Comportamento

Marina Mori, enviada especial a Guaratuba

Etiqueta na praia: como ser um bom hóspede ao ficar na casa de amigos e parentes

Marina Mori, enviada especial a Guaratuba
07/01/2018 12:00
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A família de Adriano e Rossana Zelak: casal já chegou a receber 24 familiares em um verão. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo. | Albari Rosa

O casal de curitibanos Adriano Zelak, 49, e Rossana Zelak, 45, é especialista em receber visitas durante a temporada de verão. Já faz quase duas décadas que os dois trocaram a capital para viver em Guaratuba e, para os familiares que ficaram na cidade grande, a mudança significou desde o começo uma certeza absoluta: um lugar na praia garantido durante as férias.
“O povo começa a chegar no dia 26, logo depois do Natal, e fica até depois do Ano Novo”, conta Adriano, que é fisioterapeuta e acupunturista. Neste verão, são 16 pessoas – entre irmãos e irmãs, cunhados, sogros e sobrinhos – convivendo sob o mesmo teto, que tem cerca de 150 m² e três banheiros. Em um dos anos, a família chegou a receber 24 familiares.
Adriano brinca que até seu consultório, uma construção anexa à casa, se transforma em albergue nessa época.
Em geral, o clima é de confraternização e, para evitar brigas, as divisões de despesas e de tarefas é estipulada desde o primeiro dia. Quem acorda por primeiro, por exemplo, já sabe que é seu dever arrumar a mesa do café da manhã.
Mas nem tudo é sempre churrasco, piscina e cerveja.
O anfitrião Adriano gosta de comandar a churrasqueira. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
O anfitrião Adriano gosta de comandar a churrasqueira. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Segundo Rossana, o maior estresse ocorre na noite de Ano Novo. “Todo ano fica aquela enrolação para sair de casa, depois ninguém acha lugar para estacionar, o pessoal se desencontra. Já aconteceu até de cada um passar a virada em um carro, meu marido longe das crianças. Ele ficou uma fera”, lembra a pedagoga. Resultado: depois do episódio, a família combinou que não vai mais ver os fogos na praia.

Além da regra, já aceita por todos, existem outras, implícitas. Para Rossana, o segredo da convivência em grupos grandes é simples:  “Não dá para ninguém se folgar”, resume, rindo.

Boa educação nunca sai de férias

O segredo da boa educação está nos detalhes. Pequenas atitudes, como não demorar muito no banho, evitar deixar o banheiro sujo de areia e manter as roupas em ordem são consideradas iniciativas essenciais por parte de hóspedes que vão passar temporadas na casa de familiares ou amigos, segundo Silmara Adad, supervisora do curso de Etiqueta e Comportamento Coorporativo do Centro Europeu. “São detalhes que fazem você ser lembrado positiva ou negativamente e, dependendo disso, ser ou não convidado de novo”, garante. “Sempre digo que os bons modos não tiram férias; eles valem todos os dias”, brinca Silmara.

Devo ajudar com dinheiro?

“Depende do nível de intimidade”, explica a professora de etiqueta. Se o anfitrião aceitar, pode ser uma boa. Caso contrário, uma conduta educada é levá-lo para jantar e assumir a conta.
Outra atitude elegante, segundo Silmara, é contribuir com o valor de uma diária de limpeza da casa. “A maioria das pessoas sabe mensurar quanto custa contratar uma diarista. No último dia de hospedagem, é legal colocar o valor dentro de um envelope junto com um bilhete de agradecimento. Isso com certeza será lembrado com admiração”, afirma.

Anfitriões também têm deveres

A especialista reforça que o anfitrião também deve cumprir obrigações ao abrir as portas de casa para alguém, a começar pelos banheiros: quando se tem visita, o cuidado com a limpeza deve ser redobrado.
“É interessante garantir que não faltem itens básicos, como papel higiênico e toalhas, e também produtos de veraneio”, recomenda. A dica, segundo ela, é montar uma caixinha com protetor solar, hidratante e lenço umedecido para deixar à disposição.

Incomodou? Tem que falar

Silmara explica que o anfitrião não precisa se sentir constrangido em pedir que o convidado leve algo ou chame atenção para as tarefas da casa. “Não tem mais tantas formalidades. Com gentileza você pode, sim, falar o que incomoda”.
No caso da relações públicas Mariana Maranha, de 22 anos, os atritos começam na divisão de tarefas (ou a falta dela). Ela e a mãe costumam receber de três a quatro primas em seu apartamento, na praia de Caiobá. O imóvel é pequeno – os 60 m² são divididos em dois quartos, um banheiro, uma sala e uma cozinha – e, por isso, qualquer toalha ou biquíni fora de lugar são suficientes para bagunçar o ambiente.
“Às vezes acaba em briga, mas a gente fala mesmo, especialmente por ser família”, conta Mariana. Segundo ela, basta que as primas comecem a “se folgar” para que sua mãe imponha as tarefas. “Depois da bronca rola aquele sustinho, mas ninguém fica emburrado por muito tempo. Todo mundo está ali para aproveitar o verão”.

Tolerância sim, folga nunca

O assistente comercial Douglas Moreira, 27, também não se acanha na hora de botar os pingos nos is da colaboração. Para ele, que mora no litoral de Santa Catarina, a maior falta que um hóspede pode cometer é não respeitar seu espaço. Abrir os armários e tomar conta das prateleiras sem pedir, por exemplo, é uma das coisas que o tiram do sério. “É claro que tem que ter um pouco de tolerância, mas à medida que os dias vão passando você espera que a pessoa mostre bom senso”.
Mas importante mesmo é não deixar que pequenos desentendimentos afetem a relação entre hóspedes e anfitriões. Para Mariana, os bons momentos sempre compensam. “Não tem por que ter apartamento na praia se não for para ter visita”, diz ela.

Douglas concorda e garante que mantém as portas abertas para novas estadas. Mas não sem antes cantar a regra: “se quiser venha, mas vai ter que ajudar”.

O que é obrigatório na convivência

Silmara Adad, do Centro Europeu, ensina alguns bons modos que nunca devem ser abandonados pelos hóspedes, seja na casa de praia ou em outra estadia:
Contribua: nunca chegue de “mãos abanando”, mesmo que o anfitrião diga que não precisa de nada; leve água, suco ou algum outro item básico, mas leve. Ao longo dos dias, ajude comprando o pão do café da manhã ou um bolinho para o lanche da tarde.
De olho na cozinha e no banheiro: segundo Silmara, estes são os cômodos que mais requerem atenção quando a casa está cheia. Na cozinha, nunca deixe louça acumulada e se disponha a tirar e a arrumar a mesa; no banheiro, mantenha o chão do banheiro livre de fios de cabelo e/ou barba.
Foi convidado para passar uns dias na praia? Seu cachorro talvez não: antes de levar o pet com você, é necessário perguntar se ele pode ir junto. Se o anfitrião não for muito afeiçoado a animais, pode sentir-se incomodado durante toda a estada.
Vai levar crianças? O cuidado para não atrapalhar deve ser redobrado. Lembre-se que os filhos são seus, não do anfitrião, por isso cabe a você educá-los e garantir que se comportarão bem.
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