Comportamento

Carolina Werneck

Amigos viajam de Curitiba a Montevidéu de bicicleta: 22 dias com R$2,2 mil

Carolina Werneck
26/09/2017 17:40
Thumbnail

Os amigos pedalaram 1.700 km até a capital do Uruguai. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução

O Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba, foi o ponto de partida para os amigos Hulyan Minosso e Pietro Pastro, ambos de 26 anos, partirem para uma viagem inusitada. Eles se encontraram no dia 16 de janeiro deste ano para começar um percurso de 1.700 km rumo a Montevidéu, no Uruguai. O trajeto foi planejado por três meses e a aventura durou 22 dias.
Apresentados por um amigo em comum, Minosso, que é arquiteto, e Pastro, engenheiro civil, só foram se tornar realmente próximos quando começaram a montar o roteiro da empreitada. Entre setembro e dezembro de 2016, os dois planejaram o trajeto, sempre tentando pontuar as pernoites em cidades em que pudessem encontrar amigos ou conhecidos. A meta era pedalar entre 120 e 130 km por dia, mas houve trechos com distâncias menores e trechos com distâncias maiores.
No mapa, as cidades em que os amigos dormiram ao longo do caminho. Imagem: Hulyan Minosso/Reprodução
No mapa, as cidades em que os amigos dormiram ao longo do caminho. Imagem: Hulyan Minosso/Reprodução
Percalços
“Muitas pessoas disseram que a gente era louco”, diverte-se Pastro. De acordo com os dois viajantes, a preocupação de quem ouvia os planos era com a segurança nas estradas. Mas eles garantem que não tiveram nenhum susto durante a empreitada. “Os caminhoneiros são os que mais se preocupam. Eles se afastam para a gente passar e tudo mais. É claro que pode acontecer, mas não dá para sair de casa pensando nisso, senão você não vai fazer nada na vida”, opina o engenheiro.
A preocupação era tão generalizada que Minosso só foi contar à família que estava saindo em viagem pouco antes da data da partida. “Minha mãe ficou os três primeiros dias da viagem sem me responder no grupo [de conversas] da família. Mas aí a gente lidou com isso mandando localização, mandando fotos para as pessoas verem que a gente estava bem, que estava feliz”, conta. Ele diz que, finda a aventura, a família passou a demonstrar orgulho ao relatar a façanha para amigos e parentes.
Minosso e Pastro na fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução
Minosso e Pastro na fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução
Ligar o corpo, desligar a mente
Percorrer uma distância tão grande usando como motor apenas as próprias pernas pode assustar mesmo os entusiastas da “magrela”. Afinal são dias sobre duas finas rodas que exigem concentração, equilíbrio e, muitas vezes, força. Obstáculos facilmente superáveis, segundo Pastro. “Não é preciso ter o preparo físico de um atleta profissional. Qualquer pessoa consegue fazer uma viagem assim, porque o principal é o psicológico. O fato de a pessoa querer chegar é que é o mais importante.”
Pedalar durante boa parte do dia faz com que o corpo, naturalmente, gaste quantidades significativas de energia. Por isso, como contam os amigos, as refeições passaram a ser momentos para repor essa energia. Minosso diz que eles comiam “por três” pessoas e que não emagreceram nada durante o trajeto. Enquanto o corpo trabalhava em um ritmo frenético, a mente desacelerava na mesma medida.
“Você se desafia mentalmente, porque são vários dias fazendo a mesma coisa. Você esquece tudo, pensa em toda a sua vida, tudo o que você quer fazer, o que você pensa em fazer. É uma imersão muito intensa”, diz o arquiteto. Pastro diz que pensa de forma similar. “É uma energia única, só quem pedala sabe como é recompensador. Cada nascer do sol, cada pôr do sol é único. São momentos que daqui a 50 anos a gente vai continuar lembrando.”
Os dois garantem que os caminhoneiros são os que mais se preocupam com a segurança do ciclista nas rodovias. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução
Os dois garantem que os caminhoneiros são os que mais se preocupam com a segurança do ciclista nas rodovias. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução
Tantas horas passadas sobre duas rodas também trazem um benefício colateral: conhecer os limites do próprio corpo. “Se, há cinco anos, alguém me dissesse que eu iria de bicicleta para o Uruguai, eu riria. Diria que não havia condições. Mas a verdade é que esse é um desafio mais de coragem do que de físico”, avalia Minosso.
É preciso ter dinheiro, mas não muito
Uma viagem como a que os dois amigos fizeram ainda sai mais barata que os roteiros convencionais, que dependem de ônibus, carro ou avião. Eles dizem ter gastado cerca de R$ 2, 2 mil, já com a passagem da volta, que foi feita de ônibus. Só essa passagem, no entanto, custou R$ 500. Mas foi uma viagem com poucos excessos. Os dois quase não beberam bebidas alcoólicas durante todo o período e dormiram boa parte das noites em casas de amigos ou conhecidos. Quando precisaram pagar para dormir, escolheram hostels ou hotéis de beira de estrada. As refeições, por sua vez, eram sempre “choradas”. Eles dizem que contavam a história da viagem e pediam desconto – muitas vezes foram atendidos.
A experiência foi tão boa que ambos dizem querer repetir o feito. Para Minosso, tudo é questão de entender que é possível. “Você percebe que, de bicicleta, pode ir muito mais longe que só ate a padaria. A sensação de estar pedalando pela estrada de bicicleta por dias seguidos é maravilhosa.”
O arquiteto e o engenheiro que saíram de Curitiba com destino a Montevidéu posam em frente à escultura "La Mano", em Punta del Este, já no Uruguai. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução
O arquiteto e o engenheiro que saíram de Curitiba com destino a Montevidéu posam em frente à escultura "La Mano", em Punta del Este, já no Uruguai. Foto: Hulyan Minosso/Reprodução