Comportamento

Flávia Schiochet

Do biscoito ao desinfetante: como ler os rótulos para saber o que é vegano

Flávia Schiochet
30/04/2019 12:00
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Atualmente, mais de 700 produtos brasileiros levam o Selo Vegano em seu rótulo. Foto: Bigstock.

É cada vez mais comum ver pessoas lendo o rótulo detalhadamente, da embalagem de biscoito até o frasco de desinfetante. O crescimento do vegetarianismo, mais especificamente do veganismo, é um dos fatores que contribuem para esse fenômeno.
O veganismo é uma filosofia de vida em que seus adeptos excluem do consumo todo tipo de ingrediente e componente que sejam resultado da exploração, confinamento ou abate de animais sencientes (com sistema nervoso e cujo comportamento pode expressar prazer e dor, por exemplo).

Quando alguém se diz vegano, portanto, significa que evita consumir produtos como couro, usar cera de abelha, ingerir alimentos com leite e ovos e usar cosméticos testados em animais.

E dá para saber de tudo isso só de ler o rótulo? Muitas vezes, sim: há ingredientes e componentes de origem animal que são fáceis de identificar. Mas não é tão simples quanto parece.
A construção de uma lista definitiva é  difícil, porque além de serem muitos componentes, a tecnologia muda com frequência e às vezes os insumos que antes eram apenas de origem animal tem uma versão de origem vegetal desenvolvida”, explica Carol Murua, gerente do Selo Vegano, uma certificação da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) para produtos que se adequem à filosofia vegana. Para conferir os laudos, procedência de insumos, práticas dos fornecedores e do fabricante, a SVB conta com a consultoria de engenheiros químico e de alimentos.
O suporte técnico confere por procedimento, insumo e produto final em vez de fazer apenas a conferência dos ingredientes. Atualmente, mais de 700 produtos brasileiros levam o Selo Vegano em seu rótulo.
Confira quais os ingredientes ou componentes de origem vegetal mais comuns na composição de vestuário, alimentação, cosmético, produto de limpeza e de higiene pessoal:

Vestuário

A Insecta Shoes produz sapatos veganos e unissex para todas as idades. Foto: Carine Wallauer/Divulgação
A Insecta Shoes produz sapatos veganos e unissex para todas as idades. Foto: Carine Wallauer/Divulgação
A organização a favor do direito dos animais PETA disponibiliza um guia em seu site e indica a leitura da etiqueta das roupas para saber a composição. Nas roupas, estará na parte de trás da gola ou do lado esquerdo ou no cós das peças debaixo.
  • Couros e camurça
  • Seda
  • Lãs (angorá, cabra, ovelha, coelho) e também feltro, caxemira e pashmina
  • Peles
  • Penas

Alimentação

Apesar de parecer simples identificar os ingredientes de origem animal, tais como leite e ovo, há aditivos que também têm origem animal, como a cochonilha, que pode aparecer na lista como “corante vermelho natural”. Abaixo estão alguns dos principais insumos de origem animal usados pela indústria alimentícia.
Bobó de cogumelos. Prato vegano do restaurante Mahatma Gourmet, em Curitiba. Foto: Divulgação
Bobó de cogumelos. Prato vegano do restaurante Mahatma Gourmet, em Curitiba. Foto: Divulgação
  • Ingredientes de origem animal, tais como carnes, peixes, frutos do mar, lácteos (manteiga, iogurte, leite), ovos, mel, gelatina.
  • Ácido graxo natural: pode ser derivado de sebo bovino.
  • Albumina: pode ser proveniente de animais ou vegetais. No processo de filtragem de vinho, pode ser usada a de origem animal, encontrada na clara de ovo.
  • Corantes: caramelo (que pode se chamar INS 120 Natural, carmim, C.I 75470, E120, corante natural vermelho 3, corante natural vermelho 4 e ácido carmínico), betacaroteno e luteína. Os corantes betacaroteno e luteína podem ser de origem vegetal ou animal.
  • Lecitina: Pode ser de origem animal ou vegetal. É usada como emulsificante.
  • Vitaminas A, complexo B, D, H: Podem ser de origem animal ou vegetal e são acrescidas aos alimentos para enriquecê-los. A vitamina A (também chamada de retinol) é encontrada em fígado de peixe, gema de ovo e manteiga, por exemplo. As vitaminas do complexo B também podem aparecer como biotina ou panthenol. A vitamina D (também aparece com os nomes ergocalciferol, vitamina D-2, esgosterol e calciferol) pode ser obtida de óleo de fígado, leite ou gema de ovo. A vitamina D-2 pode ser de origem animal ou vegetal, mas a vitamina D-3 é sempre de origem animal.
Quando o insumo apresentado na lista de ingredientes puder ser de origem vegetal ou animal, o ideal é procurar o serviço de atendimento ao consumidor da marca para esclarecimento.

Produtos de higiene, limpeza e cosméticos

Por ser uma cadeia muito mais longa que a de alimentação e por ter composição química complexa, a conferência não é tão simples para produtos de higiene, limpeza e cosméticos. Além da origem dos componentes, esses produtos ou os insumos neles usados muitas vezes são testados em animais.
Para saber se o produto é testado em animais ou se a empresa compra insumos de fornecedores que testam, o ideal é procurar o serviço de atendimento ao consumidor da marca para esclarecimento. Outra maneira é para observar se o cosmético conta com o selo “The Leaping Bunny”, garantido pela Cruelty Free International. Recentemente, uma das marcas brasileiras que conquistou a chancela foi a Natura.

Higiene

Foto: Matthew Tkocz/Unsplash
Foto: Matthew Tkocz/Unsplash
  • Ácido caprílico ou triglicerídeo caprílico: Derivado de leite de cabra ou de vaca e usado em perfumes e sabonetes.
  • Ácido esteárico: Pode ser de origem animal ou vegetal. Usado na produção de sabão, cosméticos e de velas como agente espessante e para conferir maior dureza.
  • Glicerina: Pode ser de origem animal ou vegetal. Usada em sabonetes e outros produtos de higiene e limpeza.
  • Queratina: Proteína extraída de partes como chifre, casco, penas e pelo de animais para uso em condicionadores.
  • Ureia, carbamida ou ácido úrico: Compõe a urina de animais. Pode ser usada em desodorantes, produtos de higiene bucal, cremes hidratantes e produtos para cabelo.

Limpeza

Imagem: Bigstock
Imagem: Bigstock
  • Cera de abelha: Pode fazer parte da composição de produtos para lustrar madeira.
  • Goma laca: A laca é obtida pela excreção de um inseto. É usada no revestimento de madeiras e como isolante.
  • Lanolina: Obtida a partir da gordura da lã de carneiros, é usada em sabonetes, shampoo e amaciante de roupa.
  • Penas e pelos (como crina de cavalo): Utilizadas em espanadores e escovas.

Cosméticos

Foto: Raphael Lovaski/Unsplash
Foto: Raphael Lovaski/Unsplash
  • Albumina: Pode ser de origem animal ou vegetal. Em cosméticos, a albumina encontrada na clara do ovo geralmente é usada como agente coagulador.
  • Caseína ou sódio caseinado: É a proteína do leite. Além do uso na indústria alimentícia, pode estar presente em cosméticos como máscaras faciais e produtos para cabelo.
  • Cerdas naturais (pelos e crina de cavalo): Usadas em pincéis para maquiagem.
  • Colágeno: Extraído do tecido conjuntivo de animais e usada em cosméticos.
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