Comportamento

Guilherme Grandi

Engenheiro roda o mundo mostrando que não há limites para a deficiência visual

Guilherme Grandi
17/11/2018 17:00
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Gabriel e a noiva, Priscila, vivem sozinhos em um apartamento em Curitiba, sem limitações por conta da deficiência. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo. | Leticia Akemi

“Eu penso em desistir de tudo pelo menos uma dez vezes por dia. Mas não adianta ficar se lamentando, a vida tem que seguir”, diz Gabriel Metzler. Vítima de um acidente que o fez perder a visão há exatos 20 anos, o engenheiro e sua esposa, Priscila Gomes, também deficiente visual, dão uma lição de vida ao superarem todas as dificuldades do dia a dia. 
Tudo ocorreu numa tarde de 18 de junho de 1998 em Porto União (SC). Era dia de festa junina quando ele e mais quatro amigos resolveram comemorar a data montando uma bombinha caseira. Mas, o artefato explodiu nas mãos dele, então com 15 anos, e de um amigo, Thiago, de 13.
Thiago não resistiu aos ferimentos. Já Gabriel perdeu a visão do olho direito, teve a do esquerdo comprometida e ficou com várias cicatrizes no rosto e no corpo.
Mesmo com a dificuldade em enxergar, usando óculos de mais de 10 graus e com a dor das lembranças, Gabriel usou a própria experiência para alertar as pessoas sobre os perigos deste tipo de brincadeira.
“Oito meses depois do acidente, eu e outros amigos que participaram daquela peraltice de adolescentes fundamos o Grupo Alerta Vida, um trabalho voluntário que tem como objetivo conscientizar as pessoas dos riscos do manuseio inadequado de explosivos”, explica o engenheiro, que já rodou o mundo contando sua história e foi premiado pela Unesco no ano 2000 no programa “Sonhadores do Milênio”.

Superação

Mais de 15 mil pessoas já acompanharam as palestras de Gabriel sobre o exemplo de superação. Foto: acervo pessoal.
Mais de 15 mil pessoas já acompanharam as palestras de Gabriel sobre o exemplo de superação. Foto: acervo pessoal.
A visão limitada e a trágica lembrança da festa junina não mudaram os planos dele para o futuro. Apaixonado por aprender coisas novas, Gabriel contou sempre querer ir cada vez mais longe em busca de conhecimento.
“Eu já morei no Canadá por seis meses, fui trabalhar em uma multinacional em Niterói (RJ), fiz MBA e mais alguns cursos nos Estados Unidos. Hoje, ajudo pessoas e empresas a superarem dificuldades. E quero aprender ainda mais”, fala.
Hoje, aos 35 anos, Gabriel atua mais no desenvolvimento do potencial de outras pessoas, se dedicando à comunicação e ao trabalho em equipe. Recentemente, ele lançou o livro ‘Um novo olhar para a vida’, em que incentiva os leitores a ampliar sua visão de mundo.
A publicação é dividida em 36 capítulos (chamados de olhares), com pequenos textos voltados ao desenvolvimento pessoal na vida profissional e nos relacionamentos.
“Só no último olhar é que eu conto a minha história, para mostrar que as qualificações devem vir à frente da deficiência, ela não pode ser um limitador para ninguém”, completa.

Vida de casal

No livro lançado recentemente, Gabriel conta como estimular o desenvolvimento profissional e pessoal. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
No livro lançado recentemente, Gabriel conta como estimular o desenvolvimento profissional e pessoal. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
Gabriel casou, teve um filho, se separou, e há seis meses está noivo de Patrícia. Ela teve glaucoma ainda criança e passou por mais de 25 cirurgias para tentar corrigir a doença.
O casal vive sozinho em Curitiba; entre as tarefas principais está o de manter tudo bem organizado, o que os ajuda a saber onde estão móveis, roupas e objetos. “A gente se vira super bem, dividimos algumas tarefas de casa, temos os mesmos conflitos de outros casais, mas aprendemos muito um com o outro”, diz Priscila.
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