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Eduardo Cabral ingressou na faculdade em agosto de 2016 para incentivar o filho autista  Érick Cabral, de 23 anos. Foto: Arquivo Pessoal
Eduardo Cabral ingressou na faculdade em agosto de 2016 para incentivar o filho autista Érick Cabral, de 23 anos. Foto: Arquivo Pessoal| Foto:

O que um pai faria ao ver o filho autista desistir da faculdade por não conseguir relacionar-se com os colegas? Depois de acompanhar as dificuldades do estudante Erick Cabral em toda carreira acadêmica e comemorar com ele o ingresso à Faculdade Tecnológica (Fatec) de Guaratinguetá – no interior de São Paulo -, o pai Eduardo Cabral, de 49 anos, não aceitou que o filho largasse os estudos. “Ele é muito inteligente, passou no vestibular dessa faculdade estadual e estava indo bem. Então, decidi fazer faculdade com ele para incentivá-lo”, relata.

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Militar da Força Aérea Brasileira (FAB) por 30 anos, o suboficial estava prestes a ingressar na reserva e teria mais tempo para acompanhar o filho. No entanto, sabia que o retorno à sala de aula seria difícil e exigiria muita disposição.

“Eu nunca tinha feito faculdade, precisaria de responsabilidade para acompanhar a turma e ainda teria que me adaptar à juventude porque sou de uma geração bem diferente. Só pensei nele e fui”.

O militar prestou vestibular para Gestão Comercial, viu seu nome na lista dos aprovados e começou a frequentar as aulas ao lado do filho em agosto 2016. “Ele entrou no curso de Gestão Empresarial, que é diferente, mas conseguiu migrar para o mesmo curso que eu. Então, começamos juntos como colegas de turma”, conta o pai.

A atitude emocionou professores como Camila Martinelli, que havia ministrado algumas aulas para Erick no início do curso e percebido as limitações do rapaz. “O Erick sempre foi participativo e inteligente, mas tinha muita dificuldade na parte interpessoal, principalmente nas dinâmicas em grupo”, afirmou.

A participação do rapaz em sala de aula mudou com a presença do pai no local. “O Eduardo chamava a atenção do filho para as aulas, o apoiava, incentivava e tinha posição firme com ele para que prestasse atenção porque aquilo era importante. Uma atitude muito bonita”, elogia a mestre em tecnologia da informação.

O pai realizava as atividades em grupo com o filho e ainda o incentivava a prestar atenção nas aulas. Foto: Arquivo Pessoal
O pai realizava as atividades em grupo com o filho e ainda o incentivava a prestar atenção nas aulas. Foto: Arquivo Pessoal

Com o tempo, ela viu que o pai não precisava mais chamar a atenção de Erick e até recebia ajuda do filho em algumas aulas. “Aquela relação em que o filho buscava aprovação do pai para tudo se transformou em amizade e cumplicidade”, relata a professora, que via Erick auxiliar o estudante mais velho nas matérias de tecnologia e computação gráfica. “Ele tinha mais experiência, então auxiliava o pai. É uma relação muito construtiva em que um complementa o outro”.

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Para Eduardo, a experiência é gratificante e também ajuda a divulgar o autismo. “Sempre foi muito difícil encontrar uma instituição que estivesse preparada para receber nosso filho. Tínhamos que trocá-lo de escola com frequência e minha esposa também dava aulas para ele em casa para ajudar. Foi difícil”, afirma o pai, que sente falta de material de apoio e de professores especializados.

“O autismo é mais frequente do que se imagina, mas as instituições ainda não estão preparadas para trabalhar com isso. Precisamos mudar essa realidade”.

Pai e filho estão atualmente no último semestre do curso de Gestão Comercial – que tem duração de três anos – e agora enfrentarão o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para chegar à graduação, prevista para agosto de 2019. Após a formatura, os dois pretendem atuar juntos na área. “Minha esposa abriu uma administradora de condomínios recentemente, e queremos trabalhar com ela”, afirma o pai.

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