Comportamento
Bruna Covacci
Eles provam que o amor eterno existe
Adolpho Brandão, 87 anos, e Edna Brandão, 76 anos: casados há 58 anos e o mesmo brilho no olhar do primeiro encontro.
E eles viveram felizes para sempre… Nenhuma outra frase poderia abrir esta matéria. Afinal, os personagens que ilustram a reportagem provam que é possível, sim, viver um amor eterno. Mas nada de contos de fadas. São histórias reais de casais que encontraram um jeito próprio para construir uma linda vida a dois em meio a muito perrengue, rotina e dificuldades. Paciência, carinho e abnegação são ingredientes essenciais à fórmula que cada um deles encontrou ao longo de 30, 40 e 50 anos de casamento.
Impossível não se emocionar quando o militar da reserva Adolpho Duarte Brandão, 87 anos, afirma que todos os dias são uma confirmação de que ele encontrou a mulher da sua vida, a dona de Edna Nery Leal Brandão, 76 anos. “É o tipo de coisa que tinha que ser. Valeu a pena esperar, eu tinha 29 anos quando casei e minha família já estava me cobrando, os jovens costumavam casar mais cedo”, recorda ele.
Os dois, que celebraram bodas há 58 anos, se conheceram num almoço de arrecadação de fundos para a igreja. “No dia da feijoada eu não queria ir de jeito nenhum, chovia e eu não estava muito bem”, lembra Edna. Com muita insistência de um irmão, resolveu ir. Foi assim que ela e Adolpho foram apresentados. No mesmo dia, a turma toda de jovens emendou o almoço com um cineminha: Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, estava em cartaz. “Ele sentou ao meu lado, ficou com aquele papo… Achei interessante”, brinca. No outro dia, Adolpho convidou Edna para passear no parque e tudo começou.
Mais tarde, num passeio no Parque Municipal Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, ele perguntou: “por que eu não fico noivo?”. O casamento rendeu frutos: são seis filhos, oito netos e dois bisnetos. “Nossa vida é muito divertida. Eu posso estar azeda que ele vem com uma conversinha mole e tudo fica bem”, diz Edna. Os dois admitem ter crises, sim, mas, para eles, as divergências os tornam mais resilientes e permitem tirar acertos dos erros. “O orgulho precisa ficar de lado. Nunca fomos dormir zangados um com o outro”, finaliza Edna.
Desde sempre
Com 53 anos de casados, o amor de Adilete Maria Cooper Piegel, 72 anos, e Augusto Piegel, 75 anos, começou quando os dois nem pensavam em namorar. “Éramos crianças, nem tínhamos idade para essas coisas, mas eu estava de olho nela!”, conta Augusto. A proximidade entre o pai de Adilete e um tio de Augusto fazia com que os dois participassem das mesmas reuniões familiares.
Na adolescência, a paquera continuou. “Os pais dela tinham uma mercearia, a ‘Casa Tide’. Eu fazia entrega de pães na loja. Foi assim que começaram as conversinhas e a troca de olhares”, relembra. A estratégia de Augusto consistia em voltar à mercearia aos sábados para comprar manteiga. Só que o lugar era distante e a fila, grande. Sem problemas. Encontrar com Adilete justificava todo o esforço.
Quando ela completou 18 anos, Augusto resolveu pedi-la em casamento. E a jovem aceitou. “Um ano depois já estávamos casados”, conta a empresária, que sempre achou o marido bonitão e charmoso. “Eu o conheço pela voz, até mesmo pelo telefone”, diz. Para ela, o casamento deu certo porque os dois sentem muito amor, são pacientes e honestos um com o outro: “ele me respeita muito”. O casal praticamente passa o dia todo junto, pois comanda o negócio da família. “Sábados e domingos são para nós dois. A gente sai almoçar sem os filhos, os netos e os bisnetos. Nós passamos pelo Santuário de Schoenstatt e nos curtimos. É isso que nos dá força”, finaliza.
Evolução
O romance do médico Jackson Miguel Baduy, 66 anos, e da dona de casa Ana Maria Baduy, 61 anos, começou de forma despretensiosa. Casados há 39 anos, os dois se conheceram em Guaratuba, no litoral paranaense. “Eu desci com alguns amigos e cruzamos com três meninas. Uma delas era a Ana. Logo de cara o seu sorriso, espontaneidade e simpatia chamaram a minha atenção”, conta ele.
O namoro ainda não tinha nem engrenado quando veio a bomba: “preciso te contar uma coisa. Eu menti”, disse Jackson. “Eu imaginava o pior, que ele era casado e tinha filhos”, salienta Ana. Não era tanto, mas quase: quando os dois se conheceram, Jackson disse ser um estudante paulista fazendo cursinho. Era, na verdade, médico formado havia dois anos, curitibano e… com namorada. Jackson, então, rompeu o outro relacionamento e, 11 meses depois, estava casado com Ana Maria.
Para Jacskon, o casamento é um exercício diário, mantê-lo não é nada fácil. “A Ana foi uma namorada espetacular, uma mãe incrível e é uma eterna companheira”, diz. O médico lembra que a esposa esteve ao seu lado em todos os momentos e que o relacionamento amadureceu ao longo dos anos. Para a dona de casa, a vida a dois a permitiu realizar muitos sonhos. Com os filhos crescidos, aproveitam para jantar a dois e dançar sempre que possível.
Comunicação
Depois da necessidade de convivência – casa, comida, educação e proteção; a segunda necessidade do ser humano é a de amar e ser correspondido. “Mas poucos, pouquíssimos, relacionamentos vão permanecer felizes para sempre sem nenhum esforço”, afirma a psicóloga especialista em relacionamentos Maria Rafart.
Para dar certo de verdade, é preciso querer e correr atrás. “Muitas histórias começam sem grandes problemas e, geralmente, não estão fadadas ao fracasso. Todos podem ser felizes para sempre se ambos os parceiros estiverem dispostos a fazer o trabalho”, completa. Para ela, a primeira coisa a ser feita para se viver um relacionamento saudável é ter paciência para compreender alguns acontecimentos. “Vão existir desgastes, mas o casal não precisa romper por conta de uma problemática”, explica.
Maria Rafart afirma, ainda, que é importante ter em mente que não existe alguém que lhe faça feliz, é preciso pensar que você também pode fazer o seu companheiro feliz e que, juntos, vocês serão felizes. Por isso, fazer uma surpresa, compreender e ceder quando preciso são comportamentos indicados para quem quer ter um relacionamento duradouro. É essencial sair da esfera individual para se colocar na ‘conjugalidade’”, orienta.
A consultora de relacionamentos Tayana Passos lembra que o respeito é essencial para um casal. “Na maior parte dos casos não é suficiente querer estar junto com a outra pessoa. É preciso abrir mão de certas coisas para ganhar outras”, diz. A comunicação assertiva ainda permite que os parceiros sejam claros e digam um ao outro exatamente o que desejam ao invés de esperar ou idealizar que ele faça ou adivinhe o que não foi dito. “Em épocas de crise é importante que cada um avalie o que pode fazer para minimizar o problema, o que pode abrir mão, e, ainda, o que pode fazer para agradar o parceiro”.
INSPIRE-SE
Confira as outras fotos dos casais que são personagens desta matéria: