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É casado? Tem filhos?
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O fato de nunca ter se casado colocou Gilberto Kassab, 48 anos, na berlinda. No caso da campanha eleitoral, o feitiço virou contra o feiticeiro e ele acabou sendo reeleito prefeito de São Paulo apesar da tentativa da oposição de desvalorizar sua imagem. Na prática, outros homens sentem a pressão da sociedade para que constituam famílias

A campanha para a prefeitura de São Paulo respingou no Brasil inteiro abrindo uma discussão sobre o estado civil de homens acima dos 40. “O que você sabe sobre Gilberto Kassab? É casado? Tem filhos?”. As perguntas foram feitas durante o programa eleitoral da petista Marta Suplicy (PT), adversária no segundo turno do atual prefeito Gilberto Kassab (DEM), reeleito no domingo passado.

Quem “passou da idade de casar” conta que sente uma certa pressão social e até preconceito pela situação. O vereador curitibano Paulo Salamuni (PV), de 48 anos, foi um dos que ficou indignado com o tom preconceituoso da campanha da candidata paulistana. Solteiro e sem filhos, diz que sente um estranhamento por parte das pessoas quando conta que não se casou. “As pessoas não entendem. Como assim, solteiro?”. Ele diz que o fato de não ter formado sua própria família não significa que não seja um “homem de família” ou que seja menos competente profissionalmente. “A sociedade cobra que todos sigam um mesmo padrão de vida. Casar, ter filhos… Como se quem seguisse esse padrão estivesse imune de cometer erros ou irresponsabilidades”, diz Salamuni. Ele afirma não ser um solteiro convicto e que se casaria caso encontrasse uma mulher com quem “se sentisse pleno”.

Ainda longe dos 40, aos 31 anos, o advogado Alessandro Kishino já se incomoda com algumas brincadeiras. “Muita gente brinca no meu trabalho perguntando quando eu vou sossegar. Como saio bastante à noite, acho que passo a idéia de uma pessoa imatura, sem compromisso. Mas não sou”, defende-se. Ele diz que pensa em casar um dia, mas não por pressão profissional.

Escolhas

Estratégias eleitorais à parte, para grandes empresas o estado civil, por si só, não é fator fundamental para balizar a eficiência de um profissional, dizem consultores de recursos humanos. O vice-presidente do Grupo Foco, Adriano Araújo, diz que na hora de decidir por uma contratação ou a promoção de um funcionário, o estado civil não mede a estabilidade pessoal e profissional. “Pode ser uma pessoa casada, mas que teve um namoro curto, ou que já foi casada, mas teve diversos relacionamentos e empregos. O que conta é a estabilidade”, diz Araújo. Ele ainda comenta que insinuações nesse sentido não têm razão, a não ser com intenção preconceituosa.

Rosa Yazbek, diretora da RC Yazbek (empresa de recursos humanos) diz que, na prática, o fato de ser casado não assegura mais maturidade nas decisões, nem melhor desempenho. “Um mau casamento pode interferir negativamente na evolução da carreira tanto quanto pode interferir positivamente uma ‘solteirice’ escolhida e madura”, diz. Ela conta que as empresas prestam mais atenção no estado civil das mulheres. “Curiosamente, quando se trata do sexo feminino, as empresas parecem valorizar mais as solteiras, em função não só de sua mobilidade em casos de transferência, como pela maior flexibilidade de horário. Isso vale notadamente para as solteiras sem filhos”, diz.

danielan@gazetadopovo.com.br

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