Comportamento

Denise Morini, especial para a Gazeta do Povo

Professor de yoga quer mostrar como a prática transforma vidas em documentário inédito

Denise Morini, especial para a Gazeta do Povo
15/12/2018 17:07
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Foi por acaso que o yoga entrou na vida do mineiro de Três Corações, Luciano Thomas. Em 2007, ele estudava música e havia sido aprovado para o elenco de um grande espetáculo montado para rodar o país. A realidade da rotina de trabalho lhe rendeu as primeiras frustrações. Cansado fisicamente por conta das apresentações e com dinheiro na conta bancária, ele tomou coragem e decidiu viajar para bem longe.
A mais de doze mil quilômetros de casa – na Nova Zelândia – e longe de todas as suas referências, ele conheceu o yoga. Na noite de réveillon, foi parar em um grupo de mantras (cantos em sânscrito), sem saber ao certo o que encontraria. Ali começou a grande mudança em sua vida: os cantos reequilibraram o emocional do músico e, impactado com a experiência, decidiu buscar formação em yoga, em seu retorno ao Brasil.

“O sânscrito é uma língua muito rica porque era usada na Índia antiga, quando o conhecimento era repassado apenas de forma oral. Cantar em sânscrito tem força na fisiologia e no cérebro. Reduz o ritmo cardíaco, a correria, a vibração do corpo.”

"O yoga  tem a ver com hábitos saudáveis, como prestar atenção à respiração", explica Luciano Thomas.
"O yoga tem a ver com hábitos saudáveis, como prestar atenção à respiração", explica Luciano Thomas.

Yoga é para todos

Como parte de sua formação no curso de yoga, Thomas começou um estágio em uma casa para pessoas com doenças neurológicas, como esclerose múltipla, demência e Alzheimer. Foi ali que percebeu o poder da prática de yoga e de incorporar algumas atitudes saudáveis à rotina de pessoas doentes. “São pequenos hábitos que, se forem adotados diariamente, podem melhorar muito a qualidade de vida, como colocar as pernas para o alto antes de dormir, tomar água quando acordar, respirar por cinco minutos, acalmar a respiração… Tudo começa com você reservar um tempo do seu dia só pra você”, comenta. Em alguns encontros, Luciano procurava despertar a fisiologia dos pacientes, estimulando sua circulação sanguínea e coordenação motora. Para as pessoas que antes passavam a maior parte do tempo sentados, as atividades e a prática garantiram mais qualidade de vida.

“As pessoas confundem a prática com aquelas posturas acrobáticas. Aquilo assusta e a maioria já pensa ‘ah, isso nunca vai ser pra mim’. Mas o yoga tem como uma de suas premissas ser uma forma acessível de todos trabalharem por sua própria saúde, por meio do autoconhecimento”, garante o professor.

Os ensinamentos do professor foram se espalhando pela vizinhança e ele foi procurado para dar aulas de relaxamento, de forma voluntária, para mulheres com mais de 60 anos. O grupo que começou com quatro mulheres em 2011, hoje já tem cerca de 50 alunas. “Me perguntaram por que eu queria fazer yoga. Simples! Porque eu quero ficar jovem! As pessoas que não são angustiadas, não envelhecem, você já reparou?” diverte-se dona Maria Augusta Lima, de 70 anos, uma das alunas da turma.  

Histórias serão contadas em documentário

Vendo de perto as transformações, Luciano decidiu contar as experiências em um documentário, que tem lançamento previsto para fevereiro. Até agora, o professor já captou 15 depoimentos. O filme terá cerca de 30 minutos e será divulgado pelas mídias sociais.
A história que inspirou o professor a produzir o documentário foi a do educador social Arion Castro, de 30 anos, que chegou à aula de cadeira de rodas. O aluno foi baleado durante um assalto, em 2016, e um dos tiros acertou o quadril, na parte da articulação, “um ponto irrecuperável, segundo os médicos”, contou educador. O professor lembra que Arion não aceitava sua limitação e tinha raiva da condição de cadeirante. “Mas a prática do yoga conseguiu fazer com que ele mudasse essa percepção de limitação do corpo”, comemora. 
Arion conta que, já na primeira aula, aprendeu a alinhar a coluna. “Cheguei em casa e consegui dar uns dez passos sem bengala ou outro apoio. Chorei igual a uma criança. Depois da segunda aula, consegui subir escadas. Isso era impossível para mim”, recorda o educador, que viu as melhorias em sua condição física e e agora quer  instituir o yoga como uma prática regular para ajudar adolescentes infratores. “Eu morria de medo do futuro, estava amargurado e frustrado. Isso passou. Se você muda sua mente, muda o mundo”, avalia o aluno de Luciano.
Para o professor é a busca de uma mudança por meio de autoconhecimento que transforma a realidade dos praticantes de yoga. “A estrutura das aulas é quase sempre a mesma, com respiração e consciência respiratória, meditação e relaxamento, e movimentação da coluna em todas as direções. Mas sei que o que faz a diferença é esse encontro e esse momento que cada um reserva para si.”
Foi esse tempo para se cuidar que manteve dona Maria Augusta firme nas aulas, desde o início do grupo. “Quando eu conheci o Luciano, eu era uma mulher de 1,60, com 90 quilos, diagnosticada com desgaste no joelho. Agora estou com 72 quilos, descobri que não tinha desgaste – só sedentarismo mesmo – e estou com muita energia para chegar aos 116 anos, como minha avó por parte de pai. Na minha família ninguém morre cedo!” diverte-se.
“Agora nas férias, vou fazer todas as noites o exercício das pernas para cima. Eu rezo todos os dias para eu ter saúde, mas sei que também tenho que trabalhar para isso. Eu pratico e transformo minha vida. E é preciso ter persistência. Pra mim, querer é poder”, garante Maria Augusta.
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