivo Pessoal

Joelma Leticia dos Santos Moura, 32 anos, mora em Guarapuava

Faz dez anos que a professora Joelma Santos Moura deixou Curitiba para morar em Guarapuava. Tudo porque o marido montou um laboratório por lá. Os dois filhos nasceram já em “Guarpa” e é por causa deles que ela sente ainda mais falta da capital. “O que me faz falta é que o atendimento de Curitiba é melhor em questões de saúde. Aí tem grandes hospitais e pessoas capacitadas. Quando meus filhos estão doentes mesmo eu vou para Curitiba.”
Além de questões práticas como a saúde, ela também sente falta de particularidades do cotidiano curitibano, como a grande variedade de shoppings. “Curitiba tem tudo que a gente precisa, lugares legais para sair, cinemas bons, essas coisas.” Já o frio não deixou saudades, uma vez que Guarapuava também não fica atrás nesse quesito. “Aqui é frio também, então isso não faz falta, não. Na verdade eu queria que fosse mais quente”, diz, rindo.
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

INRI Cristo, 70 anos, mora em Brasília

Embora seja catarinense, INRI Cristo passou 24 dos seus 70 anos em Curitiba. Foi aqui que ele montou a primeira sede da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (Soust). É mais de um terço da vida. Por aqui ele começou a ficar conhecido por alegar ser a “reencarnação de Jesus Cristo”.
INRI chegou a Curitiba por “ordem de Deus”, segundo ele mesmo. E foi também por determinação divina que se mudou para a capital federal. “Quando mudei para o Planalto Central, senti falta do esforço em manter a organização urbana, principalmente a separação do lixo que não é lixo. Curitiba é um exemplo na preocupação com a ecologia; deveria ser referência e modelo para todas as cidades brasileiras.”
Foto: Divulgação/ Facebook Pessoal
Foto: Divulgação/ Facebook Pessoal

Sandro Rios Marques, 40 anos, mora em São Paulo

Sandro Rios Marques é curitibano duas vezes. Primeiro porque nasceu na capital, depois porque, neste dia 29, comemora seus 40 anos junto com a cidade. Vivendo em São Paulo há quase nove anos, o contador desembarcou nas terras para lá do rio Paranapanema por causa de uma oportunidade profissional. Os jogos do Coritiba são parte do que mais lhe faz falta longe de Curitiba.
Mas sua lista de saudades curitibanas é extensa. “Sinto falta do frio típico curitibano, da época de festa junina, do famoso quentão. Aqui em São Paulo o quentão é feito de cachaça, o de Curitiba é de vinho, né? Sinto falta do pinhão, que aqui até tem, mas é difícil de encontrar. Sinto falta dos parques de Curitiba, do jeito curitibano um pouco mais fechado.
Sandro no Couto Pereira. Foto: Arquivo Pessoal
Sandro no Couto Pereira. Foto: Arquivo Pessoal
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