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Arnaldo com o neto Nicolas, que ajudou no diagnóstico de autismo do avô (Foto: Arquivo pessoal da família)
Arnaldo com o neto Nicolas, que ajudou no diagnóstico de autismo do avô (Foto: Arquivo pessoal da família)| Foto:

Arnaldo Brito de Jesus nunca soube muito bem como conversar com a família. Ele não gosta de olhar nos olhos de outra pessoa e nem de ter de manter um diálogo. Durante os passeios ou visitas de amigos, ele sempre fica em casa, longe de qualquer interação. As únicas pessoas com quem ele mantém uma proximidade são os filhos e netos mais novos e cada novo membro da família se torna, automaticamente, o “favorito”.

Essas características do patriarca de 76 anos sempre chamaram a atenção da esposa e dos filhos, mas eles nunca pensaram que poderia ser um sinal de autismo – até que uma das filhas, Anita, recebeu a notícia de que o filho Nicolas Brito Sales, então com cinco anos e meio de idade, era autista.

“Depois que soubemos o que era o autismo, fomos tratar de cuidar do nosso filho e fomos aprendendo o dia a dia de como lidar com ele. Com os avanços em pesquisas em todas as áreas e com muita leitura fui percebendo traços do autismo no meu pai e comecei a observá-lo mais. Falei com a minha mãe que, imediatamente, percebeu vários aspectos”, relata Anita Brito, que hoje é doutoranda na USP em Estudos sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), escritora e palestrante, em seu blog Falando um pouco de autismo.

Dos sinais mais claros do autismo, a família se deu conta de que o pai nunca se sentava com os filhos para aconselhar ou perguntar se estava tudo bem. “Nem se estivéssemos doentes. Minha mãe era quem nos dava a atenção em casa. Ele também sempre teve manias de guardar coisas e evita trocar de roupa. Sempre está limpo, mas tem dificuldades em comprar roupas e substituir as velhas. Sempre se tranca no quarto e se irrita quando vê algo fora do lugar. Quando conversa, são os mesmos assuntos e o comportamento repetitivo é muito comum na rotina dele”, diz Anita, em entrevista por e-mail ao Viver Bem.

O diagnóstico do avô veio um pouco mais tarde que do neto, cerca de 10 anos depois, quando o patriarca completou 72 anos. “Quando descobri que meu pai era autista, tive a chance de refazer a nossa história, pois passei a compreender o quanto ele sofria e não era um homem mau. Era só mal compreendido”, relata Anita, e a relação dela e de toda a família com Arnaldo mudou completamente.

“Começamos a tratá-lo com mais paciência. Procuramos conversar só o que ele queria falar, e falamos com a voz mais mansa. Se precisamos que ele entenda uma atitude inadequada, usamos uma conversa branda. Não enfrentamos ou achamos que ele tem que saber de tudo, ou que ele só tem tal atitude porque é uma pessoa ‘ruim’. Hoje eu tenho um pai e o diagnóstico, para mim, veio antes do papel. Quando eu comecei a desconfiar do autismo, passei a mudar minha relação com ele”, relata a filha.

“Vovô, o que você acha de ser autista?”

Arnaldo não fala abertamente sobre o autismo e, certa vez, quando o neto Nicolas o questionou: “Vovô, o que acha de ser autista?”, ele respondeu: “Eu não sei, sua mãe quem entende dessas coisas” e encerrou o assunto. Mesmo sendo um pouco mais seco com os filhos e netos, a preferência pelos netos mais novos é nítida, e o comportamento que ele adquire com esses membros é diferente.

“Eles têm uma relação de avô e neto, mas ele trata o Nicolas como se ele fosse mais novo do que é. O neto mais novo acabou de completar 10 anos, mas ele trata como se tivesse uns 3 ou 4 anos. Ele ama todos os netos, mas só se relaciona com o Nicolas e o Arthur. Com os outros, ele cumprimenta com amor e respeito, mas não faz nenhuma pergunta. Não começa um assunto por conta própria. Mas, se ele cismar em perguntar sobre namorada, aí ele pergunta a mesma coisa todo domingo e ri do mesmo jeitinho. A ‘piada’ é sempre a mesma”, exemplifica Anita.

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