Comportamento

Bruna Covacci

Eles provam que o amor eterno existe

Bruna Covacci
08/01/2016 22:00
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Adolpho Brandão, 87 anos, e Edna Brandão, 76 anos: casados há 58 anos e o mesmo brilho no olhar do primeiro encontro.

E eles viveram felizes para sempre… Nenhuma outra frase poderia abrir esta matéria. Afinal, os personagens que ilustram a reportagem provam que é possível, sim, viver um amor eterno. Mas nada de contos de fadas. São histórias reais de casais que encontraram um jeito próprio para construir uma linda vida a dois em meio a muito perrengue, rotina e dificuldades. Paciência, carinho e abnegação são ingredientes essenciais à fórmula que cada um deles encontrou ao longo de 30, 40 e 50 anos de casamento.
Impossível não se emocionar quando o militar da reserva Adolpho Duarte Brandão, 87 anos, afirma que todos os dias são uma confirmação de que ele encontrou a mulher da sua vida, a dona de Edna Nery Leal Brandão, 76 anos. “É o tipo de coisa que tinha que ser. Valeu a pena esperar, eu tinha 29 anos quando casei e minha família já estava me cobrando, os jovens costumavam casar mais cedo”, recorda ele.
Adolpho Brandão, 87 anos, e Edna Brandão, 76 anos, com a foto do dia que ele a pediu em casamento.
Adolpho Brandão, 87 anos, e Edna Brandão, 76 anos, com a foto do dia que ele a pediu em casamento.
Os dois, que celebraram bodas há 58 anos, se conheceram num almoço de arrecadação de fundos para a igreja. “No dia da feijoada eu não queria ir de jeito nenhum, chovia e eu não estava muito bem”, lembra Edna. Com muita insistência de um irmão, resolveu ir. Foi assim que ela e Adolpho foram apresentados. No mesmo dia, a turma toda de jovens emendou o almoço com um cineminha: Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, estava em cartaz. “Ele sentou ao meu lado, ficou com aquele papo… Achei interessante”, brinca. No outro dia, Adolpho convidou Edna para passear no parque e tudo começou.
Mais tarde, num passeio no Parque Municipal Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, ele perguntou: “por que eu não fico noivo?”. O casamento rendeu frutos: são seis filhos, oito netos e dois bisnetos. “Nossa vida é muito divertida. Eu posso estar azeda que ele vem com uma conversinha mole e tudo fica bem”, diz Edna. Os dois admitem ter crises, sim, mas, para eles, as divergências os tornam mais resilientes e permitem tirar acertos dos erros. “O orgulho precisa ficar de lado. Nunca fomos dormir zangados um com o outro”, finaliza Edna.
Desde sempre
Com 53 anos de casados, o amor de Adilete Maria Cooper Piegel, 72 anos, e Augusto Piegel, 75 anos, começou quando os dois nem pensavam em namorar. “Éramos crianças, nem tínhamos idade para essas coisas, mas eu estava de olho nela!”, conta Augusto. A proximidade entre o pai de Adilete e um tio de Augusto fazia com que os dois participassem das mesmas reuniões familiares.
Augusto Piegel, 75 anos, e Adilete Maria Cooper Piegel, 72 anos: 53 anos de muito amor.
Augusto Piegel, 75 anos, e Adilete Maria Cooper Piegel, 72 anos: 53 anos de muito amor.
Na adolescência, a paquera continuou. “Os pais dela tinham uma mercearia, a ‘Casa Tide’. Eu fazia entrega de pães na loja. Foi assim que começaram as conversinhas e a troca de olhares”, relembra. A estratégia de Augusto consistia em voltar à mercearia aos sábados para comprar manteiga. Só que o lugar era distante e a fila, grande. Sem problemas. Encontrar com Adilete justificava todo o esforço.
Quando ela completou 18 anos, Augusto resolveu pedi-la em casamento. E a jovem aceitou. “Um ano depois já estávamos casados”, conta a empresária, que sempre achou o marido bonitão e charmoso. “Eu o conheço pela voz, até mesmo pelo telefone”, diz. Para ela, o casamento deu certo porque os dois sentem muito amor, são pacientes e honestos um com o outro: “ele me respeita muito”. O casal praticamente passa o dia todo junto, pois comanda o negócio da família. “Sábados e domingos são para nós dois. A gente sai almoçar sem os filhos, os netos e os bisnetos. Nós passamos pelo Santuário de Schoenstatt e nos curtimos. É isso que nos dá força”, finaliza.
Evolução
O romance do médico Jackson Miguel Baduy, 66 anos, e da dona de casa Ana Maria Baduy, 61 anos, começou de forma despretensiosa. Casados há 39 anos, os dois se conheceram em Guaratuba, no litoral paranaense. “Eu desci com alguns amigos e cruzamos com três meninas. Uma delas era a Ana. Logo de cara o seu sorriso, espontaneidade e simpatia chamaram a minha atenção”, conta ele.
Jackson Baduy, 66 anos, e Ana Maria Baduy, 61 anos: 39 realizando sonhos juntos.
Jackson Baduy, 66 anos, e Ana Maria Baduy, 61 anos: 39 realizando sonhos juntos.
O namoro ainda não tinha nem engrenado quando veio a bomba: “preciso te contar uma coisa. Eu menti”, disse Jackson. “Eu imaginava o pior, que ele era casado e tinha filhos”, salienta Ana. Não era tanto, mas quase: quando os dois se conheceram, Jackson disse ser um estudante paulista fazendo cursinho. Era, na verdade, médico formado havia dois anos, curitibano e… com namorada. Jackson, então, rompeu o outro relacionamento e, 11 meses depois, estava casado com Ana Maria.
Para Jacskon, o casamento é um exercício diário, mantê-lo não é nada fácil. “A Ana foi uma namorada espetacular, uma mãe incrível e é uma eterna companheira”, diz. O médico lembra que a esposa esteve ao seu lado em todos os momentos e que o relacionamento amadureceu ao longo dos anos. Para a dona de casa, a vida a dois a permitiu realizar muitos sonhos. Com os filhos crescidos, aproveitam para jantar a dois e dançar sempre que possível.
Comunicação
Depois da necessidade de convivência – casa, comida, educação e proteção; a segunda necessidade do ser humano é a de amar e ser correspondido. “Mas poucos, pouquíssimos, relacionamentos vão permanecer felizes para sempre sem nenhum esforço”, afirma a psicóloga especialista em relacionamentos Maria Rafart.
Para dar certo de verdade, é preciso querer e correr atrás. “Muitas histórias começam sem grandes problemas e, geralmente, não estão fadadas ao fracasso. Todos podem ser felizes para sempre se ambos os parceiros estiverem dispostos a fazer o trabalho”, completa. Para ela, a primeira coisa a ser feita para se viver um relacionamento saudável é ter paciência para compreender alguns acontecimentos. “Vão existir desgastes, mas o casal não precisa romper por conta de uma problemática”, explica.
Maria Rafart afirma, ainda, que é importante ter em mente que não existe alguém que lhe faça feliz, é preciso pensar que você também pode fazer o seu companheiro feliz e que, juntos, vocês serão felizes. Por isso, fazer uma surpresa, compreender e ceder quando preciso são comportamentos indicados para quem quer ter um relacionamento duradouro. É essencial sair da esfera individual para se colocar na ‘conjugalidade’”, orienta.
A consultora de relacionamentos Tayana Passos lembra que o respeito é essencial para um casal. “Na maior parte dos casos não é suficiente querer estar junto com a outra pessoa. É preciso abrir mão de certas coisas para ganhar outras”, diz. A comunicação assertiva ainda permite que os parceiros sejam claros e digam um ao outro exatamente o que desejam ao invés de esperar ou idealizar que ele faça ou adivinhe o que não foi dito. “Em épocas de crise é importante que cada um avalie o que pode fazer para minimizar o problema, o que pode abrir mão, e, ainda, o que pode fazer para agradar o parceiro”.
INSPIRE-SE
Confira as outras fotos dos casais que são personagens desta matéria: