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Alunas do Estúdio Hathor, da professora de dança do ventre Linda Hathor, em ensaio no Museu Egípcio. Foto: Cesar Bond/Divulgação
Alunas do Estúdio Hathor, da professora de dança do ventre Linda Hathor, em ensaio no Museu Egípcio. Foto: Cesar Bond/Divulgação| Foto:

Mais difícil que encontrar alguém que se diga um pé-de-valsa é encontrar uma mulher que diga estar satisfeita com seu corpo. A imagem do que seria um corpo perfeito — magro, definido, com curvas, sem marcas e jovem — é reforçado cotidianamente em capas de revistas, perfis de redes sociais de influenciadores e nas conversas do dia a dia. Apesar de a pressão estética estar em todo lugar, há espaços que proporcionam às mulheres fazer as pazes com seus corpos do jeito que eles são. Nesses espaços, toca música alta e o (muitas vezes temido) espelho está lá.

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“A dança proporciona autoconhecimento por meio do movimento e trabalha as emoções. Quando a pessoa dança, ela está vendo suas próprias dificuldades, nem sempre motoras, mas dificuldades como ter medo e vergonha”, explica Lua Arasaki, especializada em psicologia corporal e professora de dança.

Ela observa que novas abordagens para a dança surgiram nos últimos anos: propostas em que as mulheres respeitam os limites e facilidades de seus corpos e que a partir disso, criam sua própria maneira de dançar. “De uns anos para cá, as pessoas começaram a ver a dança com um olhar mais terapêutico, um caminho para o autoconhecimento e a qualidade emocional”, observa.

“É libertador expor seu corpo em um contexto de arte, beleza e aceitação. Para muitas mulheres, isso é desafiador. Vejo alunas que choram em frente ao espelho ao se verem com o figurino pela primeira vez, com medo do que vão pensar de seus corpos”, relata Linda Hathor, professora de dança do ventre há 18 anos e proprietária do estúdio Hathor.

As “travas” que muitas mulheres sentem ao dançar podem ser explicadas pelo conceito de couraça, cunhado por Wilhelm Reich em 1920.

“A couraça é uma tensão muscular. Todos nós temos uma musculatura mais rígida em determinadas partes do corpo, por isso cada um tem um jeito de andar, uma postura”, exemplifica Lua, que integra um grupo de estudos do Instituto Reichiano. “Reich entendeu que o inconsciente está no corpo, e é no corpo em que estão todas as nossas estruturas emocionais”, completa.

Relaxe a “couraça”

Foi em cima da ideia de “relaxar” essas couraças que Jade Quadros criou o BDNT (acrônimo para “Bunda Dura Não Treme”) em março de 2015, enquanto estudava Psicologia. O estímulo é trabalhado de maneiras diferentes de acordo com a aula: na primeira do mês, há uma conversa em que cada mulher fala um pouco de si de acordo com o tema proposto. A partir disso, Jade pensa no que vai trabalhar no decorrer do mês, se é sobre amor próprio, confiança, divertimento ou sentir o próprio corpo, por exemplo.

Fazem parte das aulas do BDNT dinâmicas de relaxamento e confiança além da coreografia de dança ao final da aula. Foto: João Prendin/Divulgação
Fazem parte das aulas do BDNT dinâmicas de relaxamento e confiança além da coreografia de dança ao final da aula. Foto: João Prendin/Divulgação| Joao Prendin

>>> Conheça o início do BDNT

Grazi Meyer, professora de dança e de pole dance, atriz e DJ, fez parte do BDNT por um mês em 2015, enquanto se dividia entre Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Inspirada na postura de acolhimento do grupo idealizado por Jade e por sua experiência própria como aluna de dança, ela criou o Maravilhosas Corpo de Baile em São Paulo, em 2016.

O Maravilhosas começou com aulas na sala da casa de Grazi e, dois anos depois, virou um estúdio de 150 metros quadrados com 150 alunas para aulas com professoras fora do padrão branco-magro-classe-média-alto de pole dance, twerk, danças afro e caribenha, entre outros. “Foi muito libertador quando comecei a entender que eu não precisava reproduzir exatamente o movimento que a professora passava”, revela Grazi a respeito do período em que esteve no BDNT.

“Se exercitar, para se divertir”

A empresária sofreu de ortorexia e chegou a treinar tão intensamente musculação que seu percentual de gordura baixou a ponto de fazê-la parar de menstruar. Foi nesse momento que ela voltou a si mesma e notou que poderia mudar o foco: se exercitar para se divertir. Com essa filosofia, o Maravilhosas tem chamado a atenção de atletas do pole dance e outras mulheres que praticam o esporte. Grazi é chamada para dar workshops e expor sua visão sobre a prática, em que o que importa é saber como seu próprio corpo se movimenta e focar no que ele consegue fazer e não no que é difícil de reproduzir.

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No Maravilhosas Corpo de Baile, de São Paulo, o estímulo é para que as alunas notem o que o seu corpo consegue fazer. Foto: Divulgação
No Maravilhosas Corpo de Baile, de São Paulo, o estímulo é para que as alunas notem o que o seu corpo consegue fazer. Foto: Divulgação

Origens da insatisfação

A insatisfação, seja seu alvo o físico ou conquistas pessoais, é algo a ser contornado por meio da movimentação do corpo. “A gente nunca se acha boa o suficiente, competente o suficiente. As mulheres suportam muita cobrança e isso as leva para uma total desconexão do que lhe faz bem”, analisa Linda.

O resultado são mulheres inseguras, insatisfeitas consigo mesmas e que não conseguem se realizar. “Essa baixa auto-estima é consequência de uma sociedade que faz com que a gente sinta necessidade de consumir para se sentir melhor. Nunca temos ou somos o suficiente. Na Psicologia, é o que chamam de falta”, contextualiza Jade. “É aí que precisamos nos perceber. E às vezes é um baque notar o que procuramos”, completa.

Sentir o corpo, portanto, seria uma maneira de se conhecer melhor e poder se fortalecer a partir da identificação de suas vulnerabilidades.

“O BDNT não é sobre se sentir bem. É se conhecer, e às vezes isso dói. E tudo bem”, diz Jade. O objetivo do grupo é o acolhimento, e a vulnerabilidade da outra é respeitada. “Acolher é se despir dos julgamentos e estar aberta para ver os outros”, define a idealizadora do BDNT.

É como se um corpo que não estivesse no padrão não merecesse mais nada além de tentar, incessantemente, ficar parecido com o que é considerado “melhor”. Trabalhando valores como auto-conhecimento e aceitação em suas aulas, essas mulheres criam um novo paradigma, com critérios mais flexíveis e generosos para olhar para o próprio corpo.

Nessa conta, entra também o tempo de qualidade que as aulas proporcionam entre as mulheres. “Falta espaço na vida da maioria delas para ter esse momento de contato consigo mesmas. Elas se veem obrigadas a assumir diversos papeis, de mãe, de profissional. E aqui elas podem ser apenas elas mesmas”, diz Linda. “O objetivo é que sejamos o melhor que pudermos para nós mesmas”, define.

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Serviço

Espaço BDNT (Rua 24 de maio, 1.175, Rebouças). Mensalidade: R$ 80. Inscrições no final de cada mês pela plataforma Sympla. Informações no perfil oficial.

Maravilhosas Corpo de Baile (Rua Cunha Gago, 345, Pinheiros — São Paulo). Mensalidade: entre R$ 150 (plano semestral, uma vez por semana) e R$ 440 (várias aulas por semana).

Estúdio Hathor (Rua Padre Anchieta, 2.134, sala 7, Bigorrilho). Mensalidade: a partir de R$ 130 por mês (uma aula por semana de 1h30 de duração).

Lua Arasaki. Aulas de dança do ventre (com turmas para mulheres acima de 50 e também para grávidas e mães com bebês) e tribal fusion. Mensalidade: a partir de R$ 130 por mês (uma aula por semana de 1h de duração). Informações: (41) 9 9982-9683

Dois endereços: Ahorta Bike Café – Rua Nicarágua, 1277, Bacacheri e Pulsão Desenvolvimento Pessoal – Amintas de Barros, 757, Alto da Rua XV

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