Comportamento

Roberta Braga, especial para a Gazeta do Povo

Caso MC Melody abre debate para exposição de filhos e hipersexualização nas redes sociais

Roberta Braga, especial para a Gazeta do Povo
18/01/2019 16:02
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Foto: Reprodução/ Instagram

Uma polêmica envolvendo Gabriella Abreu Severino, a MC Melody, de 11 anos, trouxe um debate bastante atual: qual o limite da exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais? E quando isso deixa de ser algo saudável e passa a representar um perigo? Outro ponto a ser discutido é o perigo da hipersexualização de crianças e o papel da família nesse cenário.
O debate ficou mais forte na última quarta-feira, quando o youtuber Felipe Neto declarou que a menina estava banida de seu canal e acusou o pai de ser o responsável pelo forte apelo sexual dos trabalhos da cantora. O pai de Melody, por outro lado, alegou que não via excessos nas imagens e a discussão tomou conta das redes sociais.
Galera, infelizmente a Melody está banida do meu canal.
Havia informado ao seu pai q não faria mais react enquanto ela fosse sensualizada. Ele me prometeu q ia mudar, mas só piorou. E piorou muito.
Ela tem 11 anos. ONZE. E eu tive q censurar uma foto p/ poder exibir. pic.twitter.com/dagN3wZCpU
— Felipe Neto (@felipeneto) January 16, 2019
Camila Machuca, que é psicóloga clínica infantil, é enfática: a função de proteger a criança – que não tem competência psicológica e maturidade para compreender os riscos de determinados comportamentos – é dos pais. “Hoje vemos que as crianças são bombardeadas com excesso de conteúdo pelas diferentes mídias, o que acaba estimulando a aceleração de etapas de desenvolvimento em diversos aspectos, um deles é a questão da sexualidade”, aponta.
Por isso, é importante que a família monitore a que tipo de conteúdo seus filhos estão tendo acesso, pois isso influencia diretamente o entendimento dessa criança do que é um comportamento aceitável e esperado dela. “Vendo as fotos da Melody, por exemplo, ela aparenta ser bem mais velha, enquanto, na verdade, ainda é uma criança. Então, outras meninas que a acompanham podem entender que precisam estar sempre muito maquiadas como ela ou fazendo poses que podem ter um viés mais sensualizado para serem aceitas”, diz.
Adriana Franco Amaral, psicóloga e colaboradora da Comissão de Comunicação do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, explica que expor os filhos a conteúdos adultos pode acabar gerando, inclusive, alterações na parte fisiológica, como, por exemplo, a menstruação precoce. “No caso da Melody ela convive desde pequena em um ambiente que não é adequado para crianças, e ela apenas reproduz o que aprendeu. Com apenas 11 anos ela é colocada em um papel de mulher e exposta a comentários inapropriados, feitos por homens adultos.”

Hipersexualização, excesso de exposição e autoestima: qual o limite?

Camila Machuca explica que é preciso que os pais saibam diferenciam o autocuidado, o excesso de exposição e a hipersexualização. A profissional frisa que essa discussão, que está diretamente ligada à autoestima, precisa fazer parte das conversas em família, com os responsáveis aproveitando para ressaltar a importância de outros aspectos da personalidade que vão além beleza e do corpo. Além disso, cabe aos pais observar excessos nas postagem dos filhos”, orienta.
Além do prejuízo psicológico para as crianças, é preciso levar em conta também o risco de pedofilia a que podem estar sendo expostas. “Uma menina que coloque em suas redes sociais uma foto um pouco mais ousada pode acabar despertando a atenção de adultos mal-intencionados”, alerta a especialista, que também recomenda: “acompanhar o que os filhos assistem, as séries que ele gosta e os perfis que ele segue é essencial para que os pais possam orientá-los, ajudando-as a formar e segmentar seus valores”, diz Camila.
Em relação às redes sociais, a recomendação de Camila é: quanto mais tarde as crianças entrarem, melhor. “Os pais não devem incentivar que os filhos usem nas redes precocemente. E, quando começarem a usar, a família precisa ter certeza que o perfil é privado e que as fotos não comprometem a segurança como, por exemplo, indicando onde moram ou estudam”, diz.
Esse monitoramento, explica Adriana, deve ser acompanhado pela conversa. “Não adianta apenas proibir sem instruir, porque se a criança quiser ter acesso ela irá conseguir uma forma. É  preciso ter um diálogo aberto com os filhos”.
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